quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Revoluções Inglesas do século XVII (Revolução Puritana e Revolução Gloriosa)

Revoluções Inglesas do século XVII 


Revoluções Inglesas (Revolução Puritana e Revolução Gloriosa)


A era da dinastia Tudor

A dinastia Tudor governou a Inglaterra do final do século XV até o início do século XVII. Nesse período, a Inglaterra passou por grande desenvolvimento econômico e transformações políticas. Mesmo com um Parlamento atuante, os reis dessa dinastia conseguiram fazer alianças e impor suas decisões a todas as camadas sociais e grupos religiosos do país. Com eles, a autoridade da Coroa ganhou força, e a Inglaterra tornou-se uma potência comercial e marítima.


Os principais governantes da dinastia Tudor foram Henrique VIII (1491-1547) e sua filha Elizabeth I (1533-1603). Henrique VIII assumiu o trono em 1509 e teve papel importante ao romper com a Igreja Católica. Em 1534, ele fez o Parlamento votar o Ato de Supremacia, que o proclamou chefe supremo da Igreja inglesa, conhecida como Igreja Anglicana. Os bens da Igreja Católica na Inglaterra foram confiscados pela Coroa e vendidos a nobres e burgueses do reino.


O governo da rainha Elizabeth I

Com a rainha Elizabeth I, o absolutismo inglês chegou ao auge. Seguindo os passos do pai, ela conseguiu fortalecer a autoridade real. Controlou a disputa política e religiosa entre católicos e protestantes, estabeleceu boas relações com o Parlamento e conseguiu fazer da Igreja Anglicana uma igreja nacional, o que reforçou a unidade do país.


Para superar as dificuldades econômicas em que a Inglaterra se encontrava, Elizabeth I também procurou desenvolver o comércio e a indústria naval. Seguindo a lógica da política mercantilista, ela estimulou a produção de manufaturas, com o objetivo de diminuir as exportações. Além disso, fez da navegação a base do forte crescimento econômico de seu reinado, por meio da conquista de colônias e da pirataria. 


Após derrotar a Invencível Armada espanhola, em 1588, a Inglaterra tornou-se a maior potência marítima do mundo. Assim, os ingleses conquistaram valiosas colônias ultramarinas na América e na África, das quais obtinham matérias-primas. Essas regiões também eram as principais consumidoras dos produtos manufaturados ingleses, principalmente tecidos.


A expansão marítima inglesa favoreceu a grande burguesia, que acumulou fortunas com a exploração comercial e a pirataria. Os grandes burgueses também foram beneficiados pela concessão de monopólios, que lhes dava o direito exclusivo de fabricar ou comercializar determinados produtos.


Foi também durante o governo de Elizabeth I que houve um expressivo crescimento populacional e o aumento das desigualdades entre ricos e pobres, com um número cada vez maior de soldados feridos, trabalhadores têxteis sem ocupação e lavradores sem-terra (veja o boxe da página seguinte). O aumento do preço dos alimentos e uma série de colheitas ruins provocaram fome entre os mais pobres. Diante desse quadro, entre 1572 e 1601 foram aprovadas leis e taxas com a finalidade de angariar fundos para socorrer a população miserável e fornecer materiais como ferro, lã e linho para que os desempregados pudessem trabalhar.


A prosperidade da Era Tudor

Os reis da dinastia Tudor conseguiram governar de forma absoluta graças à prosperidade econômica da Inglaterra. O desenvolvimento das manufaturas, a política mercantilista e a pirataria realizada sobre os navios estrangeiros enriqueceram mercadores, donos de manufaturas e prestadores de serviços. Esses burgueses ricos apoiavam a monarquia, que em troca os beneficiava com a concessão de monopólios comerciais geradores de altos lucros.


