sexta-feira, 30 de junho de 2023
Frei Betto - Teólogo, jornalista e escritor. Programa número 15 Reconversa Reinaldo Azevedo
quinta-feira, 29 de junho de 2023
Expansão e crise social na república romana
A expansão romana (Roma parte 02)
Durante a república, os romanos levaram adiante um projeto de expansão territorial por toda a Península Itálica. Por meio da violência ou de acordos políticos, eles conseguiram dominar os diferentes povos que habitavam a região.
As guerras travadas com os povos vizinhos garantiram aos romanos terras para a agricultura, o controle de rotas comerciais, soldados para o exército e novas fontes de renda, pois os territórios conquistados eram obrigados a pagar tributos.
À medida que os plebeus enriquecidos ou membros das elites conquistadas pelos romanos conseguiam participar do Senado e chegar ao Consulado, eles eram admitidos na nobilitas, o conjunto de famílias nobres (patrícias e plebeias) que dominavam a política romana. Surgia, assim, uma nova aristocracia romana, reunindo as antigas famílias patrícias e os novos ricos, nascidos em Roma ou vindos de outras regiões da Itália.
A conquista do Mediterrâneo
No século III a.C., Roma era o centro de uma poderosa confederação de povos e cidades itálicas e gregas. Mas o contínuo avanço dos romanos em direção ao sul da Península Itálica esbarrou em um adversário muito poderoso, a cidade de Cartago, situada no norte da África.
Cartago foi fundada pelos fenícios no século IX a.C. perto de onde está hoje a cidade de Túnis, capital da Tunísia. Logo se tornou uma potência comercial marítima, fundando colônias nas ilhas de Sardenha, Sicília e Córsega, na Península Ibérica e na costa africana do Mediterrâneo.
A disputa pelas rotas comerciais no Mediterrâneo levou Roma e Cartago à guerra. Os cartagineses eram chamados de puni pelos romanos. Por isso, as longas batalhas pelo domínio de Cartago e suas colônias receberam o nome de Guerras Púnicas. As batalhas tiveram início em 264 a.C. e chegaram ao fim apenas em 146 a.C., quando os romanos conquistaram Cartago e a transformaram em província de Roma.
No mesmo período das guerras contra Cartago, os exércitos romanos avançaram em direção ao Mediterrâneo Oriental e dominaram o Egito, a Síria, a Macedônia, a Grécia, a Ásia Menor e a Judeia. No século I a.C., Roma já controlava a maior parte das terras que circundavam o Mar Mediterrâneo.
As conquistas de Roma (201-31 a.C.)
Mudanças geradas pela expansão romana
A expansão territorial transformou profundamente a cidade de Roma. Os espólios de guerra e os tributos pagos pelos povos vencidos enriqueceram a cidade, que erguia novas construções, como templos e aquedutos, e recebia cada vez mais pessoas e produtos de todos os municípios e províncias.
As conquistas possibilitaram ainda a formação de um novo grupo social: os cavaleiros. Eram plebeus afortunados que enriqueceram com a cobrança de impostos e a exploração econômica das áreas conquistadas. Quando uma cadeira no Senado vagava, era preenchida por um cavaleiro, que se tornava um “homem novo”. O conflito entre cavaleiros e patrícios pelo controle do Senado marcou os dois últimos séculos da república.
A obtenção de terras e de escravos, capturados entre os povos conquistados, levou ao surgimento de grandes propriedades escravistas, que produziam principalmente vinho e azeite. As pequenas propriedades camponesas, contudo, continuaram produzindo cereais e outros alimentos de subsistência.
A maior parte dos prisioneiros de guerra escravizados, no entanto, se concentrou nas cidades romanas, onde trabalhavam nas tarefas domésticas, em oficinas como artesãos ou lutavam nas arenas como gladiadores. Alguns escravos mantinham negócios próprios, pagando uma renda ao seu senhor. Outros, por serem mais letrados, eram recrutados para atuar como professores de crianças romanas.
Os escravos podiam ser vendidos, alugados e até mesmo mortos pelos próprios donos. No entanto, também podiam acumular riquezas e comprar sua liberdade. Quando libertos, permaneciam ligados aos antigos donos, recebendo proteção em troca de certas obrigações. Além disso, diferentemente do que acontecia na Grécia, em Roma os libertos podiam se tornar cidadãos.
