sábado, 31 de dezembro de 2022

Inovações e desafios do mundo globalizado - Parte 02 - Crise econômica e xenofobia

Crise econômica e xenofobia


O ciclo neoliberal - Do Estado mínimo e enriquecimento da burguesia à crise de superprodução e colapso financeiro.

Ainda no contexto da Guerra Fria, mais precisamente a partir da segunda metade do século XX, a política liberal (fracassada com a Quebra da Bolsa de Nova Iorque e a Grande Depressão) foi ressuscitada com algumas alterações.   O Neoliberalismo é uma doutrina socioeconômica que retoma os antigos ideais do liberalismo clássico ao preconizar a mínima intervenção do Estado na economia, através de sua retirada do mercado, que, em tese, autorregular-se-ia e regularia também a ordem econômica. Sua implantação pelos governos de vários países iniciou-se na década de 1970, como principal resposta à Crise do Petróleo."


Definição de neoliberalismo

Os neoliberais não toleram, principalmente, a política do Estado de Bem-Estar social, um dos princípios básicos da social democracia e um dos instrumentos utilizados pelo Keynesianismo para combater a crise econômica iniciada em 1929 (Crash da Bolsa de NY e a Grande Depressão). Nessa política, caracteriza-se pela máxima intervenção do Estado na economia (com regras, lei e participações de empresas estatais), fortalecendo as leis trabalhistas (direitos aos trabalhadores - carteira assianada, salário mínimo, férias remuneradas, aposentadoria etc) a fim de aumentar a potencialidade do mercado consumidor, o que contribuía para o escoamento das produções fabris.


Emprego gera renda ao trabalhador empregado, renda gera consumo (trabalhadores comprando), consumo gera lucro para as empresas, lucro das empresas proporciona mais investimentos, mais investimentos  necessita mais mão de obra...

A crítica direcionada pelo neoliberalismo a esse sistema é a de que o “Estado forte” é oneroso e limita as ações comerciais, prejudicando aquilo que chamam de “liberdade econômica”. Além disso, a elevação dos salários e o consequente fortalecimento das organizações sindicais são vistos como ameaças à economia, pois podem aumentar os custos com mão de obra e elevar os índices de inflação. Dessa forma, os neoliberais defendem a máxima desregulamentação da força de trabalho (relações de trabalho sem regulamentos), com a diminuição da renda e a flexibilização do processo produtivo.


Neoliberalismo e a desregulamentação da força de trabalho - Precarização das garantias trabalhistas conquistadas com o Estado de bem-estar social.

Com o declínio da URSS, a partir da década de 1980, o neoliberalismo passou a significar a doutrina econômica que defende a absoluta liberdade de mercado e uma restrição à intervenção estatal na economia, só devendo esta ocorrer em setores imprescindíveis e, ainda assim, num grau mínimo (minarquia).


O neoliberalismo é marcado por governos que agem mais sobre orientações e cuidados pró mercado. Deixando, em muitas das vezes, os serviços públicos em segundo plano.

Crise financeira de 2007–2008 foi uma conjuntura economica global que se sentiu durante crise financeira internacional, e precipitada pela falência do tradicional banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, fundado em 1850. Considerada por muitos economistas como a pior crise econômica desde a Grande Depressão, a crise financeira de 2008 ocorreu devido a uma bolha imobiliária nos Estados Unidos, causada pelo aumento nos valores imobiliários, que não foi acompanhado por um aumento de renda da população.


Crise financeira de 2008 - Resultado da política de arrocho salarial, especulação financeira (super valorização do imóveis) e falência do sistema de crédito. Essa crise capitalista neoliberal começou nos EUA e contaminou todos os outros paises capitalistas que possuíam qualquer ligação com o país (lembre que a Nova Ordem Mundial faz prática da globalização)

A crise econômica de 2008 afetou profundamente a Europa, sobretudo Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. Pressionados pelos dirigentes da União Europeia (Alemanha e França) e pelo Banco Central Europeu, os governos daqueles países instituíram diversas medidas de ajuste fiscal, que geraram muitos protestos: redução dos salários e corte de benefícios, congelamento dos valores das aposentadorias, contratação de trabalhadores em regime temporário, além da demissão de funcionários públicos.


