sábado, 21 de janeiro de 2023

A luta negra nas cidades: A Revolta da Chibata e a Imprensa negra

 A luta negra nas cidades


Revolta da Chibata - Motim organizado pelos soldados da Marinha brasileira de 22 a 27 de novembro de 1910. Organizada pelos marinheiros ocorreu em embarcações da Marinha que estavam atracadas na Baía de Guanabara e foi motivada, principalmente, pela insatisfação dos marinheiros com os castigos físicos.

A abolição da escravidão e a proclamação da república não garantiram a criação de políticas públicas para a inclusão social das populações negras. O racismo, ancorado em ideias pseudocientíficas e na defesa do embranquecimento da nação, contribuiu para a permanência de um quadro de segregação e pobreza desse segmento social. 


Jogadores negros eram "embranquecidos" com maquiagens (pó de arroz) para se passarem por brancos e terem autorização para jogarem. Um exemplo de racismo!

Por isso, apesar de terem conquistado a liberdade, os negros tiveram que travar diversas lutas por inclusão, respeito e visibilidade, uma batalha que se estende até os dias atuais.

A Revolta da Chibata

Durante a Primeira República, o ingresso nas Forças Armadas podia ser voluntário, representando para os negros um caminho de inserção social e meio de sobrevivência, ou involuntário, situação de muitos órfãos ou criminosos que eram obrigados a se alistar no serviço militar. 

Na marinha, especialmente, os marujos vinham de famílias pobres, e muitos deles eram ex-escravos ou descendentes de escravos. Do outro lado, os cargos oficiais eram ocupados por membros das camadas mais ricas da sociedade. Para os oficiais, a disciplina só podia ser mantida com a mesma violência aplicada antes nas grandes fazendas. Por isso, era muito comum que eles usassem a violência física e psicológica contra seus subordinados.

Em 23 de novembro de 1910, um marinheiro foi castigado com 250 chibatadas na frente de seus colegas de trabalho. O acontecimento foi o ápice para que os marinheiros dos encouraçados Minas Gerais e São Paulo tomassem posse das suas embarcações e se amotinassem. Eles exigiam o fim dos castigos físicos na marinha brasileira, especialmente as chibatadas, que eram estabelecidos pelos oficiais.

Liderada pelo marinheiro João Cândido, o Almirante Negro, a revolta se espalhou por outros navios de guerra. Inicialmente, com temor de que a cidade do Rio de Janeiro fosse bombardeada, o então presidente Hermes da Fonseca cedeu às exigências dos marinheiros, prometendo anistiar os amotinados. Porém, após a rendição, o governo prendeu e expulsou vários marinheiros da corporação.


João Cândido, o Almirante Negro


Marinheiros do encouraçado São Paulo durante a Revolta da Chibata. Rio de Janeiro, 1910. Ao final da revolta, João Cândido foi preso e, depois de meses, internado em um hospital psiquiátrico, de onde saiu após dois anos.

A imprensa negra

A resistência negra, desde o período imperial, não se manifestava apenas nas fugas e na formação de quilombos. Em várias províncias do Brasil, setores letrados da população negra produziram os primeiros jornais destinados à valorização dos afrodescendentes e à defesa dos ideais de liberdade e igualdade dos revolucionários franceses. 

O primeiro jornal da imprensa negra no Brasil foi o pasquim O Homem de Cor, surgido no Rio de Janeiro em 1833. Mais tarde, em 1876, foi criado no Recife o jornal O Homem, seguido de A Pátria (1889) e O Progresso (1899), ambos em São Paulo, enquanto em Porto Alegre foi publicado O Exemplo, em 1892. 


O pasquim O Homem de Cor

Além desses periódicos independentes e pouco duradouros, alguns intelectuais negros também se destacaram escrevendo na grande imprensa. Foi o caso dos jornalistas José do Patrocínio (1857-1905) e Luís Gama (1830-1882), que canalizaram seu talento literário para a defesa da causa abolicionista.


José Carlos do Patrocínio foi um farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político brasileiro. Destacou-se como uma das figuras mais importantes do movimento abolicionista no país.


Advogado brasileiro, abolicionista, orador, jornalista e escritor, e o Patrono da abolição da escravatura no Brasil.

Na Primeira República, São Paulo se transformou em um importante centro da imprensa negra. Depois dos pioneiros A Pátria e O Progresso, foram criados o Menelick e A Princesa do Oeste (1915), bem como O Alfinete e A Liberdade (1918); entre vários outros. O último produzido no período foi Quilombo, de 1929. 

Os jornais da imprensa negra não tinham função informativa como a imprensa tradicional. Eles tratavam de questões raciais e sociais e eram voltados ao leitor negro. O objetivo era afirmar a identidade afrodescendente, promovendo a inclusão social dos negros e libertando-os da marginalidade criada pela escravidão. Leia um exemplo a seguir, publicado em O Progresso:

“Proclamou-se a república, o governo da igualdade, da fraternidade e quejandas liberdades. [...] Esperávamos nós, os negros, que, finalmente, ia desaparecer para sempre de nossa pátria o estúpido preconceito e que os brancos, empunhando a bandeira da igualdade e fraternidade, entrassem em franco convívio com os pretos, excluindo apenas os de mau comportamento, o que seria justíssimo.

Qual não foi, porém, a nossa decepção ao vermos que o idiota preconceito em vez de diminuir cresce; que os filhos dos pretos [...] são hoje recusados nos grupos escolares; e que os soldados pretos, que nos campos de batalha têm dado provas de heroísmo, são postos oficialmente abaixo do nível de seus camaradas; que para os salões e reuniões de certa importância, muito de propósito não é convidado um só negro, por maiores que sejam seus merecimentos; que os poderes públicos, em vez de curar do adiantamento dos pretos, atiram-nos à margem, como coisa imprestável?” 

O Progresso, n. 1, 24 ago. 1899, p. 3. In: PINTO, Ana Flávia Magalhães. De pele escura e tinta preta: a imprensa negra do século XIX (1833-1899). Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília, set. 2006. p. 148.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

República Velha 1889-1930

A República Velha (1889-1930) A República Velha, também chamada de Primeira República, foi o período da história do Brasil que se estendeu d...