Rebeliões escravas
Como fizeram os plebeus no início da república, os escravos também promoveram várias revoltas no mundo romano. As primeiras ocorreram na Sicília, entre 136 a.C. e 132 a.C., e foram violentamente reprimidas. Novas revoltas eclodiram na pequena ilha entre 104 a.C. e 101 a.C. Nesse período, milhares de escravos organizaram exércitos para lutar contra as forças romanas, além de formar pequenas comunidades de escravos fugidos para preparar a resistência.
A mais famosa das revoltas escravas ocorreu em 73 a.C., em Cápua, no sul da Península Itálica. Segundo relatos da época, a revolta foi liderada por Espártaco, um escravo gladiador. Os gladiadores podiam ser escravos, prisioneiros de guerra condenados à morte ou criminosos. Eles lutavam nas arenas romanas, entre si ou com animais, por vezes até a morte. A grande habilidade de alguns gladiadores fazia com que se tornassem ídolos na sociedade romana: seus nomes eram escritos nos muros das cidades, e poemas eram feitos em sua homenagem. Os gladiadores tinham, portanto, um enorme prestígio social.
A princípio, apenas gladiadores participaram da rebelião liderada por Espártaco. Porém, aos poucos, o movimento ganhou a adesão de outros escravos, além de plebeus pobres e desempregados. Após mais de dois anos de combates, os rebeldes foram vencidos pelas forças romanas. Espártaco foi morto, e os cerca de 6 mil sobreviventes foram crucificados. Apesar da derrota, a revolta destacou-se pela duração e pelo número de pessoas que conseguiu mobilizar.
Dica de filme para assistir dentro do contexto histórico estudado:
Nome do filme: Spartacus
Direção: Stanley Kubrick
País: Estados Unidos
Ano: 1960
Duração: 184 min
O filme é uma narrativa ficcional criada a partir de relatos de historiadores gregos e romanos sobre a revolta de escravos liderada por Espártaco.
Depois de treinar em uma escola de gladiadores, Espártaco lidera uma fuga que logo se transforma em uma rebelião, mobilizando grande número de pessoas contra o governo romano.
A crise social romana
As conquistas territoriais possibilitaram o acúmulo de muitas riquezas em Roma, mas também resultaram no aumento do número de pobres. Como a oferta de escravos era grande nas cidades romanas e nas propriedades agrícolas da Península Itálica e da Sicília, o número de plebeus desempregados cresceu. Nas cidades, um ambiente caótico de criminalidade, fome e doenças revelava a outra face da prosperidade romana.
Somente os patrícios e alguns plebeus enriqueceram com a expansão territorial romana. Os dois grupos tinham acesso às terras conquistadas (ager publicus) e controlavam os tributos cobrados nas novas áreas. Assim, a concentração de terras pela aristocracia ganhou grande impulso.
Os pequenos agricultores, ao contrário, ficavam cada vez mais pobres, pois, ao retornar das guerras de conquista, encontravam suas propriedades ocupadas. Dessa forma, muitos camponeses se deslocavam para as cidades à procura de trabalho. Mas, como vimos, eles acabavam desempregados devido à grande oferta de mão de obra escrava.
Assim, a república romana, apesar de ter conquistado glória, foi incapaz de resolver os problemas sociais que atingiam as camadas mais pobres e os grupos em ascensão, como mostra o texto a seguir.
“Na república, era o pequeno proprietário de terra quem fornecia os soldados para o exército […]; a legião era composta pelo cidadão romano, de condição livre, o mesmo que participava das assembleias que elegiam os magistrados e votavam leis.
À medida que ocorreu a proletarização desta camada de cidadãos, tornou-se mais difícil recrutar as legiões, pois havia um requisito censitário mínimo, que não era mais atingido pelos cidadãos empobrecidos com as contínuas guerras.
Situação paradoxal: o Estado romano nunca fora tão rico; o êxito das guerras vitoriosas proporcionava um impressionante afluxo de riquezas e escravos provenientes do butim. O Senado romano controlava o Mediterrâneo […]. Apesar disso, um número crescente de cidadãos sem terras se acumulava nas cidades, sobretudo em Roma, vivendo em condições precárias. O conflito social na fase final da república centrou-se na questão agrária, que afligia principalmente a plebe rural.”