Latuff (2010) - Charge sobre a pressão da União Europeia sobre a Grécia (política de austeridade em troca de ajuda financeira).


A ajuda financeira sempre está atrelada ao corte de investimentos (gastos em serviços públicos)

Diante da crise, muitos europeus responsabilizaram os imigrantes pelas dificuldades econômicas decorrentes da crise de 2008. A partir de 2012, a intolerância com os estrangeiros aumentou mais ainda com a entrada na Europa de milhares de refugiados, vindos principalmente da Síria, do Afeganistão e da África Subsaariana. Esses estrangeiros tornaram-se alvos de ataques de grupos ultranacionalistas e neofascistas que defendem o fechamento da Europa para imigrantes e refugiados.


Charge Latuff (2008) - A xenofobia é uma prática muito defendida pela extrema direita.


Conceito de xenofobia

No cenário de incerteza criado em momentos de crise, agravado pelo sentimento de desamparo e descrença nas instituições, os europeus tornam-se menos tolerantes às culturas identificadas com os países pobres. Apesar do intenso intercâmbio cultural ocorrido na era da globalização, as várias práticas de xenofobia revelam que a tolerância é um aprendizado que ainda está por ser realizado.

O crescimento da desigualdade social


Globalização - Menos direitos e ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.

A Pesquisa Desigualdade Mundial 2018, dirigida pelo economista francês Thomas Piketty, constatou que o aumento da riqueza de quem já tem patrimônio tem crescido em velocidade muito superior ao crescimento econômico dos países, que deve se reduzir. Em outras palavras, os ricos tendem a se tornar ainda mais ricos, e as disparidades sociais tendem a se agravar. O mesmo relatório mostrou que o 1% mais rico do Brasil detinha 28% de toda a riqueza produzida no país.


Com o neoliberalismo, os ricos ficaram mais ricos e os pobres ficaram cada vez mais pobres... Será que é por isso que a elite defende esse sistema econômico?

A mesma tendência de concentração de renda foi confirmada pelo Relatório Global de Riqueza 2017, produzido pelo Credit Suisse. Segundo ele, a riqueza mundial atingiu, em meados de 2017, o maior nível da história: 280 trilhões de dólares. No entanto, 45,9% dessa riqueza (128,7 trilhões) está concentrada nas mãos de apenas 0,7% da população, enquanto 2,7% dela (7,6 trilhões) está distribuída entre 70,1% da população. Diante desse quadro, concluímos que diminuir a desigualdade social no mundo é um dos maiores desafios do século XXI.


Vista aérea da favela de Paraisópolis e de um condomínio de luxo vizinho, em São Paulo (SP). Foto de 2017.

Por uma outra globalização


Rui Barbosa - Frase para reflexão

Diante dos efeitos sociais e ambientais do capitalismo globalizado, diversos movimentos antiglobalização surgiram no mundo a partir do final da década de 1980. Eles podem ser compreendidos como uma rede de movimentos que de alguma maneira se articulam contra o modelo de globalização atualmente imposto, que julgam nocivo para o bem-estar da maior parte da população.


Ato contra a Nova Ordem Mundial, o imperialismo estadunidense e a globalização imposta pelas grandes nações econômicas e seus blocos.

Nesse contexto, grupos ambientalistas cresceram e ganharam visibilidade, conscientizando as pessoas sobre os impactos da produção e do consumo em larga escala para o meio ambiente e reivindicando a adoção de medidas por parte dos Estados para combatê-los. Em 1994, destacou-se também o movimento zapatista, no México, no qual indígenas se sublevaram contra as políticas neoliberais do país, sobretudo o Nafta, um acordo de livre comércio entre Estados Unidos, Canadá e México.


