domingo, 31 de dezembro de 2023

Povoamento das Américas - Chegada do ser humano à América

Povoamento das Américas 




O Homo sapiens povoa o planeta


Evolucionismo é uma teoria elaborada e desenvolvida por diversos cientistas para explicar as alterações sofridas pelas diversas espécies de seres vivos ao longo do tempo, em sua relação com o meio ambiente onde elas habitam.


Os primeiros habitantes da América não eram autóctones, ou seja, não eram originários do próprio continente. Os pesquisadores chegaram a essa conclusão porque não se descobriu, até o momento, nenhum vestígio em terras americanas de hominídeos anteriores à espécie Homo sapiens.


Então, de onde eles vieram? Que caminhos percorreram? Quando chegaram a essas terras? Para responder a essas questões, é importante lembrar duas características humanas: somos uma espécie viajante e capaz de se adaptar a diferentes ambientes. Isso permitiu que nossos antepassados, originários da África, se espalhassem por todo o planeta.


A primeira grande migração de humanos modernos para fora da África teria começado por volta de 130 mil anos atrás. Eles se espalharam pela Europa e pela Ásia e venceram a última barreira para povoar o planeta: os oceanos. Deslocando-se por terra e por trechos de mar raso, entre 60 mil e 40 mil anos atrás, levas humanas atingiram a Austrália e algumas ilhas do Pacífico.


A segunda grande migração para fora da África começou há cerca de 80 mil anos. Não foram migrações lineares, contínuas. Provavelmente, à medida que a população crescia e faltavam recursos para alimentar todo o grupo, indivíduos saíam em busca de alimentos e iam se dispersando aos poucos por novos territó-rios. Isso significa que foram deslocamentos lentos, pequeno, de vários grupos, ao longo de milhares de anos


A teoria de Clóvis


O povoamento da América provavelmente teve início a partir da segunda dispersão para fora da África. Até os anos 1980, defendia-se que grupos humanos com traços asiáticos, em uma única onda migratória feita a pé, teriam entrado na América há cerca de 11.500 anos através do Estreito de Bering (veja o mapa), que estava congelado devido à última glaciação.





Os defensores dessa teoria baseavam suas conclusões na existência de sítios arqueológicos, datados de 11 mil a 10 mil anos atrás, espalhados por toda a América. Entre eles está o sítio de Clóvis, situado no estado do Novo México, nos Estados Unidos.


No sítio de Clóvis, foram descobertos artefatos de pedra e ossos de mamutes e de bisões datados de 11.500 anos. Os objetos encontrados, principalmente as pontas de flecha, tinham formatos muito seme-lhantes, o que sugere que os moradores da região seriam originários de uma mesma cultura. Por essa razão, o modo de vida desses grupos humanos foi chamado de cultura Clóvis.


Novas hipóteses


Outras descobertas posteriores, porém, contestaram a teoria de Clóvis, afirmando que a chegada do ser humano à América aconteceu através de vários deslocamentos durante a última glaciação, e não em uma única onda migratória pelo Estreito de Bering.


Segundo esses estudos, a retração das águas no fim da era glacial fez surgir uma ponte natural de terra no Estreito de Bering, que foi usada como passagem para a América. Além disso, o baixo nível da água do mar também teria facilitado as viagens. Navegando em pequenas embarcações ao longo da costa do Mar da Sibéria, grupos humanos teriam cruzado o litoral de Bering e chegado à costa do Alasca.


Distanciando-se da teoria de Bering, a arqueóloga Niède Guidon defende que os primeiros grupos humanos migraram diretamente da África em direção à América, navegando pelo Oceano Atlântico, por volta de 100 mil anos atrás. Porém, as posições da pesquisadora criaram um novo paradigma a respeito do povoamento do continente e têm poucos defensores.


Novos vestígios da presença humana


Além de indicar que houve vários movimentos migratórios em direção à América, essas novas descobertas levaram a crer que a presença humana no continente é muito anterior à cultura Clóvis. Nos sítios de Piedra Museo e Los Toldos, na Argentina, e de Debra L. Friedkin, nos Estados Unidos, há indícios de assentamentos humanos de 15 mil anos. Artefatos de pedra e restos de alimentos encontrados em Monte Verde, no Chile, foram datados em 12.300 anos. Novas escavações realizadas no sítio levaram à descoberta de objetos de pedra e restos de fogueira com idade entre 14.500 e 18.500 anos.


