A Revolução Industrial (1ª Revolução Industrial)
A Revolução Industrial foi a transição para novos processos de fabricação na Grã-Bretanha, Europa continental e Estados Unidos, no período de cerca de 1760 a algum momento entre 1820 e 1840. Essa transição incluiu a passagem de métodos de produção manual para máquinas, novos processos de fabricação de produtos químicos e produção de ferro, o uso crescente de energia a vapor e hidráulica, o desenvolvimento de máquinas-ferramentas e a ascensão do sistema fabril mecanizado.
A mecanização da produção
Na segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial, a manufatura começou a ser substituída pela maquinofatura. Contínuos inventos no setor de fiação permitiram que as novas máquinas, operadas por poucos trabalhadores, aumentassem a velocidade e a precisão da produção. A tarefa do trabalhador era alimentar a máquina, controlar sua velocidade e zelar por sua manutenção.
Definição de maquinofatura
O setor têxtil foi pioneiro na industrialização. O fato de a produção artesanal têxtil ser uma das mais antigas, remontando às primeiras civilizações do Oriente Próximo, possibilitou que várias inovações fossem feitas no setor ao longo dos anos, tanto no Oriente quanto no Ocidente. As viagens e transações comerciais muitas vezes permitiam que inovações técnicas dos dois lados fossem compartilhadas e difundidas.
Setor têxtil na Primeira Revolução Industrial (1760 - 1840).
Um exemplo desse intercâmbio de conhecimentos é o tear de fitas, trazido do Oriente e aperfeiçoado no Ocidente. Ele permitia tecer várias fitas ao mesmo tempo, com o emprego de um único operário.
Gravura de 1834 representando máquinas de impressão de tecido acionadas por correias e eixos movidos por motores a vapor.
Inovações como essas elevaram a produtividade do setor têxtil e muitas vezes causaram revoltas entre os tecelões, que temiam ficar sem trabalho.
“Foi alguma coisa bem dramática o uso desse tear: temerosas do desemprego entre os tecelões, as autoridades de Dantzig [Gdansk, na Polônia], cidade do inventor, suprimiram o invento e estrangularam o autor. Isso aconteceu em 1579. E não foi o único caso. Muitos inventores ou inovadores foram perseguidos até com a morte para não afetarem a ordem estabelecida.”Inovações como essas elevaram a produtividade do setor têxtil e muitas vezes causaram revoltas entre os tecelões, que temiam ficar sem trabalho.
CANÊDO, Letícia Bicalho. A Revolução Industrial: tradição e ruptura – adaptação
da economia e da sociedade rumo a um mundo industrializado. 2. ed. São Paulo:
Atual; Campinas (SP): Editora da Unicamp, 1986. p. 16. (Coleção Discutindo a história)
Outra razão que explica o pioneirismo do setor têxtil na industrialização foi o interesse dos fabricantes em investir em inovações tecnológicas na produção, sem muitos custos. A Inglaterra já dominava o comércio mundial de tecidos manufaturados de algodão, que tinha dois fortes mercados: o tráfico de escravizados na África, principalmente, e as colônias europeias na América.
Antes de surgirem as primeiras fábricas, os tecidos de algodão comercializados pelos ingleses eram comprados principalmente na Índia, onde a Companhia Britânica das Índias Orientais exercia grande influência econômica, política e militar. Além de vender tecidos a baixo custo para os mercadores ingleses, a Índia* forneceu o algodão, matéria-prima que abasteceu as manufaturas e as primeiras fábricas têxteis criadas na Inglaterra.
* Índia: refere-se à Índia britânica (atuais Índia, Bangladesh, Paquistão e Mianmar), que se tornou área de influência do Império Britânico no século XVII e possessão colonial da Coroa inglesa em 1857.
Resumindo, a conjunção de experiência no setor, matéria-prima, capitais, mão de obra barata vinda dos campos, vasto mercado e leis que estimulavam a livre iniciativa possibilitaram que a Inglaterra desse o grande salto na produção de tecidos. Assim, foi criado o sistema fabril, ou seja, a indústria moderna. Reunindo máquinas operadas por trabalhadores, a fábrica era capaz de multiplicar a quantidade de artigos produzidos a um custo muito baixo.