CORASSIN, Maria Luiza. A stásis: o conflito na república romana. Hypnos, ano 7, n. 9, 2o sem. 2002, São Paulo. p. 77.
Explore e reflita
01 - A charge aborda um problema brasileiro da atualidade. Que problema é esse?
02 - De que maneira a charge pode ser relacionada à crise da república romana?
As reformas dos irmãos Graco
Diante desse cenário de crise, Tibério Graco, eleito tribuno da plebe em 133 a.C., propôs várias mudanças. Uma delas estabelecia uma ampla reforma agrária, que limitava o tamanho das propriedades rurais e distribuía terras aos camponeses pobres que lutavam nas guerras. Apesar de aprovada pelo Senado, a proposta teve forte resistência das elites. Assim, em uma rebelião liderada pelos patrícios, Tibério foi assassinado.
Dez anos depois, as ideias de Tibério sobre a reforma agrária foram retomadas por seu irmão, Caio Graco, eleito tribuno da plebe. Além de defender a distribuição de terras para a população pobre, Caio Graco propôs estender a cidadania romana aos povos aliados da Península Itálica. A resistência às propostas de Caio Graco foi geral. Temendo ser assassinado por seus inimigos, ele determinou que um escravo o matasse.
No final do século I a.C., o mundo romano mergulhou em uma profunda crise social, que contribuiu para o fim da república.
segunda-feira, 26 de junho de 2023
Roma: da monarquia à república
Roma: da monarquia à república (Roma parte 01)
Antes de iniciarmos o estudo, clique no link abaixo e veja o vídeo.
https://youtu.be/SfoAgpJwF5g?si=KLVKIbtRYslwm0Sj
As origens de Roma
1ª explicação - Fundação devido as ondas migratórias (povos itálicos).
2ª explicação - Lenda da fundação de Rômulo e Remo.
As ondas migratórias que fundaram Roma
Na mesma época em que os gregos colonizavam terras na costa do Mediterrâneo e do Mar Negro, povos latinos fundavam, na Península Itálica, a cidade de Roma.
> Povos itálicos = Latinos (se fixaram no centro), samnitas (fixação no sul da Península Itálica), sabinos (centro norte) entre outros.
Os grupos de origem indo-européia teriam chegado à Itália por volta de 2200 a.C., tendo os povos denominados itálicos ou italiotas ocupado o centro-sul da península, e os séculos, a Sicília. Os dois principais subgrupos dos itálicos eram os samnitas e os latinos.
O povoamento da Península Itálica resultou de várias ondas migratórias. A principal delas foi a dos povos itálicos, que começaram a entrar no território por volta de 2200 a.C. Entre esses povos se destacavam os latinos, que se fixaram no centro da península, e os samnitas, que se estabeleceram mais ao sul.
Outro povo que se fixou na península foram os etruscos. De origem incerta, eles se estabeleceram ao norte do Rio Tibre, onde desenvolveram o comércio marítimo, a pirataria, a agricultura, a criação de rebanhos e o artesanato. Por volta do século VII a.C., os etruscos já formavam uma confederação de cidades-Estado e mantinham intensos contatos comerciais com os fenícios e os gregos.
Os gregos (helenos) também fundaram importantes colônias no sul da Península Itálica e na Sicília, onde viviam cartagineses e diferentes povos itálicos. Os helenos só não conseguiram avançar para o norte porque foram barrados por cartagineses e etruscos.
Muitos mitos envolvem a fundação de Roma. Segundo a tradição, a cidade teria sido fundada em 753 a.C. Vestígios arqueológicos indicam que, de fato, por volta do século VIII a.C., formou-se uma comunidade naquela área. Ela era composta de várias aldeias latinas, unidas provavelmente para se defenderem dos sabinos, outro povo itálico que vivia na região.
Antigos povos da Península Itálica
Fonte: KINDER, Hermann; HERGT, Manfred; HILGEMANN, Werner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a nuestros días. 22. ed. Madri: Akal, 2007. p. 74.