Outra dúvida sobre o povoamento da América é determinar se os primeiros povoadores do continente tinham características asiáticas, como os povos ame-ríndios. Essa discussão surgiu porque acreditava-se que crânios e ossadas humanos encontrados na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, apresentassem traços faciais semelhantes aos dos africanos e dos aborígenes australianos atuais. Isso levou a crer que esses grupos fizessem parte de outra onda migratória para a América, diferentemente da migração dos grupos mongoloides, que teriam originado os povos ameríndios.


No entanto, recentes pesquisas divulgadas em 2018 sobre alguns dos esqueletos mais antigos encontrados na América, como os de Lagoa Santa, contestaram essa teoria, como veremos mais adiante. Isso demonstra que o que sabemos sobre a Pré-história humana são hipóteses e teorias, que podem ser refutadas e desconstruídas a partir de novas descobertas.



Organize o conhecimento 


1. Assinale as afirmativas que se referem à teoria de Clóvis.


a) Defende que a ocupação da América ocorreu a partir de várias migrações de grupos humanos que atravessaram o Estreito de Bering na última glaciação. ( )


b) Analisou fósseis humanos encontrados no Novo México que levaram à conclusão de que a ocupação humana da América ocorreu há 11.500 anos. ( )


c) Desse ponto de vista, os primeiros grupos humanos teriam entrado na América em um único deslocamento e teriam feições semelhantes aos dos mongoloides. ( )


d) Levantou a hipótese de que alguns grupos hung. nos que chegaram à América já sabiam naves pelos mares. ( )


2. Marque quatro tipos de evidências arqueológicas que os pesquisadores têm examinado para elaborar hipóteses sobre o povoamento da América.


01 - Ossadas humanas e de animais.

02 - Artefatos de pedra.

03 - Restos de fogueira e alimentos.

04 - Pinturas rupestres.

05 - Vídeos no YouTube

06 - Livros


Adquirindo conhecimento extra.


Clique no link abaixo e veja o vídeo.

BBC - Cinco descobertas sobre a origem e a História dos povos indígenas da América do Sul.

https://youtu.be/TGiy6An6m3w?si=kGYsLNDsuySrJptL





Próxima aula

Os modos de vida dos antigos ameríndios

https://historiaecio.blogspot.com/2024/01/modos-de-vida-dos-antigos-amerindios.html

sábado, 23 de dezembro de 2023

Verdadeira história do Natal documentário History Channel

A verdadeira história do Natal - Documentário History Channel.


Clique no link abaixo e veja o vídeo.

https://youtu.be/-XQiFQEd4yw?si=EqPipjG-PG-pB90d


O documentário trabalha a história da data comemorativa desde de seu início (o dia 25 de dezembro antes do nascimento de Jesus Cristo) e após ao nascimento do Messias. O vídeo aborda também as principais  mudanças na comemoração ao longo do tempo.


https://youtu.be/-XQiFQEd4yw?si=EqPipjG-PG-pB90d

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

História e o historiador

A História e o historiador


História é a ciência que acompanha os acontecimentos do passado feitos pelos seres humanos, e o trabalho do historiador deve ser realizado de modo crítico, por meio de um suporte teórico e metodológico. A História ocupa-se dos acontecimentos passados e da ação humana no tempo e no espaço.



O historiador tem a função de analisar criticamente os acontecimentos do passado. Com seu trabalho, é possível compreender melhor as civilizações, dos tempos antigos à atualidade. O historiador também tem a importante função de resgatar e preservar a memória dos povos. “Um povo sem memória é um povo sem história.












O que é história? Como o historiador a investiga?


Como a história é escrita?

Na história em quadrinhos apresentada há um breve resumo do trabalho dos historiadores. Como “detetives do passado”, esses profissionais investigam informações sobre acontecimentos históricos e elaboram narrativas para explicar o passado e, sobretudo, o presente. Vamos descobrir um pouco mais sobre o assunto e entender sua importância?