Movimento zapatista

A partir do final da década de 1990, movimentos anticapitalistas se uniram na Ação Global dos Povos (AGP), grupo que se articulou contra as políticas do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização Mundial do Comércio (OMC). O Fórum Social Mundial (FSM), realizado pela primeira vez em Porto Alegre, em 2001, também se consolidou como um espaço de organização dos movimentos sociais e tem sido realizado anualmente em diferentes países. 


Manifestação do Occupy Wall Street em Manhattan, Nova York, 2011. O movimento, que nasceu em Nova York e se espalhou pelos Estados Unidos, protestou contra a avareza do setor financeiro e a corrupção, culpando-as pela desigualdade social e econômica no mundo.

O Fórum Social Mundial (FMS) é um encontro anual internacional articulado por movimentos sociais, ONGs e pela comunidade civil para discutir e lutar contra o neoliberalismo, o imperialismo e, sobretudo, contra desigualdades sociais provocadas pela Globalização.


Fórum Social Mundial (FMS)

Inovações e desafios do mundo globalizado - Parte 01

 O processo de globalização


Globalização

O termo “globalização’’ começou a ser empregado na década de 1980 e, na década seguinte, começaram a surgir os primeiros estudos sobre o tema. Apesar de complexo e controverso, o conceito de globalização pode ser descrito, em linhas gerais, como um processo econômico, social e cultural marcado pelo intenso inter­câmbio de capitais, produtos, serviços e informações por todo o planeta.


Conceito de globalização

Hoje, por exemplo, é possível estar no Brasil e conversar em tempo real com pessoas de Portugal, da África do Sul ou da China; comprar pela internet um produto alemão, fabricado na China com peças japonesas, que em poucos dias chegará à sua casa; assistir pela televisão a uma partida de futebol entre clubes europeus formados por jogadores brasileiros, argentinos, nigerianos e argelinos, além dos nacionais. Sob esse aspecto, a globalização favorece a interação de pessoas, comportamentos e costumes ao redor do mundo.


Globalização e o intercambio proporcionado pelo avanço tecnológico

Porém, não são quaisquer informações, mercadorias ou pessoas que transitam pelo mundo. Em geral, as mercadorias que circulam com mais facilidade são as que geram lucro, principalmente aos países desenvolvidos; as pessoas que circulam com maior liberdade são as que viajam a negócios ou a turismo, e não aquelas que decidem imigrar por necessidades ­econômicas. Do mesmo modo, a maioria dos comportamentos e valores difundidos no mundo são ocidentais, ou seja, dos Estados Unidos e dos países ricos da Europa.


Economia capitalista e a globalização



Jogadores do time de futebol francês Paris Saint-Germain (PSG) durante partida na cidade de Paris, França, em 2018. O time é composto de jogadores de diferentes nacionalidades.

A internet: propulsora da globalização


Mundo interligado - característica da globalização

Muitas mudanças trazidas pela globalização não teriam acontecido sem o desenvolvimento da internet. Nos anos 1960, o governo dos Estados Unidos, preocupado em vencer a corrida armamentista contra os soviéticos, encarregou a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa (Arpa, em inglês) de desenvolver novas tecnologias para fins militares. Com esse objetivo, os pesquisadores criaram uma rede de dados e um software que permitiam conectar os computadores da agência.

Na década de 1980, a rede se expandiu e recebeu o nome de internet. Nos anos 1990, ela se tornou um sucesso comercial, sobretudo quando os europeus criaram a www (world wide web ou “rede mundial de computadores”). A expansão dos usuários da rede no mundo todo agilizou as comunicações e aproximou as pessoas, provocando mudanças profundas no comportamento, na linguagem e nas relações humanas.


A internet se tornou um sucesso comercial, sobretudo quando os europeus criaram a www (world wide web ou “rede mundial de computadores”).

Um exemplo recente do poder de mobilização de usuários da internet foi a campanha “#Argentina NoVayas”. Ela visava convencer a seleção argentina de futebol a cancelar o amistoso contra a seleção de Israel, que seria disputado em Jerusalém antes da Copa do Mundo de 2018. A iniciativa era um protesto contra a morte de centenas de palestinos pelo exército israelense na Faixa de Gaza. A campanha ganhou as redes sociais e teve êxito. Os argentinos cancelaram a partida.