Clique no link abaixo e veja o vídeo sobre os etruscos.
https://youtu.be/iui_27sIIZg?si=Xpqhj5sRMHtBRCZR
A origem lendária de Roma
Lenda de Rômulo e Remo
A mais conhecida lenda sobre a origem de Roma narra a trajetória dos gêmeos Rômulo e Remo, filhos do deus Marte e da humana Reia Sílvia (filha do rei da cidade de Alba Longa).
deus Marte e da humana Reia Sílvia (filha do rei da cidade de Alba Longa).
Conta-se que Reia foi obrigada a jogar seus filhos nas águas do Rio Tibre após seu pai ser destronado pelo tio. Os gêmeos foram encontrados por uma loba, que os amamentou até serem acolhidos por um casal de pastores.
Os gêmeos foram encontrados por uma loba, que os amamentou até serem acolhidos por um casal de pastores.
Quando se tornaram adultos, os gêmeos se vingaram do tio, tomaram de volta o trono e fundaram uma nova cidade: Roma. Na disputa para decidir quem seria o primeiro rei de Roma, Rômulo matou o próprio irmão.
Para decidir quem seria o primeiro rei de Roma, Rômulo matou Remo.
A periodização da História de Roma na antiguidade
1º período: Monarquia romana (753-509 a.C.)
2º período: República romana (509-27 a.C.)
3º período: Império romano (27 a.C. - 476 d.C.)
A monarquia romana (753-509 a.C.)
A história antiga de Roma geralmente é dividida em três períodos, que correspondem aos regimes políticos adotados entre a fundação da cidade e a queda do último imperador romano: monarquia, república e império.
Desde a sua fundação, ao longo do período monárquico, Roma foi governada por reis, que eram escolhidos pelo Senado, um conselho formado pelos chefes das famílias aristocráticas romanas. Os reis podiam declarar guerras, administrar a justiça e presidir rituais religiosos. Apesar disso, deviam ouvir a opinião do Senado e dependiam das assembleias para garantir seu poder.
Durante a monarquia, Roma cresceu rapidamente. Esse crescimento se acelerou no século VII a.C., quando os etruscos se espalharam pela Planície do Lácio e expandiram a atividade comercial na região. Com isso, Roma urbanizou-se e tornou-se o centro do domínio etrusco na região do Lácio.
Cronologia da história política romana
Periodização da história da Roma Antiga
Estrutura social na Roma antiga
A sociedade romana do período monárquico dividia-se basicamente nos seguintes grupos.
Patrícios. De patres, que significa pais. Pertenciam às famílias que se consideravam descendentes dos fundadores de Roma. Eram muito ricos e possuíam gado e terras. Formavam a aristocracia da cidade.
Plebeus. De plebs, que significa multidão. Eles trabalhavam no comércio, no artesanato, na agricultura e na criação de rebanhos e eram obrigados a servir no exército. Até o início da república, não podiam participar da vida política, mesmo quando enriqueciam.
Clientes. Podiam ser tanto plebeus quanto patrícios. Os membros desse grupo pertenciam a famílias que juravam fidelidade ao chefe de outra família, o chamado patrono, que em geral era um patrício. Para o patrício, quanto maior o número de clientes sob sua proteção, maior era o seu prestígio social e político.
Também havia em Roma nesse período um pequeno número de escravos. Ao contrário dos plebeus, eles não eram livres até conseguir quitar sua dívida com um credor.
A república romana (509-27 a.C.)
No final do século VI a.C., o domínio etrusco chegou ao fim. O mais provável é que os reis etruscos tenham perdido o apoio da aristocracia romana e se enfraquecido com a oposição dos plebeus. Com o fim da monarquia, em 509 a.C., o governo de Roma passou a ser uma res publica, que em latim significa “coisa pública”. Porém, essa “coisa pública” tinha um sentido diferente daquele que usamos atualmente.
Na nossa sociedade, um bem público é aquele que pertence a uma coletividade. Um parque público, por exemplo, pode ser utilizado por todas as pessoas. Na república romana, no entanto, “coisa pública” significava que o Estado deixava de pertencer ao rei para ser administrado pelos cidadãos, que no início eram apenas os patrícios.
Nova ordem política
No período republicano, os antigos reis foram substituídos por dois cônsules. Eles eram escolhidos pelos patrícios no Senado e auxiliados por magistrados e pelas assembleias, que estavam divididas da seguinte maneira.