A história já foi escrita e vista de diversas formas. Na Grécia antiga, por exemplo, Heródoto de Halicarnasso (cerca de 485-420 a.C.), conhecido como o “pai da história”, acreditava que a verdadeira história deveria narrar as guerras do presente. No futuro, segundo ele, essa narrativa seria lida como testemunho do passado. 


No século XIX (1801-1900), os historiadores defendiam a existência de uma verdade absoluta sobre o passado. Por exemplo, ao escrever sobre o processo de independência do Brasil, o historiador deveria narrar os acontecimentos tal como eles de fato ocorreram. Em outras palavras, a narrativa histórica deveria ser capaz de reproduzir o passado.


Hoje, os historiadores defendem a ideia de que a história não é um retrato do passado, mas uma interpretação sobre ele. Para alguns historiadores e o governo dos Estados Unidos, por exemplo, a bomba atômica foi lançada sobre o Japão, em agosto de 1945, porque não havia outra maneira de terminar a guerra rapidamente, e uma invasão terrestre no país causaria muito mais mortes. Outros historiadores, em contrapartida, afirmam que o Japão estava prestes a se render e a bomba foi lançada com o objetivo de afirmar o poderio dos Estados Unidos no mundo. 


É importante destacar que nem toda interpretação sobre o passado pode ser aceita, pois a história não é um relato ficcional. Ao investigar a abolição da escravidão, por exemplo, os historiadores examinam leis, jornais, depoimentos, estatísticas e outros documentos da época que podem servir de base para pesquisa. Eles cruzam essas informações e verificam se elas são confiáveis para escrever uma narrativa consistente sobre esse acontecimento. 


Em síntese, a história não é um retrato do passado nem um romance sobre ele. Por meio das pistas examinadas durante a pesquisa, podemos nos aproximar do passado, mas nunca reproduzi-lo.



Acima, imagem da explosão da bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. Ao lado, homem diante do Museu da Ciência e Tecnologia de Hiroshima, única construção que ficou em pé na cidade depois da explosão.


As fontes da pesquisa histórica 

O historiador, diferentemente de um romancista, elabora uma interpretação dos fatos históricos com base na análise de documentos. Sem esses documentos, a versão defendida por ele não tem validade diante da comunidade científica. Chamamos de documentos ou de fontes históricas todas as pistas relacionadas ao passado que o historiador decidiu estudar. Elas podem ser fontes históricas materiais ou fontes históricas imateriais.


As fontes históricas materiais são visíveis e fáceis de reconhecer: centros históricos com construções antigas, documentos preservados em arquivos, cartórios e paróquias, museus de arte com pinturas de diferentes épocas históricas, objetos antigos ou relíquias preservadas, fotografias de antepassados, acervos de bibliotecas e até mesmo carros velhos.


Mais difíceis de identificar porque não podem ser vistas ou tocadas, as fontes imateriais são abundantes e diversas: valores e normas de comportamento, crenças, línguas, festas tradicionais, modos de fazer um artesanato, preconceitos, noções de justiça, padrões estéticos e até mesmo concepções de vida e morte ou hábitos, como o de poupar dinheiro para o futuro.


Outros exemplos desse tipo de fonte são os relatos orais. Por meio deles, é possível registrar a memória de um indivíduo sobre acontecimentos do passado. Porém, como toda fonte histórica, a memória não pode ser considerada a verdade sobre os fatos. A memória é seletiva e, muitas vezes, as pessoas se esquecem de fatos, omitem ou fantasiam suas lembranças. 


Contudo, nas sociedades ágrafas*, principalmente, a memória das pessoas é uma valiosa fonte de informação para o historiador. Comparando os depoimentos com objetos e práticas que observou, o historiador pode produzir uma interpretação histórica de determinada sociedade.


Ágrafo: termo usado para designar cultura, povo ou língua sem registro escrito.