Os inventos da Revolução Industrial
A madeira era o material básico empregado na fabricação das primeiras máquinas têxteis, que eram colocadas em movimento principalmente pela energia hidráulica. A dependência em relação à força da água levava muitos proprietários a instalar suas indústrias à margem dos rios.
Por que então o aperfeiçoamento da máquina a vapor por James Watt, em 1769, foi adotado como marco da Revolução Industrial? A importância da máquina a vapor nesse momento foi fornecer a força necessária para bombear a água das minas de carvão e extrair um mineral de melhor qualidade. O carvão foi o combustível que permitiu desenvolver a metalurgia do ferro.
As contínuas inovações na máquina a vapor e na fundição do ferro promoveram a grande mudança tecnológica da Revolução Industrial: a obtenção de um ferro barato que pôde substituir a madeira e ser utilizado na fabricação de máquinas, pontes, navios e ferrovias.
Fundição de ferro com custo menor auxiliou na expansão da Revolução Industrial na Inglaterra.
Veja os principais inventos que permitiram a mecanização da produção têxtil, que foi a primeira indústria moderna.
- Lançadeira volante (1735). Inventada por John Kay, a máquina permitia fabricar tecidos largos em menos tempo e com reduzida mão de obra.
Lançadeira volante e Spnning jenny
- Spinning jenny (1764). Invento de James Hargreaves que consistia em uma roda de fiar na qual o artesão controlava oito fusos de uma vez, podendo chegar a oitenta fusos.
- Water-frame (1769). Patenteado por Richard Arkwright, o invento usava a água como força motriz para produzir fios mais grossos, permitindo a fabricação de tecidos puros de algodão.
Water-frame (1769)
- Mule-jenny (1779). Inventada por Samuel Crompton, a máquina cruzava a tecnologia da jenny com a da water-frame, fabricando um fio fino e resistente, que podia ser utilizado na produção de tecidos de algodão, musselinas* e de vários outros materiais.
Mule-jenny (1779)
*Musselina: tecido fino, delicado e transparente de fibra de algodão, muito usado na confecção de vestidos.
Musselina
Muitas técnicas aplicadas na criação dessas máquinas resultaram de estudos anteriores à Revolução Industrial. A grande contribuição desses inventores foi reunir conhecimentos já existentes e aperfeiçoá-los com uma finalidade prática: a fabricação de máquinas que aumentavam de maneira espetacular a velocidade da produção. A concentração dos trabalhadores na fábrica, submetidos à rígida disciplina, permitiu baratear ainda mais os custos de produção e elevar os lucros dos proprietários.
As máquinas na Revolução Industrial
Ao longo dos séculos XVIII e XIX, inúmeras máquinas foram inventadas para automatizar processos produtivos já existentes, como a fiação e a tecelagem. O grande salto para a produção em larga escala ocorreu quando essas máquinas passaram a ser movimentadas por alguma força motriz não humana, e isso ocorreu em espaços que passaram a ser chamados fábricas.
As primeiras fábricas
Construídas na década de 1770, na Inglaterra, as primeiras fábricas aproveitavam o movimento da água dos rios para mover máquinas têxteis, permitindo a produção de fios e tecidos em um ritmo mais veloz do que nas manufaturas.
INFOGRAFIA: WILLIAM TACIRO, MAURO BROSSO E MARIO KANNO
A passagem para o vapor
Por séculos, inventores tentaram usar o vapor como fonte de energia. No século XVIII, uma sucessão de inovações técnicas permitiu aperfeiçoar os motores a vapor. A máquina a vapor inventada em 1769 pelo engenheiro escocês James Watt foi, por sua eficiência, revolucionária.
A máquina de Watt, aperfeiçoada mais tarde com outros inventos, foi empregada como força motriz nas minas de carvão, nas fábricas e nos transportes.
Como a Revolução Industrial impactou a organização do trabalho e a vida social do trabalhador?