No período Tudor surgiu também uma camada de proprietários rurais conhecida como gentry. Oriundos da pequena nobreza, esses novos proprietários entraram em cena com a aquisição de terras confiscadas da Igreja Católica pelo rei Henrique VIII. Ao contrário da grande aristocracia de sangue, de origem feudal, a gentry tinha uma mentalidade capitalista, visando produzir para os mercados interno e externo. Com essa perspectiva, as terras dessa nova nobreza foram destinadas principalmente à criação de ovelhas, que forneceriam lã para as manufaturas de tecidos.


A grandeza econômica da Era Tudor foi favorecida ainda pela habilidade com que seus reis negociaram com o Parlamento. A monarquia inglesa não só deixou de ser alvo de ataques como também recebeu relativo apoio dessa instituição, que representava diferentes setores da sociedade inglesa.


A prática dos cercamentos

Na Inglaterra do século XVI, além das propriedades particulares, havia as chamadas terras comunais. Embora pertencessem a um senhor, essas terras eram utilizadas de maneira coletiva por pessoas mais pobres, que lá pastoreavam animais, pescavam e obtinham lenha.


A partir do século XVI, as terras comunais passaram a ser cercadas por particulares, interessados principalmente em ampliar a criação de ovelhas, que fornecia a matéria-prima essencial para o próspero comércio de tecidos. Propriedades desse tipo espalharam-se pelo território inglês a partir do século XVIII, quando o governo acelerou a política de cercamentos, como ficou conhecida essa prática. 


Os cercamentos causaram um forte impacto social no país. A maior parte dos camponeses, expulsos das terras, passou a vagar sem rumo pelas estradas e florestas ou migrou para as cidades em busca de trabalho. 


A dinastia Stuart

A morte da rainha Elizabeth I, em 1603, encerrou a dinastia Tudor. Sem herdeiros diretos, o trono inglês foi assumido por um primo da monarca, Jaime VI da Escócia. Membro da família Stuart, ele assumiu o trono da Inglaterra como Jaime I, iniciando assim uma nova dinastia.


Jaime I reinou de maneira absolutista, segundo a teoria francesa do direito divino dos reis, colocando-se como um representante de Deus. Durante seu governo, adotou medidas religiosas, econômicas e políticas que desagradaram boa parte da população e geraram diversas crises entre a Coroa e o Parlamento.


Os conflitos da Era Stuart

Os conflitos políticos e sociais que levariam à revolução na Inglaterra também tinham uma face religiosa. Em geral, os novos burgueses e os membros da gentry eram puritanos ou presbiterianos, que não tinham os benefícios dos monopólios reais concedidos aos anglicanos. Descontentes com os privilégios das companhias de comércio protegidas pela Coroa, os novos burgueses passaram a defender um governo menos autoritário e que interferisse menos na economia. 


O primeiro conflito importante enfrentado pelo rei Jaime I foi a chamada Conspiração da Pólvora, em 1605. Planejado por um grupo de católicos também descontentes com a distribuição de privilégios, o movimento tinha como objetivo provocar a morte do rei por meio da explosão de barris de pólvora escondidos embaixo do Parlamento. A conspiração foi descoberta e todos os envolvidos foram mortos.


Jaime I também enfrentou agitações e revoltas de camponeses que haviam perdido suas terras com os cercamentos e estavam famintos e sem trabalho. Além disso, o monarca criou atritos com o Parlamento ao tentar aumentar o valor dos impostos e criar novas taxas. 


A Revolução Puritana

Após a morte de Jaime I, em 1625, seu filho Carlos I assumiu o trono da Inglaterra. Ele restabeleceu a cobrança de impostos navais sobre as cidades costeiras e impôs aos presbiterianos da Escócia as regras da Igreja Anglicana. O autoritarismo do novo governante agravou os conflitos entre a Coroa e o Parlamento. 


Em 1642, o rei mandou invadir o Parlamento, provocando uma guerra civil no país. Do lado do rei estava a alta nobreza, católica e anglicana. Ao lado do Parlamento, se colocaram os pequenos proprietários de terra, a pequena nobreza rural (gentry), a nova burguesia mercantil e os donos de manufaturas, a maior parte presbiterianos. Eles eram apoiados ainda pelos grupos mais radicais, formados pelos setores excluídos da sociedade, que lutavam por democracia política, pela organização dos pobres em comunidades coletivas, pelo direito dos camponeses à terra e pela liberdade religiosa. 