Indígena da etnia Aparai-Wayana fazendo cesto com fibra de cipó, na aldeia Bona (Apalai), localizada nas Terras Indígenas Parque do Tumucumaque (AP). Foto de 2015. O modo de fazer cestos com fibra de cipó da etnia Aparai-Wayana é transmitido de geração a geração, sendo, dessa forma, uma fonte histórica imaterial. Já o cesto produzido é uma fonte histórica material.


História: um conhecimento interdisciplinar

Para estudar acontecimentos do passado, o historiador não atua só. Ele também depende do trabalho minucioso de outros profissionais; por isso, a história é um campo de conhecimento interdisciplinar*. Vamos entender melhor o que isso significa.


Interdisciplinar: trabalho que integra profissionais de diferentes disciplinas ou áreas do conhecimento, os quais atuam de forma interdependente para resolver um problema comum.


Como vimos, os seres humanos deixam vestígios de sua presença na Terra. Muitos desses vestígios, porém, são de épocas remotas e estão soterrados em locais que foram habitados há milhares de anos por grupos humanos. Para ter acesso a objetos escondidos pelo tempo, o historiador necessita do trabalho do arqueólogo. Ele é o pesquisador que busca essas fontes da cultura material e as estuda.


Geralmente, o trabalho do arqueólogo começa com a demarcação do sítio arqueológico e sua escavação para descobrir vestígios de ocupação humana. O passo seguinte é o estudo dos objetos encontrados: de que materiais foram feitos? Quais técnicas foram empregadas na sua fabricação? De quando datam esses vestígios? Para que serviam? Por exemplo, a presença de ossos de animais próximo a pontas de flecha pode indicar que esses objetos foram usados por um grupo de caçadores; a presença de ossos humanos pode significar que o local era usado para enterrar os mortos; e assim por diante.



Arqueólogos escavando o sítio Bonin, em busca de pistas sobre o povo Jê, no município de Urubici (SC). Foto de 2016.


Para obter essas informações, os arqueólogos recorrem a outros estudiosos. Pesquisadores de outras ciências ajudam a identificar os materiais utilizados na fabricação dos artefatos, as condições naturais da região e como era a vida das espécies que habitavam o local. O estudo dos ossos de animais e de humanos encontrados, por exemplo, é feito por zoólogos e antropólogos. O exame que indica a idade aproximada de um material é feito por cientistas em laboratórios de física e de química


Com as análises desses profissionais, o historiador consegue obter mais informações para embasar e construir uma narrativa sobre o passado. Por isso, o conhecimento histórico se constrói com o auxílio de outras ciências. 


Próxima aula

O tempo e a História






quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Patrimônio e memória

Patrimônio e memória



Conceito de memória e patrimônio.

Patrimônio: a identidade de um povo

Quando pensamos em patrimônio, normalmente lembramos de algo material, ligado à riqueza ou à propriedade. Contudo, patrimônio também é o legado transmitido por nossos antepassados: podem ser ideias, costumes, ofícios, expressões artísticas ou construções preservadas até a atualidade. Esse legado também é chamado de patrimônio cultural. Nesse sentido, são considerados patrimônios culturais todos os bens materiais e imateriais que representam a história e a cultura de um povo. 


Além dos patrimônios culturais, há os patrimônios naturais: os ecossistemas essenciais para a preservação da diversidade biológica e as áreas de beleza natural excepcionais. Geralmente, são regiões de proteção ambiental que, muitas vezes, também abrigam patrimônios culturais. 


Alguns patrimônios ganharam reconhecimento mundial por sua importância para a humanidade. Diante disso, em 1972, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) criou a Convenção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural para preservar esses bens. Em 2003, a Unesco complementou a tarefa de cuidar da herança cultural da humanidade adotando a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.



Hoje, a Unesco considera 1.121 sítios patrimônios da humanidade. Um deles é o Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina, retratado na imagem. Foto de 2018.


O patrimônio brasileiro

No Brasil, 21 sítios são declarados Patrimônio Mundial pela Unesco. Catorze deles fazem parte do patrimônio cultural e sete do patrimônio natural. Além disso, seis expressões culturais do Brasil, como a Roda de Capoeira e o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, estão inscritas na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.