A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no final do século XVIII, provocou profundas mudanças na organização do trabalho e na vida dos operários nas cidades industriais. Com a introdução das máquinas e do sistema fabril, o modelo de produção artesanal foi substituído pela produção mecanizada, caracterizada pela divisão do trabalho, aumento da produtividade e redução dos custos.
No entanto, essas transformações tiveram impactos sociais significativos:
1. Organização do trabalho
Divisão e especialização: Os trabalhadores passaram a desempenhar tarefas repetitivas e específicas, perdendo a autonomia sobre o processo produtivo.
Jornadas exaustivas: Eram comuns jornadas de 12 a 16 horas diárias, inclusive para mulheres e crianças.
Trabalho infantil: Crianças eram amplamente empregadas, muitas vezes em condições perigosas, devido ao baixo custo da mão de obra.
Disciplina rígida: Havia controle intenso do tempo, ritmo e comportamento dos trabalhadores, com punições para atrasos ou falhas.
2. Condições de vida
Urbanização acelerada: O êxodo rural levou milhares de pessoas às cidades industriais, resultando em crescimento desordenado.
Habitações precárias: Os bairros operários surgiram com condições insalubres, sem saneamento básico adequado.
Problemas de saúde: A poluição, a superlotação e a má alimentação provocavam epidemias e alta mortalidade.
Baixos salários: Apesar do aumento da produção, a maior parte dos lucros ficava com os donos das fábricas, enquanto os operários recebiam remunerações mínimas.
3. Consequências sociais
Surgimento do proletariado industrial: Uma nova classe social composta pelos trabalhadores das fábricas.
Conflitos e movimentos sociais: A exploração deu origem a movimentos como o ludismo (quebra de máquinas), cartismo (reivindicação de direitos políticos) e a formação dos primeiros sindicatos.
Desigualdade social: O crescimento econômico beneficiou principalmente a burguesia industrial, ampliando a distância entre ricos e pobres.
Como a Revolução Industrial impactou o espaço geográfico?
A Primeira Revolução Industrial (século XVIII – início do XIX) provocou profundas transformações no campo e, principalmente, nas cidades, dando origem a um processo intenso de urbanização. Esse fenômeno ocorreu devido à combinação de fatores econômicos, tecnológicos e sociais que alteraram a forma de viver e trabalhar.
1. Como ocorreu a urbanização
Êxodo rural: Com o avanço da mecanização no campo — como o uso de novas máquinas agrícolas — muitos camponeses perderam seus empregos e migraram para as cidades em busca de trabalho nas fábricas.
Crescimento das cidades industriais: Regiões com maior concentração de indústrias, como Manchester e Londres, na Inglaterra, passaram a receber grandes fluxos populacionais.
Transformação do espaço urbano: As cidades se expandiram rapidamente para abrigar os novos operários, mas sem planejamento adequado.
2. Principais consequências da urbanização
a) Condições de vida
Habitações precárias: O aumento rápido da população resultou em bairros superlotados e insalubres, conhecidos como cortiços.
Falta de saneamento básico: A ausência de infraestrutura favoreceu a proliferação de doenças e epidemias.
Aumento da criminalidade: A pobreza extrema e a falta de políticas públicas contribuíram para altos índices de violência.
b) Mudanças sociais
Surgimento do proletariado urbano: Uma nova classe social formada pelos trabalhadores das fábricas, submetidos a longas jornadas e baixos salários.
Ampliação das desigualdades: Enquanto a burguesia industrial acumulava riqueza, a maioria da população operária vivia em condições precárias.
Movimentos trabalhistas: A precarização da vida nas cidades impulsionou revoltas e a organização dos primeiros sindicatos.
c) Impactos ambientais
Poluição: O uso intensivo de carvão e a concentração de fábricas causaram poluição do ar e dos rios.
Degradação urbana: O crescimento desordenado gerou problemas estruturais que persistiram por décadas.