- Assembleia por cúria. Os cidadãos eram divididos pelo local de origem ou de residência.
- Assembleia por centúrias. Divisão dos cidadãos de acordo com a riqueza e a participação no exército.
- Assembleia da plebe. Formada apenas por plebeus. Podiam eleger os magistrados, mas não podiam exercer cargos políticos, direito que era exclusivo dos patrícios.
Os magistrados eram eleitos pelos cidadãos, em geral para um mandato anual (veja o quadro a seguir). O exercício da magistratura não era remunerado, o que significa que apenas os patrícios mais ricos tinham condições de desempenhar essa função.
Principais magistrados romanos | |
---|---|
Cônsules | Comandavam os exércitos em tempos de guerra, além de presidir o Senado e os comícios. |
Pretores | Eram responsáveis pela justiça. |
Edis | Cuidavam dos serviços públicos (abastecimento da cidade, segurança, pavimentação das ruas e organização de jogos públicos). |
Questores | Administravam o tesouro público. |
Censores | Faziam a contagem da população, controlavam a conduta do cidadão e supervisionavam as despesas públicas. |
domingo, 25 de junho de 2023
Crenças religiosas na Grécia antiga
Crenças religiosas na Grécia antiga
Assim como a maior parte dos povos antigos, os gregos eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. Cada um deles estava associado a um aspecto da natureza ou da vida humana. Zeus, por exemplo, comandava os céus, enquanto Afrodite era a deusa da beleza e da fertilidade. Além disso, cada pólis possuía seus deuses protetores. Atenas, por exemplo, era protegida por Atena, deusa da sabedoria, e Esparta, por Ares, deus da guerra.
Nas cidades gregas, o indivíduo não participava dos cultos buscando a salvação da alma, como ocorre nas igrejas cristãs. A religião dos gregos era cívica, fazia parte do exercício da cidadania. O indivíduo participava dos rituais religiosos cumprindo um dever e um direito de cidadão, assim como devia atuar na política e na guerra. Sendo uma religião cívica, os deuses também estavam presentes na vida da cidade, relacionando-se com os humanos e interferindo em seu cotidiano.
Para aconselhar-se com os deuses, os gregos consultavam os oráculos, templos em que havia sacerdotes que tinham o poder de se comunicar com as divindades. O mais famoso oráculo da Grécia ficava na cidade de Delfos e era consultado pelos gregos para a tomada de decisões políticas, o início de uma guerra ou até mesmo para questões pessoais.
Os mitos gregos
Para os gregos antigos, a origem do universo, as relações entre as pessoas, os fenômenos da natureza, o comportamento, as dores e emoções humanas e tudo o mais que faz parte da vida e do mundo tinham sua explicação em eventos ancestrais que envolviam deuses, heróis e outras criaturas, como monstros e entidades fantásticas.
As histórias que narram esses acontecimentos são chamadas de mitos. As narrativas míticas contam como determinada realidade passou a existir; por exemplo, como surgiram o mar, as montanhas e a morte; como o ser humano começou a cultivar a terra ou como surgiram os primeiros governantes.
Os mitos também servem de modelo de conduta para o comportamento humano, ou seja, por meio deles uma sociedade mostra aos seus cidadãos o tipo de conduta que se espera deles. Por exemplo, nas histórias míticas, os personagens transgressores eram punidos, enquanto atitudes consideradas positivas eram valorizadas. Os heróis eram exaltados por sua aparência física, seu porte atlético e suas habilidades em derrotar o inimigo, seja pela força física, seja pela inteligência. Assim, os mitos eram utilizados para ensinar as crianças a se comportar de acordo com o modelo de conduta dos personagens mais sábios, dignos e corajosos.
Além disso, as narrativas míticas eram contadas oralmente e transmitidas de geração a geração. Os responsáveis por contá-las eram os aedos, poetas que iam de cidade em cidade fazer suas apresentações em competições, jogos ou festivais.
A palavra “aedo” vem do grego aoidos, que significa “cantor”, e está relacionada ao fato de os poetas cantarem seus poemas acompanhados de instrumentos musicais e de um ritmo específico ditado pelos metros dos versos. Os aedos compunham suas próprias versões das histórias míticas, acrescentando ou subtraindo elementos da história principal para satisfazer o interesse dos seus ouvintes. Desse modo, um mito podia ter inúmeras versões.