Há, ainda, os patrimônios exclusivos do Brasil, ou seja, bens considerados importantes para a preservação da história e da cultura de nosso país. A Constituição de 1988 classifica o patrimônio cultural brasileiro em material ou imaterial. Veja a seguir.


- Patrimônio material. Tudo o que pode ser tocado e observado. Nessa categoria estão incluídos bens móveis e imóveis, como sítios arqueológicos, cidades históricas, conjuntos arquitetônicos, fotografias, acervos de museus, vídeos, entre outros exemplos.

- Patrimônio imaterial. São as expressões e práticas culturais de uma coletividade transmitidas de geração a geração. Exemplos desse tipo de patrimônio são celebrações, saberes tradicionais, ofícios, lugares e formas de expressão, artísticas ou religiosas.

A principal instituição responsável pela preservação do patrimônio cultural do Brasil é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), criado em 1937. O Iphan atua em parceria com outros órgãos federais e estaduais para coordenar, regular e fomentar a gestão dos bens nacionais. Seu trabalho é importante para divulgá-los e valorizá-los, a fim de fortalecer a diversidade cultural do país.



Centro histórico do município de Goiás (GO), tombado como patrimônio cultural material do Brasil em 1978. Foto de 2018.



Apresentação de Samba de Roda do Recôncavo Baiano, registrado como patrimônio cultural imaterial do Brasil em 2004. Santo Amaro (BA), foto de 2017. Os dois bens são reconhecidos como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.


Preservar para quê?

Quando uma comunidade decide que um bem tem valor para sua história e deve ser transmitido às próximas gerações, ela pode buscar um meio legal de garantir a proteção desse bem. Mas como esse processo ocorre?


No Brasil, os bens materiais passam pelo processo de tombamento e os bens imateriais, pelo processo de registro. Esses instrumentos legais são realizados pelo poder público federal, estadual ou municipal.


Quando um bem material ou imaterial recebe o título de patrimônio cultural brasileiro, ele é inscrito, respectivamente, em um dos livros do tombo ou livros de registro, de acordo com sua categoria. 


O tombamento ou o registro de um bem ajudam a fortalecer nosso sentimento de identidade com o lugar em que vivemos e a preservá-lo para as futuras gerações. Porém, como já sabemos, a escolha dos bens que devem ser tombados ou registrados é feita por uma coletividade, em determinada época. É a sociedade, ou parte dela, que determina os bens que devem ser preservados e os que podem ser destruídos. Por isso, o que é considerado patrimônio hoje pode deixar de sê-lo no futuro.



Trabalhadores restaurando fachada de casarão colonial no centro histórico de Paraty (RJ), em 2019. Restaurar é realizar obras de recuperação e conservação de um bem. Quando ele é tombado, as obras de restauro devem seguir determinadas regras para não modificar as características originais desse patrimônio.


Próxima aula

A origem da vida e do ser humano

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segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Desdobramentos culturais, econômicos e ambientais da industrialização

Desdobramentos culturais, econômicos e ambientais da industrialização


A multidão das cidades

O avanço da industrialização alterou significativamente o cotidiano das pessoas. Nas ruas, assistia-se ao surgimento de um novo fenômeno: a multidão. A impessoalidade passou a caracterizar as relações entre os moradores. Diferentemente da vida no campo ou em pequenos agrupamentos urbanos, as pessoas que se cruzavam nas ruas não se conheciam.


Em meio à multidão, eram inevitáveis os empurrões e os encontrões, a mistura de ruídos e odores, as rápidas trocas de olhares. O olfato passava a conviver com o cheiro do lixo que se acumulava nas ruas. Os ruídos das máquinas e dos transeuntes tornavam o silêncio quase impossível. As pessoas em movimento eram um espetáculo novo para o olhar.


A criminalidade crescia com a dificuldade de controlar as multidões. 

Na cidade de Londres, que ultrapassou 1 milhão de habitantes no final do século XVIII, os relatos de crimes escandalizavam e atemorizavam os moradores.


Em 1829, foi criada a Scotland Yard, nome pelo qual ficou conhecida a Polícia Metropolitana de Londres. 