A disseminação da internet também envolve questões como direitos autorais, privacidade, responsabilidade civil, fake news, censura e punições para crimes virtuais, temas que estão sendo discutidos em muitos países atualmente. 


Conceito de fake news - Instrumento muito utilizado na internet e na redes socias com o objetivo de desinformar, manipular e expandir o discurso de ódio por extremistas radicais.

Ato no Dia Internacional da Mulher realizado em São Paulo (SP), 2020. As redes sociais se tornaram um meio de divulgação de movimentos e de organização de protestos.

A ocidentalização da cultura mundial

O cinema, a televisão e a internet têm promovido a “ocidentalização” da cultura mundial, segundo alguns críticos. Eles defendem que o que se observa na globalização é muito mais uma imposição de valores ocidentais do que um intercâmbio entre culturas. Exemplos disso seriam a hegemonia da língua inglesa, dos filmes de Hollywood e das marcas europeias e estadunidenses. Outros autores, porém, relativizam esse processo lembrando que há significativas trocas culturais entre países ricos e pobres, entre o Ocidente e o Oriente. Alguns exemplos dessa troca são o sucesso das culinárias chinesa, indiana e mexicana na Europa e nos Estados Unidos e a popularização das artes marciais japonesas, chinesas e coreanas, como o judô, o kung fu e o tae kwon do.

A ascensão do neoliberalismo

A globalização não teria alcançado a dimensão de hoje sem a existência de governos empenhados na tarefa de remover as barreiras, nacionais e internacionais, à iniciativa privada e à livre circulação de capitais. Isso significava uma mudança profunda em relação ao Estado de bem-estar social, que caracterizou o governo de várias nações após a Segunda Guerra Mundial, principalmente na Europa. Os países que adotaram essa política após o conflito assumiram a responsabilidade de garantir aos cidadãos educação, saúde, emprego, benefícios trabalhistas e outros direitos sociais.


Governos burgueses empenhados na tarefa de remover as barreiras, nacionais e internacionais, à iniciativa privada e à livre circulação de capitais.

A crise econômica dos anos 1970, no entanto, enfra­queceu o Estado de bem-estar social, que passou a ser atacado como um dos causadores da crise. Opondo-se a ele, entrou em cena o neoliberalismo, teoria econômica que retomou e atualizou as ideias liberais do século XVIII.


Conceito de neoliberalismo

Os neoliberais pregam a redução do Estado à ­tarefa mínima de garantir as leis comuns e a economia de ­mercado. Segundo eles, a economia cresce quando os governos eliminam todas os obstáculos aos investimentos e à livre circulação de capitais e mercadorias. Entre esses obstáculos, estão a taxação do lucro das empresas, os encargos trabalhistas, como recolhimento obrigatório do fundo de garantia e da previdência social, a cobrança de tarifas alfandegárias sobre produtos importados, o monopólio estatal sobre serviços de energia, água e telefonia, além de leis que limitam o desmatamento e a exploração mineral. Os neoliberais defendem ainda a redução dos gastos do Estado com saúde e educação e a criação de estímulos para que a iniciativa privada atue nesses setores.


A política neoliberal flexibilizou as leis trabalhistas, retirando direitos dos trabalhadores (salário mínimo, carteira assinada, fundo de garantia, previdência social) e possibilitando aumento dos lucros dos empresários. O período de apogeu do neoliberalismo ficou marcado pelo aumento da desigualdade social e aumento da concentração de renda nas mãos dos mais ricos.


Governo Temer e o Bolsonaro diminuíram intensamente os investimentos em saúde e em educação pública.

Os governos que se transformaram em símbolos das teorias econômicas neoliberais foram o de ­Margaret Thatcher, primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990, e o de Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos de 1980 a 1988. Durante esses governos, empresas públicas de energia, mineração, telefonia e abasteci­mento de água foram privatizadas; removeram-se as barreiras legais à expansão do ­sistema financeiro e dos setores de comunicações e transportes; e os impostos sobre os lucros do grande capital foram suprimidos ou reduzidos.