Cópia de escultura grega do período helenístico, de cerca de 200 a.C., representando o herói grego Aquiles ao lado de Tétis, sua mãe. Conta o mito que Tétis, após consultar o oráculo, disse a Aquiles que ele estava diante de dois caminhos. No primeiro, teria uma vida longa e tranquila, morreria velho e sem glória. No segundo, teria uma vida breve, encurtada pela morte em combate, mas sua glória seria reconhecida para sempre. Aquiles, sem hesitar, escolheu partir para a guerra, morrer jovem e conquistar a glória eterna.
A guerra de Troia
O mito mais famoso contado pelos aedos, ao longo de várias gerações, foi o da Guerra de Troia. Ele narra uma guerra entre gregos e troianos, povo que vivia na cidade de Troia, também conhecida como Ílion. É possível que essa guerra mítica tenha sido inspirada em uma guerra real que aconteceu entre os anos de 1300 a.C. e 1200 a.C.
A versão do mito mais conhecida é a de Homero e data de meados do século VIII a.C. Homero teria composto dois poemas sobre a Guerra de Troia: Ilíada (que significa “Poema sobre Ílion”) e Odisseia (poema que narra as aventuras do herói Odisseu). Ambos sobreviveram até os nossos dias, pois alguém, em Atenas, registrou por escrito os dois poemas.
Segundo Homero, Eris (ou Discórdia), deusa dos desentendimentos, deu uma maçã aos deuses do Olimpo para que a entregassem à deusa mais bonita. Três deusas queriam a maçã: Hera, Atena e Afrodite. Zeus, o deus mais poderoso, enviou as deusas para serem julgadas por Páris, o príncipe troiano, filho do rei Príamo. Páris escolheu Afrodite e deu-lhe a maçã da discórdia.
A deusa, em troca, ofereceu a Páris o amor de Helena, a mulher mais bela do mundo. Afrodite ajudou Páris a raptar Helena em Esparta para morar com ele em Troia. O marido de Helena, Menelau, ficou furioso e, com seu irmão Agamenon, rei de Micenas, organizou uma expedição para resgatar a esposa. A guerra estava formada: de um lado os gregos, liderados por Agamenon; do outro, os troianos, comandados por Heitor, irmão de Páris.
O desfecho da Guerra de Troia não é narrado por Homero, mas, sim, por outros autores gregos e romanos. Segundo o mito, os soldados gregos venceram seus inimigos após entrarem na cidade de Troia escondidos em um imenso cavalo de madeira. O plano de oferecer um cavalo de madeira aos troianos como presente à deusa Atena foi ideia do astuto Odisseu. Os troianos aceitaram o presente e o levaram para o interior da cidade. Na madrugada, centenas de soldados saíram do esconderijo e conquistaram Troia.
Cena do filme Troia, dirigido por Wolfgang Petersen, 2004.
Os deuses inspiram a arte
A escultura é, sem dúvida, a mais conhecida manifestação artística dos antigos gregos. As primeiras esculturas começaram a ser produzidas com o surgimento das pólis. Eram feitas de pedra, e as formas rígidas do corpo humano se pareciam com as das antigas esculturas egípcias.
Com o passar do tempo, os artistas começaram a usar o mármore e o bronze e a representar o corpo humano da maneira mais realista possível. As estátuas davam a impressão de movimento.
A partir do século IV a.C., as obras ficaram ainda mais realistas. Os artistas pretendiam não apenas representar o corpo humano, mas também suas dores e emoções. Muitos artistas, porém, continuaram esculpindo figuras idealizadas, próprias do estilo clássico.
sábado, 24 de junho de 2023
sexta-feira, 23 de junho de 2023
Matéria EJA 1 (NEJA 1)
quinta-feira, 22 de junho de 2023
Política e cultura em Esparta e Atenas
Esparta: a pólis guerreira
O que sabemos sobre a Grécia antiga tem como base fontes históricas que se referem principalmente às cidades de Atenas, situada na região da Ática, e Esparta, localizada na Península do Peloponeso.
Mapa Esparta - Sul da Península do Peloponeso.
