quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Expansão do comércio e das cidades

A expansão do comércio e das cidades



Transformações na Europa cristã

Você viu que o comércio dos europeus ocidentais com o Oriente, através do Mar Mediterrâneo, diminuiu de forma acentuada desde o século III até os primeiros séculos da Idade Média. Apesar disso, a navegação comercial no Mediterrâneo continuou, mas com novos atores: os bizantinos e, a partir do século VIII, também os árabes muçulmanos.


O mesmo ocorreu com o comércio no interior da Europa. Ele reduziu drasticamente, mas nunca desapareceu. Porém, a partir do século X, várias transformações ocorridas na Europa medieval permitiram incrementar o comércio interno, que cresceu muito nos três séculos seguintes.


Algumas dessas transformações foram as inovações agrícolas. Por exemplo, o sistema trienal de cultivo e o arado charrua foram introduzidos nos campos da Alemanha, Países Baixos e norte da Europa, o que permitiu aumentar as colheitas e produzir mais alimentos para a população.


Quando essas mudanças se disseminaram pelas propriedades rurais do centro e do sul da Europa, entre os séculos XI e XIII, as crises de fome tornaram-se menos frequentes e as epidemias diminuíram. O resultado foi a elevação da expectativa de vida e, consequentemente, o crescimento populacional.


Segundo o historiador Hilário Franco Jr., entre o século XI e princípio do XIV, a população da Inglaterra e de Gales teria crescido de 1,5 milhão para 3,75 milhões; a da França, de 6,5 milhões para 16 milhões; e a da Espanha, de 4 milhões para 7,5 milhões de habitantes.


Com as novas técnicas agrícolas e o aumento da população, a quantidade de trabalhadores nos campos passou a ser maior do que era necessário para o cultivo. Muitas pessoas então migraram em busca de novas terras ou se deslocaram para as cidades, onde assumiam as funções de artesãos, comerciantes e banqueiros, por exemplo. E, à medida que a população urbana crescia, aumentava também a procura por alimentos e por outros produtos para o consumo.



Mercadores na feira de Lendit, ilustração publicada no manuscrito Grandes crônicas da França, século XIV.


A expansão do comércio e das cidades

O comércio que começou a crescer na Europa por volta do século X tinha dois centros principais: o eixo do Mediterrâneo, que se estendia até o Mar Egeu e o Mar Negro e era controlado pelas cidades italianas, e o eixo nórdico, situado entre o Canal da Mancha e o Mar Báltico, dominado principalmente por mercadores flamengos.



Rotas comerciais


O principal comércio que interligava os dois eixos era o têxtil. A lã bruta era comercializada em feiras da Inglaterra e manufaturada em Flandres. De lá, os tecidos eram vendidos por comerciantes flamengos na Alemanha, na Rússia e no sul da Europa, de onde eram levados, por comerciantes italianos, até o Oriente. Com o tempo, as cidades italianas de Gênova e Florença aprimoraram as técnicas de acabamento e tingimento de tecidos, concorrendo com a produção de Flandres.


Ao longo desses dois grandes eixos comerciais havia mercados e feiras, locais onde vendedores e compradores negociavam diferentes produtos. Nos mercados os comerciantes se encontravam semanalmente para vender seus produtos. As feiras ofereciam maior quantidade e variedade de produtos e, por isso, eram realizadas normalmente uma vez ao ano. A principal delas era a de Champanhe, na França.



Detalhe de miniatura representando mercado na cidade de Praga, século XV.


O crescimento urbano

A expansão das cidades na Europa ocorreu concomitantemente à expansão do comércio. Por isso, muitos dos centros urbanos que foram fundados ou cresceram no período tinham ligações com as rotas de comércio de maior fluxo de pessoas e de produtos.


Nas antigas cidades, os sinais mais evidentes dessa mudança eram as novas habitações que surgiam em torno das muralhas. Essas aglomerações receberam nomes diferentes, e o que prevaleceu foi burgos. Os habitantes dos burgos eram chamados burgueses.


As cidades obtinham uma carta de franquia que as liberava da cobrança de direitos senhoriais, como taxações sobre o mercado e o trânsito de pessoas e de mercadorias, e tinham privilégios que lhes permitiam manter governo, justiça e milícias autônomas.


Os órgãos administrativos das cidades eram dominados pelas famílias mais ricas e influentes, tanto da aristocracia tradicional quanto da elite urbana burguesa. Essas facções da elite lutavam com frequência entre si, mas em geral o poder dos senhores feudais prevalecia sobre o poder dos burgueses.


Não se pode comparar, no entanto, a grande cidade medieval com as metrópoles atuais. Naquele período, o campo predominava em relação à cidade: não era incomum, por exemplo, encontrar no interior das muralhas urbanas áreas de cultivo e de criação de animais.


As corporações de ofício

O crescimento da população urbana foi acompanhado do incremento da produção artesanal. Isso porque o aumento da procura por diversos produtos significou, para muitos trabalhadores, a oportunidade de exercer um ofício que lhes permitisse sobreviver.


Os diferentes ofícios do artesão não tinham o mesmo reconhecimento social. Enquanto alguns desfrutavam de grande prestígio, como os ofícios de ourives e de ferreiro, outros eram menosprezados, como o de carniceiro e de peleiro, por envolver contato com sangue e sujeira.


Nas cidades, os artesãos se organizavam muitas vezes em corporações de ofício, associações que controlavam a qualidade e o preço dos produtos e protegiam os artesãos da concorrência.


Cada oficina era comandada por um mestre de ofício. Ele administrava o trabalho dos companheiros e dos aprendizes. Os primeiros eram trabalhadores especializados, que já tinham concluído a aprendizagem do ofício. Eles trabalhavam em troca de um salário, que podia ser pago em dinheiro ou na forma de abrigo, vestuário e alimentação. Os aprendizes iniciavam o ofício entre 10 e 12 anos de idade. Escolhidos entre os familiares do mestre, esses jovens em geral não recebiam salário, apenas abrigo e alimentação.



As profissões, ilustração de Cristoforo de Predis, século XV.


Novos personagens das cidades

Nas cidades, a leitura e a escrita passaram a ter grande importância, tanto para as famílias de médios e ricos burgueses quanto para as de artesãos. A leitura permitia controlar os negócios com mais eficiência, fazer contas e administrar os bens da família.


Muitas escolas clericais foram fundadas a partir do século XII nas cidades. Nelas os alunos aprendiam canto, leitura, escrita, aritmética, religião e latim. As famílias ricas pagavam uma quantia para manter as escolas e remunerar os mestres. As crianças pobres que viviam sob os cuidados da Igreja estudavam gratuitamente.


As primeiras universidades do Ocidente, fundadas no século XI, ofereciam aos jovens maiores de 16 anos uma vida de mais liberdade em relação às famílias. Nas cidades, os estudantes, todos do sexo masculino, instalavam-se em alojamentos coletivos ou em pensões.


A disciplina nas universidades era severa. Castigos físicos, como a aplicação de palmatórias ou chibatadas, eram comuns. Alguns estudantes abandonavam o curso e escolhiam a vida das tabernas, local onde se divertiam bebendo vinho. Já os mais letrados se dedicavam também à música e à poesia. Eram os chamados goliardos.



Um professor e seus alunos, miniatura de uma edição popular da obra Nosso Pai, de Zucchero Bencivenni, século XIV.


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