Ao mesmo tempo, os dois governos promoveram cortes nos gastos com saúde, educação, moradia popu­lar e benefícios aos aposentados e desempregados. A legislação trabalhista foi alterada para substituir a ação dos sindicatos pela livre negociação entre trabalhadores e patrões. 


"Livre negociação entre trabalhadores e patrões." 


Precarização do trabalho - Trabalho informal em ascensão. 

Na década de 1990, a recuperação econômica dos Estados Unidos e do Reino Unido, somada ao fim do socia­lismo nos países do Leste Europeu, contribuiu para difundir as teorias neoliberais por outros países. 

Manifestação de mineiros em Celynen North, no Reino Unido, 1984. A decisão de Margaret Thatcher de fechar as minas de carvão de Whitewell, na Inglaterra, desencadeou uma greve de mineiros no país que durou dezesseis meses.

Políticas neoliberais na América Latina


A influencia da política de estado mínimo dos EUA sobre os governos da América Latina. 

No contexto da globalização, o neoliberalismo também se expandiu pelo restante do mundo, sendo ­adotado por muitos países latino-americanos. A via neoliberal foi vista por muitos governos como uma saída para o subdesenvolvimento e a pobreza na região. As medidas adotadas variaram de país para país ao longo dos anos 1980 e 1990, principalmente.

O Chile foi o primeiro país da região a adotar práticas neoliberais, ainda no governo ditatorial de Augusto Pinochet, a partir de 1973. Em seu governo, o Chile promoveu a privatização de companhias estatais, a entrada de capitais estrangeiros, a abertura às importações, a diminuição drástica dos gastos com o Estado, a substituição do ensino público pelos créditos estudantis, a privatização do sistema de seguridade social e a redução dos benefícios sociais.

No entanto, essas mudanças na economia agravaram a desigualdade social no Chile, aprofundando a má distribuição de renda, diminuindo o poder aquisitivo dos trabalhadores e piorando a situação de pobreza da maior parte da população. Com isso, algumas dessas ações foram revertidas ao longo dos anos 1980.

Na Argentina, sob o governo de Carlos Menem, entre 1989 e 1999, adotou-se um programa de desregulamentação da economia, que incluiu ações como a privatização de estatais e a concessão de serviços públicos. Setores estratégicos importantes, como transporte, eletricidade, telecomunicações e siderurgia, passaram a ser controlados por grupos transnacionais. Além disso, as relações de trabalho foram flexibilizadas, o que gerou forte reação dos sindicatos.

Algumas medidas trouxeram certa estabilidade econômica: de 1991 para 1992, a inflação caiu de 171,7% para 24,9%. Contudo, a longo prazo, elas elevaram os juros interno e externo, o índice de desemprego, diminuição da renda do trabalhador, o ­déficit público e a dívida externa. Não houve um ­aumento ­expressivo das taxas de consumo e de investimento nem um crescimento econômico com distribuição de renda. Ao contrário, o salário mínimo real se retraiu e o mercado de trabalho se precarizou. A economia argentina ficou vulnerável e dependente do capital externo. Esses e outros fatores levaram à crise argentina de 2001.

Nos anos 1990, Brasil (veja aqui no Blog os governos Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardoso), Equador, Paraguai, Uruguai, Peru, Bolívia, Venezuela, Colômbia e México, entre outros países latino-americanos, também adotaram as práticas neoliberais. No final do século XX, contudo, as crises econômicas e o aumento do desemprego, a exemplo da Argentina, levaram alguns governos na América Latina a abandonar parte dos princípios neoliberais.


Carlos Menem e sua esposa, Zulema Yoma, acenam para a multidão em frente à Casa Rosada, em Buenos Aires, em julho de 1989, após a cerimônia de posse da presidência da república.

