sexta-feira, 24 de março de 2023

O Renascimento nas artes

Renascimento nas artes
Península Itálica: berço da nova arte

O pensamento humanista também se manifestou nas artes visuais do Renascimento, que colocaram em evidência o potencial sensível do ser humano e sua capacidade de representar o mundo.

A Península Itálica foi o berço desse movimento e o local onde ele atingiu o esplendor. 

A riqueza proveniente das atividades comerciais e bancárias permitiu formar na região uma próspera e orgulhosa burguesia, que passou a financiar o trabalho de pintores, escultores e arquitetos.

Ao atuar como mecenas, ou seja, protetores e patrocinadores dos artistas, esses ricos burgueses tinham duplo objetivo: exibir sua riqueza e imortalizar sua figura. Entre os mecenas, destacaram-se a família Médici, em Florença, os Sforza, em Milão, e os Bentivoglio, em Bolonha. Até mesmo papas, como Júlio II, investiram nas artes como forma de reforçar o poder da Igreja e conquistar a admiração dos fiéis.

Giotto: o precursor do Renascimento

Por volta de 1200, a cidade de Florença já era uma grande potência mercantil. Nessa cidade, como em Paris, Veneza e outros centros econômicos e culturais da Europa, as criações artísticas expressavam a riqueza das famílias burguesas e da Igreja e a crescente valorização da vida terrena. Grandes catedrais construídas em várias cidades europeias a partir do século XIII se transformaram na principal marca da arte gótica, o estilo artístico desse novo período.

Na pintura, o florentino Giotto di Bondone (c. 1267-1337) se destacou por conseguir representar em suas pinturas paisagens e figuras humanas com grande realismo, criando a ilusão de profundidade, uma novidade no período. Por afastar-se da ­rigidez da arte bizantina e criar cenas que pareciam reais, ­Giotto é considerado o principal precursor do Renascimento.


Madona de todos os santos, pintura de Giotto di Bondone, c. 1300-1305. Essa obra ainda conserva o dourado e a expressão austera das pinturas bizantinas. Mas já percebemos o uso da perspectiva ao criar uma ilusão de profundidade no trono da Virgem. Além disso, as figuras têm alguma expressão mais humana, com traços que as aproximam do real.


Gárgula localizada na Catedral de Notre Dame, em Paris (França), construída entre 1163 e 1345. As gárgulas, esculturas típicas da arte gótica, tinham dupla função: religiosa, de guardiã do templo; e técnica, de descartar a água da chuva longe das paredes.

O Renascimento em Florença

Com Giotto, os habitantes da Península Itálica redescobriram o orgulho do seu passado de esplendor e poder, quando todo o Mediterrâneo era domínio romano. Relatos da época mostram que os setores mais letrados da população peninsular estavam cientes de que uma grande renovação cultural e intelectual estava acontecendo nas cidades italianas e ficavam orgulhosos disso.

Em nenhuma cidade italiana esse sentimento otimista era tão forte como em Florença, terra natal de Giotto e do escritor Dante Alighieri. Foi nessa cidade, ­governada pelos Médici, uma poderosa família de banqueiros, que um grupo de artistas decidiu criar uma nova arte. Com Brunelleschi, Donatello e mais tarde Botticelli, o Renascimento atingiu, no século XV, sua fase madura.

Filippo Brunelleschi (1377-1466). Líder do movimento de artistas, projetou a cúpula da Catedral de Florença, que se transformou em modelo para a arquitetura renascentista.

Donatello (1386-1466). Escultor, ficou conhecido por abordar temas religiosos em suas obras, embora elas também exaltassem a figura humana. Preocupou-­se com o rigor na representação humana, transmitindo expressões e sentimentos. Entre suas esculturas destacam-se São Jorge e Gattamelata.

Sandro Botticelli (1445-1510). Dedicou-se aos nus, aos temas religiosos e mitológicos, além de pintar quadros e retratos encomendados por famílias burguesas. O nascimento de Vênus é sua obra mais famosa.
A projeção de Florença e mais tarde de Roma como principais centros do Renascimento mostram que, ­desde aquela época, dinheiro e arte já caminhavam juntos. Sem o patrocínio de comerciantes, banqueiros e papas, artistas como Botticelli e Michelangelo talvez não tivessem marcado a história da arte europeia com suas pinturas e esculturas.


Primavera, pintura de Sandro Botticelli, c. 1482.

O Renascimento em Roma

Se a cidade de Florença foi o berço do Renascimento, Roma foi o local de seu maior esplendor. A antiga capital imperial, entre 1450 e 1530, foi a sede da Alta Renascença, o apogeu da arte renascentista italiana.

O fato de Roma reunir elementos da tradição cristã e da Antiguidade Clássica contribuiu para que a cidade atraísse muitos artistas e estudiosos. Além disso, um amplo projeto de revitalização da cidade empreendido pelo papado foi fundamental para a realização de grandes obras nesse período.

Em Roma, trabalhando para a Igreja e para famílias nobres e burguesas, destacaram-se Michelangelo, Rafael e Leonardo da Vinci.

Michelangelo Buonarroti (1475-1564). Procurou exaltar ao máximo a natureza humana. Entre suas obras destacam-se os afrescos no teto da Capela Sistina, no Vaticano, e as esculturas Davi, Moisés e Pietá.