Resumo
A urbanização durante a Primeira Revolução Industrial foi rápida, intensa e desordenada. Se, por um lado, trouxe oportunidades de emprego e dinamizou a economia, por outro, gerou péssimas condições de vida, desigualdade social, problemas ambientais e conflitos trabalhistas.
A relação entre a Revolução Industrial e o Capitalismo
A Primeira Revolução Industrial (século XVIII – início do XIX) está diretamente ligada ao surgimento do capitalismo industrial, um novo modelo econômico que transformou profundamente a forma de produzir, consumir e distribuir riquezas no mundo.
1. Relação entre a Revolução Industrial e o capitalismo industrial
Antes da Revolução Industrial, predominava o capitalismo comercial, marcado pelo lucro obtido principalmente nas trocas marítimas, no comércio de especiarias, metais preciosos e escravos. Com o advento da Revolução Industrial, esse modelo evoluiu para o capitalismo industrial, caracterizado por:
Produção mecanizada em larga escala → substituiu o trabalho artesanal.
Investimento em tecnologia e máquinas → o capital passou a ser aplicado na indústria, não apenas no comércio.
Formação da burguesia industrial → empresários e donos de fábricas que passaram a controlar os meios de produção.
Surgimento do proletariado urbano → trabalhadores assalariados que vendiam sua força de trabalho.
2. Alterações na economia mundial
A Revolução Industrial ampliou a interdependência entre as nações e reorganizou as relações econômicas globais:
a) Crescimento da produção e do consumo
A produção de bens aumentou de forma inédita, tornando produtos antes caros mais acessíveis.
O surgimento do mercado de massas estimulou novas formas de consumo.
b) Expansão do comércio internacional
Países industrializados passaram a exportar produtos manufaturados e a importar matérias-primas baratas.
Criou-se uma relação de dependência entre países industrializados (centro) e não industrializados (periferia).
c) Desenvolvimento do sistema financeiro
Bancos, bolsas de valores e companhias de investimento cresceram para sustentar a industrialização.
O crédito e os empréstimos tornaram-se essenciais para financiar fábricas e novas tecnologias.
d) Imperialismo e colonização
As potências industriais buscaram mercados consumidores e fontes de matéria-prima em outras regiões, intensificando a colonização na África e na Ásia.
Resumo
A Primeira Revolução Industrial deu origem ao capitalismo industrial, que transformou a economia mundial ao:
Aumentar a produção e o consumo;
Intensificar o comércio global;
Consolidar a supremacia dos países industrializados;
Gerar novas desigualdades econômicas e sociais.
Vivemos a Quarta Revolução Industrial?
Segundo alguns economistas, o mundo vive hoje a Quarta Revolução Industrial. Integrando tecnologias digitais, físicas e biológicas, ela afetará, na visão deles, a vida de todas as pessoas.
“Há três razões pelas quais as transformações atuais não representam uma extensão da Terceira Revolução Industrial, mas a chegada de uma diferente: a velocidade, o alcance e o impacto nos sistemas. [...]
Também chamada de 4.0, a revolução acontece após três processos históricos transformadores. A primeira marcou o ritmo da produção manual à mecanizada, entre 1760 e 1830. A segunda, por volta de 1850, trouxe a eletricidade e permitiu a manufatura em massa. E a terceira aconteceu em meados do século XX, com a chegada da eletrônica, da tecnologia da informação e das telecomunicações.
Agora, a quarta mudança traz consigo uma tendência à automatização total das fábricas [...]. O que vem por aí, dizem os teóricos, é uma ‘fábrica inteligente’. Verdadeiramente inteligente. O princípio básico é que as empresas poderão criar redes inteligentes que poderão controlar a si mesmas. [...]
[A] parte mais controversa da quarta revolução [é que] ela pode acabar com 5 milhões de vagas de trabalho nos quinze países mais industrializados do mundo.”
PERASSO, Valeria. O que é a 4a Revolução Industrial e como
ela deve afetar nossas vidas. BBC Brasil, 22 out. 2016.
Disponível em <http://mod.lk/ym7jd>. Acesso em 16 jan. 2020.
JOHN THYS/AFP
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