O Mercosul

Em 1991, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai assinaram o Tratado de Assunção, que criou o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Assumindo aspectos da agenda neoliberal, esse bloco econômico foi criado com o objetivo principal de estabelecer uma união aduaneira ou mercado comum entre os países-membros com a livre circulação interna de bens e serviços, de modo a atingir o desenvolvimento econômico da região e inserir competitivamente os países-membros no mercado internacional. O Mercosul, atualmente, também visa criar políticas públicas regionais para combater a desigualdade social e garantir a democracia, os direitos humanos e a estabilidade política na América do Sul. 

Mercosul

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Desagregação do bloco socialista - Fim da URSS e a Guerra da Iugoslávia

 A desagregação do bloco socialista


Gorbachev e o fim da URSS

Para facilitar o seu entendimento sobre o conteúdo estudado,  clique no link abaixo e veja o vídeo. 


Os fantasmas da Guerra Fria


Em 2014, a República Autônoma da Crimeia, território da Ucrânia habitado por uma maioria russa, decidiu proclamar sua independência e incorporar-se à Rússia. Em março daquele ano, um referendo popular aprovou a medida: mais de 95% dos eleitores crimeanos disseram sim à anexação à Rússia. No entanto, ucranianos e tártaros que vivem na região boicotaram o referendo.



Crimeia - Território ucraniano invadido pela Rússia.

Pouco antes da convocação do referendo, soldados russos ocuparam a Crimeia. Segundo o governo ucraniano, a intenção era coagir a população local a votar pela anexação do território à Federação Russa. Depois disso, os russos fizeram grandes investimentos para transformar a região em base militar e criaram incentivos à imigração de russos para o território.



Tomada da Crimeia (território que pertencia a Ucrânia).

A crise na região reacendeu a velha rivalidade entre as potências ocidentais e a Rússia. As Nações Unidas não reconheceram a validade do referendo, enquanto o governo de Moscou criticou a ONU, lembrando que a independência do Kosovo, região que pertencia à Sérvia, foi reconhecida pelas Nações Unidas em 2008 e que a política da entidade em relação à Crimeia deveria ser a mesma.



Ucrânia x Rússia

Por que Rússia e Ucrânia, duas das mais importantes repúblicas soviéticas da época da Guerra Fria, hoje vivem em estado de guerra? O que aconteceu com a União Soviética? É o que você vai descobrir no estudo deste tema.



O croata Domagoj Vida comemora o segundo gol contra a Rússia nas quartas de final da Copa do Mundo de 2018, em Sochi, na Rússia. Na Copa da Rússia, os gestos de alguns jogadores causaram muita polêmica. Domagoj, por exemplo, gravou um vídeo em que dizia “Glória à Ucrânia”, expressão muito antiga que ganhou força em 2014 com a ocupação e a anexação da Crimeia pela Rússia.


A crise do regime soviético


A partir dos anos 1930, a União Soviética experimentou um desenvolvimento científico e tecnológico que rivalizou com o dos Estados Unidos. Na década de 1960, chegou a viver uma época de prosperidade, com o processo de urbanização, a erradicação do analfabetismo e a qualificação da mão de obra.


Entretanto, ao priorizar os investimentos na corrida armamentista e espacial, o regime soviético não deu a devida atenção à produção de alimentos e de artigos como roupas, calçados e eletrodomésticos, o que, aos poucos, levou o país a uma crise de abastecimento.


Na década de 1970, vários sinais de crise começaram a surgir: o distanciamento soviético em relação aos avanços tecnológicos do Ocidente; a ineficiência da indústria civil; a crescente dependência da importação de alimentos, que obrigava o governo a criar subsídios para baratear os alimentos importados; tudo isso somado aos movimentos por liberdade, democracia e independência nacional que começavam a se organizar na União Soviética. Os custos da guerra no Afeganistão (1979-1989) debilitaram ainda mais as finanças soviéticas.


As reformas de Gorbachev


Mikhail Gorbachev

Em 1985, Mikhail Gorbachev foi eleito secretário-geral do Partido Comunista ­Soviético. Atendendo ao anseio da sociedade por mudanças, Gorbachev iniciou um programa de reformas econômicas e políticas visando modernizar o Estado soviético sem, contudo, abandonar o socialismo: a glasnost (transparência política) e a perestroika (reestruturação da economia). 