A cidade de Esparta foi fundada pelos dórios, que dominaram toda a região e conquistaram as melhores terras. Ali, surgiu uma sociedade fortemente militarizada e hierarquizada. Os esparciatas, descendentes dos dórios, controlavam as instituições políticas e se dedicavam às atividades militares.
Sociedade espartana - Sociedade militarizada e desigual. Esparciatas era o menor grupo e fazia parte da elite local.
A produção de alimentos e de outros bens era realizada pelos hilotas, antigos habitantes da região que foram dominados pelos dórios e transformados em servos. Eles eram obrigados a cultivar a terra dos esparciatas e a entregar a eles parte do que produziam.
Hilotas – pessoas submetidas ao regime de servidão. Não possuíam direitos políticos e eram considerados propriedade do Estado. Os hilotas viviam em péssimas condições e, muitas vezes, eram vítimas de massacres por parte dos espartanos para evitar rebeliões.
Os habitantes dos arredores de Esparta formavam o grupo dos periecos. Eles se dedicavam à agricultura, ao artesanato e ao comércio.
Os periecos ou periocos eram a segunda camada da sociedade estamental dos espartanos, logo após os esparciatas. Ao contrário dos esparciatas, os periecos podiam dedicar-se ao comércio e à indústria artesanal.
A oligarquia espartana
Significado de oligarquia
Significado de cidadania HOJE
Em Esparta, apenas os esparciatas eram cidadãos, ou seja, tinham direitos políticos. Além disso, somente membros das famílias esparciatas mais importantes podiam ser eleitos para as funções de comando. Por isso, o regime político de Esparta é chamado de oligárquico (olígos, poucos; arkhé, governo).
Somente os esparciatas eram cidadãos, ou seja, apenas a elite possuía direitos políticos.
Estrutura de organização da Oligarquia espartana
Na cidade, dois reis comandavam o exército e cuidavam das tarefas sacerdotais. As leis eram formuladas pela Gerúsia, um conselho formado pelos dois reis e por 28 cidadãos com mais de 60 anos. Um comitê de cinco cidadãos, os éforos, era eleito todo ano pela assembleia para supervisionar as atividades políticas e julgar crimes importantes.
Esparta era uma diarquia, ou seja, possuíam dois reis, cada um com uma função (um religiosa e outro militar). Os dois reis governavam juntos com a Gerúsia (conselho dos ansiões - legislativo (formulavam leis)).
Os cidadãos maiores de 20 anos podiam participar da Ápela, assembleia que se reunia periodicamente para votar as leis propostas pela Gerúsia. Mas o poder da assembleia era limitado; quem comandava a cidade, de fato, eram os dois reis e os 28 anciãos da Gerúsia.
Ápela: assembleia popular formada por todos os cidadãos maiores de 30 anos, cuja função era eleger os membros da Gerúsia, aprovar a escolha dos éforos e aprovar as leis.
Figuras femininas (cariátides) usadas como colunas do templo de Erecteion. Acrópole de Atenas, construção do século V a.C.
A importância da palavra
Demóstenes foi um importante orador e político grego. Ele viveu em Atenas no século IV a.C. Ainda muito jovem, presenciou um julgamento que considerou injusto. Nesse momento, percebeu a força das palavras na vida pública de sua cidade e decidiu tornar-se um orador. Passou a frequentar aulas de oratória, estudando as melhores maneiras de convencer os ouvintes, tornando-se um dos oradores mais conhecidos da Grécia antiga.
Depois de atuar nos tribunais, ficou famoso por seus discursos na assembleia de Atenas, incentivando seus compatriotas a se organizar contra a ameaça representada por Filipe II da Macedônia, que iniciava a expansão ao norte da Grécia. O orador demonstrou que havia um grande perigo para a liberdade das cidades gregas, em especial para a democracia ateniense, e suas propostas foram aprovadas pela assembleia.
A história de vida de Demóstenes não é apenas um exemplo do valor de seu esforço pessoal. Demonstra a importância do discurso na vida das cidades gregas, principalmente do discurso oral. A arte de falar bem, de convencer o público, era muito valorizada entre os gregos. Por isso, a oratória era parte importante da educação dos cidadãos.