A princípio formada por policiais à paisana que vigiavam as ruas e prendiam criminosos em flagrante, em 1878 uma divisão especial de investigação passou a atuar na solução de grandes roubos e assassinatos.


O antagonismo entre policiais e criminosos estimulou a imaginação de escritores. Em 1887, Arthur Conan Doyle lançou Sherlock Holmes, narrativa policial em que a competência da Scotland Yard era colocada em xeque pelo famoso personagem, capaz de resolver crimes que ficaram insolúveis na vida real.


Também ganharam destaque os romances policiais de Agatha Christie (1890-1976). No livro O misterioso caso de Styles, de 1920, aparece pela primeira vez o aclamado personagem Hercule Poirot, detetive belga que se tornaria protagonista de uma série de outros livros.



Cena da primeira temporada da série Sherlock, de 2010, inspirada na obra do escritor escocês Arthur Conan Doyle. Grande sucesso de público e crítica, a série recebeu dezenas de prêmios e obteve audiência recorde.


A literatura das multidões

Vários autores procuraram compreender as cidades em suas narrativas. Era por meio do texto, também, que escritores e leitores aprendiam a lidar com o fascínio e o medo que as metrópoles provocavam. 


O inglês Charles Dickens (1812-1870), por exemplo, elegeu a vida nas cidades inglesas como o tema preferencial da sua literatura. Parte importante de suas obras trata de ambientes de trabalho degradados, das más condições de vida dos operários e de relações humanas desgastadas em decorrência das dificuldades cotidianas. 


O poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) foi um observador sagaz das metrópoles e captou com precisão a melancolia, os temores e as angústias de seus moradores. Entre suas principais obras estão As flores do mal, de 1857, e Paraísos artificiais, de 1860. 


No conto O homem da multidão, de 1842, o escritor estadunidense

Edgar Allan Poe (1809-1849) constatou a solidão do cidadão urbano, apesar de viver cercado de gente. 


“Há não muito tempo, ao fim de uma tarde de outono, eu estava sentado ante a grande janela do Café D... em Londres [...]. 


Muitos dos passantes tinham um aspecto prazerosamente comercial e pareciam pensar apenas em abrir caminho através da turba. Traziam as sobrancelhas vincadas, e seus olhos moviam-se rapidamente; quando davam algum encontrão em outro passante,

não mostravam sinais de impaciência; recompunham-se e continuavam, apressados, seu caminho. Outros, formando numerosa classe, eram irrequietos nos movimentos; tinham o rosto enrubescido e resmungavam e gesticulavam consigo mesmos, como se se sentissem solitários em razão da própria densidade da multidão que os rodeava.” 


POE, Edgar Allan. O homem da multidão. In: Contos.

São Paulo: Cultrix, 1986. p. 133.



“Trote! Meu querido, Trote!“, gritou minha tia, em um sussurro aterrorizado e apertando meu braço. “Eu não sei o que devo fazer”. Ilustração e trecho da obra David Copperfield, de Charles Dickens, 1871-1880.


Os impactos ambientais da industrialização

Muitas mudanças que ocorreram com a Revolução Industrial baseavam-se na crença de que os recursos naturais eram infinitos e estavam a serviço do ser humano. Não havia a consciência de que o consumo desenfreado de matérias-primas e o uso de combustíveis fósseis pudessem causar danos ambientais, em muitos casos irreversíveis, e alterações climáticas que afetariam a vida humana.


A atividade industrial de larga escala impulsionou o crescimento urbano e acarretou grandes impactos ambientais na Inglaterra. A instalação de fábricas levou à poluição das águas e do ar e à alteração do hábitat de muitas espécies.


Um exemplo dessa mudança é o das mariposas Biston betularia da cidade de Manchester. A maioria dessas mariposas tinha coloração branca, o que possibilitava sua camuflagem nos troncos das árvores. Com o surgimento das fábricas e o aumento da poluição do ar, os troncos das árvores tornaram-se escuros. As mariposas brancas, assim, praticamente deixaram de existir, pois, como não podiam mais se camuflar nas árvores, eram facilmente identificadas pelos predadores. Já as mariposas escuras, mais adaptadas ao novo ambiente, puderam sobreviver.