Declínio soviético

Pela glasnost, entre outras medidas, determinou-se a realização de eleições diretas, a liberdade de imprensa e a permissão para as pessoas saírem do país. Assim, assuntos como os privilégios da burocracia dirigente e a corrupção passaram a ser discutidos amplamente na sociedade. Já a perestroika permitiu a liberdade para as empresas fixarem os salários, a livre-concorrência, a legalização de pequenas empresas privadas e o estabelecimento de empresas estrangeiras no país.


Glasnost e Perestroika

Entretanto, as reformas de Gorbachev não apresentaram os resultados esperados. A economia e a agricultura continuavam com índices de crescimento insuficientes e a população passou a enfrentar racionamento de alguns produtos básicos, como gasolina, manteiga e carne. Com isso, o apoio da sociedade a Gorbachev passou a ser contestado.


Simultaneamente, outro problema ressurgiu no país: a questão nacional e as reivindicações autonomistas. Nos anos 1980, diante da crise, explodiram inúmeras revoltas e movimentos nacionalistas reivindicando autonomia e respeito às identidades locais, bem como manifestações democratizantes que levariam ao fim do socialismo na região.


As Repúblicas da União Soviética (1970) 



O fim do socialismo no Leste Europeu


Impulsionada pela crise econômica e pelo programa de reformas de Gorbachev, uma onda de lutas democráticas se espalhou pela Europa Oriental nos anos 1980. Na Hungria e na Tchecoslováquia, a transição se deu de maneira pacífica e pela via das instituições. Os novos governantes, antigos opositores do regime soviético, ­implantaram programas de desestatização da economia.


Já na Romênia, o governo respondeu com violência aos protestos populares, mas não conseguiu frear as manifestações. Ao tentar fugir do país, em 1989, o presidente Nicolae Ceausescu acabou preso, julgado e executado.




Resistência romana.


Nicolae Ceausescu morto.

Na Polônia, trabalhadores liderados pelo sindicato independente Solidariedade reivindicavam direito de greve e liberdade de organização sindical. Após muitas reformas democratizantes, em 1990, o líder do Solidariedade, Lech Walesa, foi eleito presidente da república.


Na República Democrática Alemã (RDA), mesmo sendo a economia mais forte do Leste Europeu, havia um processo de estagnação econômica desde meados da década de 1980, situação que motivou a eclosão de movimentos exigindo reformas econômicas e políticas.


Em setembro de 1989, a Hungria abriu suas fronteiras com a Áustria. Buscando fugir da crise econômica, milhares de alemães orientais aproveitaram a abertura do novo caminho e migraram para a Alemanha Ocidental. A fuga em massa do país pressionou o governo da RDA a também abrir suas fronteiras, o que ocorreu em 9 de novembro por meio de um anúncio na TV.


Em poucas horas, milhares de berlinenses se reuniram ao redor do Muro de Berlim nos dois lados da cidade. No mesmo dia, o muro caiu, sem que a polícia disparasse um único tiro. No ano seguinte, as duas Alemanhas foram reunificadas.



Multidão se concentra ao redor do Muro de Berlim, em 10 de novembro de 1989, no dia seguinte à sua queda.


A desagregação da União Soviética e da Iugoslávia


A queda do Muro de Berlim e dos regimes socialistas no Leste Europeu ajudou a impulsionar os movimentos separatistas na União Soviética. Em dezembro de 1991, quando catorze das quinze repúblicas já tinham formalizado sua independência, o presidente da Rússia anunciou o fim da União Soviética e a criação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI).



Fim da URSS

Assim, a grande potência socialista chegou ao fim. Na visão que se difundiu pelo mundo, o capitalismo tinha vencido a Guerra Fria.



Comunidade dos Estados Independentes (CEI)



Comunidade dos Estados Independentes (CEI)

Porém, os acontecimentos mais trágicos relacionados ao fim da Guerra Fria tiveram como palco a Iugoslávia, na Península Balcânica. Constituída por seis repúblicas federadas (Sérvia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Montenegro e Eslovênia) e duas regiões autônomas ligadas à Sérvia (Voivodina e Kosovo), a Iugoslávia era um mosaico de povos e culturas.