Após sete anos de conflito, o exército do Parlamento, comandado pelo puritano Oliver Cromwell, prendeu, julgou e executou Carlos I. A vitória de Cromwell inaugurou a República Puritana. Ele eliminou taxações excessivas, sufocou revoltas internas e aprovou, em 1651, os Atos de Navegação, determinando que as mercadorias negociadas com a Inglaterra só poderiam ser transportadas em navios ingleses ou de países produtores. 


Inicialmente aclamado, Cromwell logo se tornou um ditador e passou a receber críticas até mesmo entre seus apoiadores puritanos. Após sua morte, em 1658, o caminho foi aberto para a restauração monárquica.


Um novo exército (New Model Army)

O exército liderado por Oliver Cromwell ficou conhecido como Exército de Novo Tipo, pois apresentava uma configuração distinta da do exército da Coroa: seus membros, voluntários, eram em sua maior parte pequenos e médios proprietários rurais e comerciantes. Além disso, os soldados eram promovidos de acordo com seus méritos pessoais, independentemente de sua origem, e tinham liberdade para discutir e refletir sobre suas ações.


A Revolução Gloriosa

Em 1660, com Carlos II, a dinastia Stuart voltou ao poder. Simpático à Igreja de Roma, o rei acabou com as leis que restringiam a atuação dos católicos. 


Jaime II, seu irmão e sucessor, tentou restaurar o poder do catolicismo na Inglaterra. As reações dos anglicanos e dos puritanos foram intensas. Em 1688, o Parlamento, apoiado por comerciantes, financistas e proprietários rurais, depôs Jaime II e colocou no trono sua filha Maria e o marido dela, o holandês Guilherme de Orange, ambos protestantes. Esse episódio ficou conhecido como Revolução Gloriosa. 


Em 1689, o poder do Parlamento foi consolidado pela Carta de Direitos (Bill of Rights). Leia a seguir um trecho do documento.


“Considerando que tendo Jaime II abdicado e estando o trono vacante, Sua Alteza, o Príncipe de Orange, ordenou a eleição de deputados para o Parlamento; estes agora reunidos como representantes totais e livres desta nação, declaram: 


01 - Que o pretenso poder de suspender as leis, ou a execução das leis, pela autoridade régia, sem o consentimento do Parlamento, é ilegal. […]

02 - Que o direito de cobrar impostos para o uso da Coroa, com o pretexto de privilégio, sem outorga do Parlamento, é ilegal.

03 - Que é direito dos súditos apelar para o Rei e que todos os obstáculos que lhe forem colocados são ilegais.

04 - Que o recrutamento e manutenção de um exército, em tempo de paz, é ilegal sem o consentimento do Parlamento. […]

05 - Que a eleição dos membros do Parlamento deve ser livre.

06 - Que a liberdade de palavra nos debates e atas do Parlamento não deve ser questionada em nenhuma corte ou lugar fora do Parlamento.”

Bill of Rights (1689). In: Coletânea de documentos históricos para o 1o grau: 5a a 8a séries. São Paulo: Secretaria de Educação/Cenp, 1980. p. 84.


As Revoluções Inglesas, em síntese, resultaram de uma aliança entre a burguesia urbana e a nobreza capitalista rural, a gentry, unidas em torno do Parlamento. Ao assumir o controle do Estado inglês, esses grupos eliminaram as restrições mercantilistas e as barreiras ao avanço dos cercamentos e criaram as condições para o desenvolvimento acelerado do capitalismo na Inglaterra, tanto no campo quanto nas cidades. 



Revoluções Inglesas - Mapa mental


Avaliação sobre esse assunto (Revoluções Inglesas)

https://forms.gle/5KbRHmDtbhEGCzFPA


Próxima aula - A Inglaterra na liderança da economia europeia

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