Rafael Sanzio (1483-1520). Elaborou um estilo que valorizava a clareza das figuras. Ficou conhecido como o “pintor das Madonas” devido à série de representações que fez da Virgem Maria com o menino Jesus.

Leonardo da Vinci (1452-1519). Considerado o melhor exemplo do homem universal, foi pintor, escultor, matemático, arquiteto, engenheiro e inventor. Pintou, entre outras obras, A última ceia, A Virgem e o menino com Sant’Ana e a Mona Lisa, provavelmente a obra mais famosa do mundo.

Em Veneza, o maior expoente da pintura renascentista desse período foi Ticiano (1488-1576). Considerado o “mestre da cor”, era capaz de fazer com a tinta o que Michelangelo fazia com o mármore. Pintou vários retratos de homens poderosos da época.



O juízo final, detalhe da pintura de Michelangelo Buonarroti na parede do altar da Capela Sistina, 1535-1541. Michelangelo também pintou o teto da capela, uma obra suntuosa, realizada entre 1508 e 1512, a pedido do papa Júlio II. As cenas desse grande afresco representam as principais narrativas bíblicas, da criação do mundo à época de Jesus.

Capela Sistina

Acesso em 10 jan. 2020.

O site do Vaticano oferece um tour virtual pela Capela Sistina. O teto e a parede do altar foram pintados por Michelangelo. Já as demais paredes apresentam o trabalho de diversos artistas, como Botticelli. Navegue e conheça essas obras-primas do Renascimento.

A obra de Leonardo da Vinci


Inovações da arte renascentista

Inspirados nos valores humanistas, os artistas do Renascimento enfatizavam em suas obras a natureza, os animais e, principalmente, o ser humano. Entre os principais temas estavam a mitologia greco-romana e os personagens bíblicos, que mostram a síntese da religião cristã com a cultura clássica pagã.

Os artistas renascentistas também partiam da concepção de que a beleza em uma obra de arte ­tinha como função principal proporcionar prazer ao observador. Assim, procuraram recriar a realidade e buscar a perfeição na representação das formas, empregando, para isso, conhecimentos de geometria e de óptica. Nesse sentido, os artistas assumiram cada vez mais o papel de “cientistas das artes”.

Essa aliança entre humanismo e ciência definiu uma característica geral do Renascimento: o ­universalismo, que tinha como base a visão de que o ser humano ­deveria desenvolver todas as áreas do saber, assumindo a atitude de um sábio capaz de se posicionar ativamente num mundo dinâmico e em transformação.

Na pintura, os renascentistas desenvolveram diversas técnicas inovadoras para atingir a beleza, o realismo e a perfeição. O uso da perspectiva, por exemplo, criava a impressão de profundidade e de volume na pintura, que adquiria, aos olhos do observador, uma realidade tridimensional. Outra inovação foi a técnica de luz e sombra, que possibilitou o uso das cores, dos tons e meios-tons para representar cenas, emoções e movimentos.


Mona Lisa (ou Gioconda), pintura de Leonardo da Vinci, 1503-1506. Nessa pintura, Da Vinci utilizou a técnica do sfumato, que consiste em fundir diversas cores e em não desenhar os contornos com clareza.

O Renascimento ao norte dos Alpes

Na primeira metade do século XV, enquanto o Renascimento atingia seu ponto culminante na Península Itálica, em outras regiões da Europa, especialmente nos Países Baixos, mudanças importantes também ocorriam no campo da arte, com destaque para o trabalho do pintor flamengo Jan van Eyck (1390-1441).

Além de desenvolver a técnica da pintura a óleo, que permitiu trabalhar mais vagarosamente e com maior exatidão, criando transições de cores mais suaves, Eyck dedicou-se à observação e à reprodução minuciosa da natureza, produzindo obras que impressionam pelo realismo e pela riqueza de detalhes.

O desejo de produzir uma arte mais próxima do mundo real inspirou tanto os artistas italianos quanto os que viviam ao norte dos Alpes. Contudo, as técnicas empregadas por eles diferiam bastante. Apesar das inovações introduzidas por Jan van Eyck, faltava a esses artistas o rigor científico dos italianos.

Porém, a partir do final do século XV, as diferenças técnicas entre os dois Renascimentos diminuíram muito. Nesse período, artistas como o alemão Albrecht Dürer (1471-1528) passaram a se dedicar ao estudo de novas técnicas, especialmente no que se refere à perspectiva, à anatomia e à arquitetura clássica. Isso não significa que tenham abandonado seus antigos mestres. Em suas obras, eles buscaram combinar o ideal de beleza clássico com a representação realista da anatomia humana e da natureza.

No norte da Europa, os temas da cultura greco-­romana não tinham muita presença e despertaram ­menos interesse dos artistas. Eles estavam mais preocupados em representar o mundo à sua volta com realismo. A representação de plantas, animais e do rosto humano, feita com base em estudos de anatomia, por exemplo, foi um dos destaques da arte de Albrecht Dürer.



Autorretrato, pintura de Albrecht Dürer, 1493.

FIM

Próxima aula, a Reforma Protestante: uma nova divisão da cristandade

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