Antiga Iugoslávia

Após a Segunda Guerra Mundial, o então governo de Josip Broz Tito adotou o modelo socialista de economia planificada e, com um forte exército, garantiu a unidade nacional iugoslava, controlada pela maioria sérvia.



Josip Broz Tito


Capitalismo x Socialismo (ver economia planificada)


A Iugoslávia se fragmentou e deu origem a vários países após a morte  do líder iugoslavo Josip Broz Tito (enfraquecimento político e econômico ao longo da década de 1980)

Com a morte do líder iugoslavo, em 1980, a frágil unidade política da Iugoslávia começou a ruir. Os efeitos da crise econômica da década de 1980, somados às mudanças em curso no bloco soviético, reacenderam os movimentos pela independência nacional no país.


As primeiras repúblicas a declarar independência foram a Croácia e a Eslovênia, em 1991. Iniciou-se, então, a primeira guerra na Iugoslávia, opondo sérvios e croatas. O reconhecimento dos novos países pela comunidade internacional obrigou as tropas sérvias a recuar, pondo fim ao conflito.



Guerra da Iugoslávia

 Acontecimentos no Leste Europeu 


Linha do tempo sem escala temporal.



Área de Vukovar destruída pela guerra, em novembro de 1991. Cidade barroca do leste da Croácia, Vukovar sofreu um cerco de 87 dias. Em novembro de 1991, milícias sérvias, apoiadas pelo exército iugoslavo, massacraram a resistência croata e deportaram milhares de pessoas. Tomada pela Sérvia, Vukovar foi reintegrada à Croácia em 1998.

A guerra civil na Bósnia e em Kosovo


Guerra da Bósnia

No início dos anos 1990, a Bósnia-Herzegovina apresentava grande diversidade étnico-religiosa. Três grupos principais viviam na região: bósnios muçulmanos, sérvios cristãos ortodoxos e croatas católicos.



Diversidade religiosa na Bósnia

Em 1992, muçulmanos e croatas da Bósnia declararam independência em relação à Iugoslávia, que logo foi reconhecida pela União Europeia e pelos Estados Unidos. Os sérvios, por sua vez, decidiram ir à guerra, combatendo uma aliança de muçulmanos e croatas.



Muçulmanos e croatas da Bósnia (favoráveis a independência) x Sérvios (contrários a independência declarada)

O conflito chocou o mundo por sua crueldade. Os sérvios, buscando reconstruir o mapa demográfico da região sob sua hegemonia, promoveram uma “limpeza étnica”. Mais de 97 mil pessoas morreram na guerra. Cerca de 65% das vítimas eram muçulmanas.



Milhares de mortos no conflito

Diante da repercussão do conflito, em novembro de 1995, sérvios, croatas e bósnios selaram o Acordo de Dayton, que dividiu a Bósnia-Herzegovina em República Sérvia e Federação Bósnio-Croata.



Acordo de Dayton - Dividiu a Bósnia-Herzegovina em República Sérvia e Federação Bósnio-Croata.

A luta pela independência nacional ressurgiu mais tarde em Kosovo, província iugoslava de maioria muçulmana controlada pelos sérvios. A política de extermínio e deportações conduzida pelos sérvios levou ao bombardeio de Belgrado, a capital iugoslava, pelas forças da Otan. O conflito só terminou em junho de 1999, com um acordo entre o governo da Iugoslávia e a Otan. Com a emancipação de Montenegro em relação à Sérvia, em 2006, e de Kosovo, dois anos depois, a antiga Iugoslávia reduziu-se a sete pequenos países (veja o mapa).


 O desmembramento da Iugoslávia 


Dia da liberdade - 30 anos do fim do Apartheid na África do Sul

 Dia da Liberdade - Comemoração de 30 anos do fim do Apartheid. África do Sul comemora o 30º aniversário do ‘Dia da Liberdade’ do Apartheid ...