A crise do imperialismo europeu - Independência na África
A dominação imperialista europeia na África passou a ser sistematicamente questionada a partir das sucessivas crises que atingiram a Europa entre 1914 e 1945. Os conflitos mundiais e a grave crise econômica do período entreguerras revelaram que não havia mais condições políticas para a manutenção de colônias.
Imperialismo europeu no continente africanoA Primeira Guerra Mundial marcou o fim dos grandes impérios. O intenso conflito entre as potencias imperialistas europeias enfraqueceu os seus domínios ao longo do globo terrestre.
Além da dificuldade em preservar o sistema de dominação colonial, os europeus, em 1945, haviam acabado de lutar contra ditaduras em seu próprio continente, fato que tornava incoerente a preservação de colônias na África e na Ásia. Por outro lado, parte da população desses continentes já se organizava para conquistar sua independência.
A Segunda Guerra Mundial significou a luta de alguns países europeus contra o autoritarismo e o totalitarismo. Não tinha muita lógica, no pós segunda guerra, os países vitoriosos praticarem os mesmos defeitos que seus inimigos. Além dessas nações (europeias) terem saído debilitadas do conflito.
Também a Organização das Nações Unidas (ONU), criada em 1945, reforçou a defesa da igualdade entre os países. A Carta das Nações Unidas, assinada por todos os países-membros da entidade, determinava que as metrópoles europeias consultassem os habitantes dos territórios dominados para encontrar a melhor forma de lhes conceder autonomia política e econômica. Mas, mesmo com a recomendação da ONU, muitas metrópoles se recusavam a emancipar seus territórios coloniais, situação que serviu para intensificar e radicalizar a luta anti-imperialista.
A Carta das Nações determinava que as metrópoles consultassem os habitantes das colônias sobre a dominação europeia em seu território.
Ainda na conjuntura internacional, as disputas ideológicas entre capitalismo e socialismo, que se refletiram principalmente nos interesses da União Soviética e dos Estados Unidos em ampliar seus respectivos blocos de países aliados, criaram um contexto internacional favorável aos movimentos de independência.
A Guerra Fria influenciou no fortalecimento de movimentos nacionalistas favoráveis ao processo de emancipação política no continente africano.
Tão importantes quanto os fatores externos foram as condições internas nas colônias africanas, em particular a constituição de uma elite intelectual nativa que desenvolveu as bases ideológicas dos movimentos pela independência na África, como estudaremos a seguir.
O pan-africanismo
A influência do pan-africanismo no processo de descolonização da África.
Movimentos de resistência contra o colonizador ocorreram praticamente durante todo o período de dominação europeia na África. Exemplos dessa resistência anticolonial foram as lutas dos herero, dos ashanti e dos maji-maji, ocorridas entre o final do século XIX e o início do século XX. Esses movimentos, porém, eram isolados e não tinham uma direção e um projeto político comum, capaz de aglutinar forças para o enfrentamento dos imperialistas europeus.
Pan-africanismo
O movimento pan-africano foi o primeiro a assumir esse papel. Criado no início do século XX por intelectuais negros das Antilhas e dos Estados Unidos, o movimento pregava a solidariedade dos negros oprimidos pela segregação racial nessas regiões. Apesar de expressar a consciência de uma identidade comum que unia os povos negros da América e da África, o pan-africanismo levou algumas décadas até se tornar uma força política no continente africano.
Necessidade de criar identidade e unir as pessoas africanas e afrodescendentes.
Foi apenas a partir do V Congresso Pan-Africano de Manchester, realizado em 1945, na Grã-Bretanha, que o pan-africanismo deixou de ser um movimento de intelectuais negros americanos para se transformar em um instrumento de luta pela independência dos povos africanos, principalmente da África Ocidental Britânica.
Quinto Congresso Pan-Africano realizado em Manchester na Inglaterra em 1945 conseguiu transformar o Pan-Africanismo em um instrumento de união e luta no processo de descolonização do continente africano.
O V Congresso Pan-Africano representou um marco na história do movimento, ocasião em que as discussões passaram para a ação política objetiva. Não por acaso a maior parte dos participantes era formada de estudantes e sindicalistas africanos, e não de intelectuais afro-americanos. As deliberações do congresso, comprometidas com a ação positiva, destacaram a importância da organização popular para a vitória na luta anticolonial. Além disso, os congressistas propuseram que a discriminação racial passasse a ser considerada crime, resolução adotada em diversas Constituições atualmente.
O movimento da negritude
Conceito de negritude
A maior expressão do pan-africanismo nas colônias francesas foi o movimento denominado negritude. O conceito nasceu no interior de uma corrente literária dirigida pelos estudantes negros Léopold Senghor, do Senegal, Aimé Césaire, da Martinica, e Léon Damas, da Guiana Francesa. Em Paris, onde estudavam, esses jovens francófonos descobriram uma identidade negra africana reprimida pelo racismo e pela dominação colonial. Movidos por essa nova consciência, esses jovens intelectuais fundaram, em 1934, em Paris, o jornal L’etudiant noir (O estudante negro), com o objetivo de ser o porta-voz da cultura e da identidade negras, sufocadas pela cultura do colonizador francês.
Foi em uma das publicações do jornal, em 1935, que o termo negritude, cunhado por Césaire, foi empregado pela primeira vez. Ele explica, na entrevista a seguir, o porquê do uso dessa expressão.
“Como os antilhanos tinham vergonha de ser negros, buscavam toda forma de perífrase para designar um negro. Se falava ‘homem de pele curtida’ e outras estupidezes semelhantes… e então adotamos a palavra negro como palavra-desafio. Era este um nome de desafio. Era um pouco de reação da ira do jovem. Já que se sentiam avergonhados da palavra negro, pois bem, nós empregaríamos negro. Devo dizer que quando fundamos L’etudiant noir eu queria, na realidade, chamá-lo de L’etudiant nègre, mas houve grande resistência nos meios antilhanos… Alguns consideravam que a palavra nègre resultava muito ofensiva: por isso tomei a liberdade de falar de negritude.”
Aimé Césaire. In: DEPESTRE, René. Saludo y despedida a la negritud. In: FRAGINALS, Manuel Moreno (Org.). África en América Latina. México: Ed. Siglo XXI/Unesco, 1977. p. 337. (tradução nossa)
Originalmente exprimindo o sentimento de resistência ao colonialismo francês, o termo negritude, com o tempo, foi apropriado pelos movimentos de independência na África e pela luta dos povos negros contra o racismo, dentro e fora do continente africano.
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