Além disso, a construção de ferrovias e de novas fábricas acarretou o desmatamento de grandes áreas de vegetação. A população dos grandes centros industriais cresceu desordenadamente, causando acúmulo de lixo e dejetos.


Atualmente, o modelo de produção implantado com a Revolução Industrial sofre inúmeras críticas. Campanhas de estímulo ao consumo consciente dos recursos naturais e ao reúso e à reciclagem de materiais procuram diminuir o uso de matérias-primas no dia a dia. Dessa forma, procura-se garantir a qualidade de vida das populações atuais e o usufruto desses recursos pelas gerações futuras.



Acima, gravura representando a cidade de Stockport, Inglaterra, c. 1845. Note a poluição da água e do ar provocada pelas fábricas. Ao lado, mariposas da espécie Biston betularia. 


A supremacia britânica no comércio mundial

As inovações tecnológicas inicialmente aplicadas ao setor têxtil se estenderam para a mineração, a metalurgia, os transportes e a agricultura. A burguesia inglesa ampliou sua participação no mercado mundial, impulsionada pelo forte apoio do governo nacional.


Na África e na Ásia, os governos acabaram cedendo às pressões diplomáticas da Inglaterra e abriram seus mercados aos produtos britânicos. Os novos países independentes da América Latina, procurando afastar a influência das antigas metrópoles, aproximaram-se dos ingleses, contraindo dívidas e assinando acordos políticos e comerciais com a Inglaterra.


A partir da Revolução Industrial, a Inglaterra passou a dificultar a entrada de tecidos, especiarias e outros produtos indianos no mercado britânico, ao mesmo tempo que inundava a Índia com os produtos ingleses. A produção artesanal indiana de tecidos foi levada à ruína.


O crescimento da economia industrial inglesa foi impulsionado também pela expansão das ferrovias. A primeira linha férrea comercial foi inaugurada na Inglaterra em 1830. Na França, na Prússia e na Bélgica, para onde a industrialização se estendeu, as ferrovias entraram em funcionamento ao longo daquela década. Vencendo distâncias, abrindo países ao mercado mundial e integrando povos e culturas, elas exibiam o poder e a velocidade que marcavam a nova era.


A prosperidade britânica e a expansão da industrialização para outros países em meados do século XIX fortaleceram os defensores do liberalismo econômico. A Inglaterra tornou-se modelo para os economistas que combatiam a política mercantilista do Antigo Regime, com suas medidas para regulamentar a economia



Ilustração de 1861 que representa um comerciante inglês sendo servido por um garçom chinês e um chef tailandês em um restaurante em Yokohama, no Japão.


Uma revolução nos transportes

Desde o século XVI, o transporte sobre trilhos era utilizado na mineração para levar o carvão e o ferro das profundezas das minas até a superfície. Os trilhos eram feitos de madeira e sobre ele deslizavam vagonetes, empurrados por trabalhadores braçais ou puxados por cavalos.


No início do século XIX, o inventor inglês Richard Trevithick aproveitou a energia da máquina a vapor de James Watt para desenvolver um veículo que deslizava sobre trilhos de ferro: a locomotiva a vapor. Os trilhos foram levados para fora das minas e passaram a transportar carvão e ferro até os portos, de onde seguiam, em navios, para outros países.


Logo outros inventores aperfeiçoaram a locomotiva a vapor. A primeira estrada de ferro, inaugurada em 1830, ligava duas cidades inglesas: Liverpool e Manchester. Seu sucesso incentivou outros empresários a investir nas ferrovias, que se multiplicaram pela Europa durante o século XIX.



Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 122.


Próxima aula

Revolução Francesa

Revolução Francesa (1789 - 1799) Parte 01 - Motivos

https://historiaecio.blogspot.com/2023/04/revolucao-francesa-1789-1799.html

Dia da liberdade - 30 anos do fim do Apartheid na África do Sul

 Dia da Liberdade - Comemoração de 30 anos do fim do Apartheid. África do Sul comemora o 30º aniversário do ‘Dia da Liberdade’ do Apartheid ...