A luta negra nas cidades
Revolta da Chibata - Motim organizado pelos soldados da Marinha brasileira de 22 a 27 de novembro de 1910. Organizada pelos marinheiros ocorreu em embarcações da Marinha que estavam atracadas na Baía de Guanabara e foi motivada, principalmente, pela insatisfação dos marinheiros com os castigos físicos.
A abolição da escravidão e a proclamação da república não garantiram a criação de políticas públicas para a inclusão social das populações negras. O racismo, ancorado em ideias pseudocientíficas e na defesa do embranquecimento da nação, contribuiu para a permanência de um quadro de segregação e pobreza desse segmento social.
Jogadores negros eram "embranquecidos" com maquiagens (pó de arroz) para se passarem por brancos e terem autorização para jogarem. Um exemplo de racismo!
Por isso, apesar de terem conquistado a liberdade, os negros tiveram que travar diversas lutas por inclusão, respeito e visibilidade, uma batalha que se estende até os dias atuais.
A Revolta da Chibata
Durante a Primeira República, o ingresso nas Forças Armadas podia ser voluntário, representando para os negros um caminho de inserção social e meio de sobrevivência, ou involuntário, situação de muitos órfãos ou criminosos que eram obrigados a se alistar no serviço militar.
Na marinha, especialmente, os marujos vinham de famílias pobres, e muitos deles eram ex-escravos ou descendentes de escravos. Do outro lado, os cargos oficiais eram ocupados por membros das camadas mais ricas da sociedade. Para os oficiais, a disciplina só podia ser mantida com a mesma violência aplicada antes nas grandes fazendas. Por isso, era muito comum que eles usassem a violência física e psicológica contra seus subordinados.
Em 23 de novembro de 1910, um marinheiro foi castigado com 250 chibatadas na frente de seus colegas de trabalho. O acontecimento foi o ápice para que os marinheiros dos encouraçados Minas Gerais e São Paulo tomassem posse das suas embarcações e se amotinassem. Eles exigiam o fim dos castigos físicos na marinha brasileira, especialmente as chibatadas, que eram estabelecidos pelos oficiais.
Liderada pelo marinheiro João Cândido, o Almirante Negro, a revolta se espalhou por outros navios de guerra. Inicialmente, com temor de que a cidade do Rio de Janeiro fosse bombardeada, o então presidente Hermes da Fonseca cedeu às exigências dos marinheiros, prometendo anistiar os amotinados. Porém, após a rendição, o governo prendeu e expulsou vários marinheiros da corporação.
João Cândido, o Almirante Negro
Advogado brasileiro, abolicionista, orador, jornalista e escritor, e o Patrono da abolição da escravatura no Brasil.
“Proclamou-se a república, o governo da igualdade, da fraternidade e quejandas liberdades. [...] Esperávamos nós, os negros, que, finalmente, ia desaparecer para sempre de nossa pátria o estúpido preconceito e que os brancos, empunhando a bandeira da igualdade e fraternidade, entrassem em franco convívio com os pretos, excluindo apenas os de mau comportamento, o que seria justíssimo.
Qual não foi, porém, a nossa decepção ao vermos que o idiota preconceito em vez de diminuir cresce; que os filhos dos pretos [...] são hoje recusados nos grupos escolares; e que os soldados pretos, que nos campos de batalha têm dado provas de heroísmo, são postos oficialmente abaixo do nível de seus camaradas; que para os salões e reuniões de certa importância, muito de propósito não é convidado um só negro, por maiores que sejam seus merecimentos; que os poderes públicos, em vez de curar do adiantamento dos pretos, atiram-nos à margem, como coisa imprestável?”
O Progresso, n. 1, 24 ago. 1899, p. 3. In: PINTO, Ana Flávia Magalhães. De pele escura e tinta preta: a imprensa negra do século XIX (1833-1899). Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília, set. 2006. p. 148.
Nenhum comentário:
Postar um comentário