A educação em Esparta e em Atenas
Em Esparta, a educação dos cidadãos era voltada aos aprendizados necessários para a guerra. Assim que nasciam, as crianças eram examinadas e, se aparentassem algum sinal de fraqueza ou deficiência física, eram mortas, como explica o texto a seguir.
“Quando uma criança nascia, o pai não tinha direito de criá-la: devia levá-la [...] [aos] anciãos da tribo. Eles examinavam o bebê. Se o achavam bem encorpado e robusto, eles o deixavam. Se era mal nascido e defeituoso, jogavam-no no que se chama os Apotetos, um abismo ao pé do Taigeto. Julgavam que era melhor, para ele mesmo e para a cidade, não deixar viver um ente que, desde o nascimento, não estava destinado a ser forte e saudável. [...]”
PLUTARCO. A vida de Licurgo. In: PINSKY, Jaime. 100 textos de História Antiga. São Paulo: Contexto, 2009. p. 108.
Aos 7 anos de idade, os meninos passavam a viver em quartéis e se habituavam a suportar a dor, a fome e o frio. Após o período de treinos, os jovens eram submetidos a um ritual de passagem. Os que não fossem considerados aptos para a guerra eram relegados a uma condição inferior.
As fontes históricas levam a crer que as mulheres espartanas participavam ativamente da vida social na pólis. Elas praticavam exercícios físicos com os homens, circulavam livremente pela cidade e estimulavam a bravura dos filhos por meio de diálogos, além de aconselhar os maridos em questões políticas. A sociedade via as mulheres como o ventre gerador de valentes guerreiros.
Em Atenas, meninos e meninas eram educados de maneiras diferentes. Os meninos aprendiam a ler, a escrever, a recitar poemas e a cantar ou tocar instrumentos musicais. A partir dos 15 anos de idade, frequentavam o ginásio, onde praticavam exercícios físicos e discutiam questões políticas e filosóficas. Depois dos 20 anos, o jovem tinha mais dois anos de preparação militar, momento em que se tornava cidadão e estava preparado para atuar na vida pública.
As meninas atenienses eram educadas para a vida doméstica. Para isso, elas aprendiam a fiar, a tecer e a cozinhar, além de se preparar para a maternidade brincando com bonecas. Por volta dos 15 anos de idade, participavam de cerimônias religiosas que as tornavam aptas para o casamento.
Exercícios
Parte 01 - exercícios sobre Esparta
01 - Informe a localização de:
a) Atenas:
b) Esparta:
02 - Qual povo fundou Esparta?
03 - Cite características da sociedade espartana:
04 - Na sociedade espartana, quem eram os esparciatas?
05 - Na sociedade espartana, quem eram os responsáveis pela produção de alimentos e de outros bens?
06 - Quem eram os hilotas em Esparta? O que eles faziam?
07 - Em Esparta, quem eram os periecos? O que eles faziam?
08 - Qual era o regime político em Esparta? Na sociedade espartana, quem era cidadão? Por quê?
09 - Em Esparta, existiam dois reis, um fazia a função de.... e o outro era responsável por....
10 - O que era a Gerúsia? Qual era a sua função?
11 - Eram líderes da antiga Esparta que compartilhavam do poder com os reis de Esparta. Cinco eram eleitos anualmente, eles "juravam em nome da cidade", enquanto os reis juravam por si mesmos. Estamos falando dos:
12 - O que era a Ápela? Qual era a sua função?
Parte 02 - Exercícios sobre Atenas
13 - Como Atenas era governada até o século VI a.C?
14 - Em Atenas, quem era os:
a) escravos:
b) a elite ateniense:
15 - O que era a demos?
16 - Quem eram os metecos?
17 - O que aconteceu no início do século VI a.C.?
18 - Quem era Sólon? O que ele fez de importante?
19 - Defina:
a) Eclésia:
b) Bulé:
20 - Por que o governo de Clístenes foi importante?
21 - Em Atenas, quem era cidadão?
22 - Quem foi Demóstenes? Por que ele ficou famoso?
23 - Como era a educação das crianças e jovens nas polís de:
a) Esparta
b) Atenas:
24 - Fale um pouco sobre as mulheres em Esparta e em Atenas:
Próxima aula
Crenças religiosas na Grécia antiga
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