sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Bota-abaixo e a Revolta da Vacina (continuação revoltas nas cidades).

 As reformas urbanas


Rodrigues Alves - Quinto presidente do Brasil

O crescimento desordenado de algumas cidades brasileiras era especialmente notado na cidade do Rio de Janeiro, a capital da república. Em 1902, Rodrigues Alves assumiu a presidência da república com a proposta de reformá-la e modernizá-la a partir de seu porto. Para isso, nomeou o engenheiro Francisco Pereira Passos prefeito do Distrito Federal.

Francisco Pereira Passos prefeito da cidade do Rio de Janeiro.

Pereira Passos, em parceria com o governo federal, colocou em ação seu plano popularmente conhecido como “bota-abaixo”. O projeto previa a demolição de prédios, a abertura de avenidas, o prolongamento de ruas, a reforma do calçamento, a arborização e a construção de jardins nas praças. Essa grande reforma atingiu principalmente a população pobre que morava e trabalhava no centro ou em suas redondezas.


Devido ao crescimento sem planejamento, os cortiços eram moradias comuns na região central da capital.


Moradores diante de um cortiço no Rio de Janeiro (RJ), em 1904.


No contexto do Bota-abaixo, muitas dos cortiços foram demolidos de modo autoritário.

Mas não foi só o Rio de Janeiro que passou por uma remodelação urbana. Paralelamente, São Paulo, com os recursos gerados pela economia cafeeira, também se reurbanizou. A cidade se dividiu em bairros nobres, na parte alta, e em bairros operários, localizados na várzea dos rios onde estavam sujeitos a enchentes.


Várzea - Terreno localizado na margem de rios ou ribeirões.

O modelo de reurbanização do Rio de Janeiro e de São Paulo foi, em geral, seguido pelas demais capitais brasileiras da época. Dessa forma, a população pobre foi expulsa das áreas centrais e nobres das cidades e empurrada para as áreas periféricas, onde os serviços públicos praticamente não existiam. As reformas urbanas do período, portanto, evidenciaram e agravaram os contrastes sociais do Brasil.


A população mais pobre foi empurrada para as áreas periféricas, onde os serviços públicos praticamente não existiam. No contexto da cidade do Rio de Janeiro, onde você mora? É distante da região central? Como são os serviços públicos em seu bairro?

Vista do cruzamento da Rua Bahia com a Rua Goiás, em Belo Horizonte (MG), 1910. Inaugurada em 1897, a cidade teve, em sua construção, forte influência das reformas urbanísticas promovidas nas principais cidades europeias.

A Revolta da Vacina 

A política de remodelamento do Rio de Janeiro se somou à realização de campanhas pela higienização da cidade e erradicação da febre amarela, da varíola e da peste bubônica. 


Oswaldo Cruz - médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro. Pioneiro no estudo das moléstias tropicais e da medicina experimental no Brasil, fundou em 1900 o Instituto Soroterápico Federal .

Incumbido dessa tarefa, em 1903 o médico sanitarista Oswaldo Cruz, diretor-geral de Saúde Pública, criou brigadas sanitárias para eliminar os vetores dessas doenças: o mosquito, no caso da febre amarela, e o rato, no caso da peste. Essas brigadas tinham permissão para entrar nos domicílios pobres com mata-mosquitos e raticidas e para interditar as casas consideradas insalubres. 


A campanhas pela higienização da cidade e erradicação da febre amarela, da varíola e da peste bubônica tinha como foco a eliminação  de mosquitos, no caso da febre amarela, e ratos, no caso da peste. 

No ano seguinte, após intensos debates, o Congresso aprovou a lei que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola. O desconhecimento sobre os efeitos da vacina, que era uma novidade na época, a falta de orientação da população sobre essas decisões e os métodos violentos empregados pelos batalhões da Saúde Pública em parceria com a polícia fizeram explodir uma rebelião popular na cidade do Rio de Janeiro, que ficou conhecida como Revolta da Vacina. 


A Revolta da Vacina foi um motim popular ocorrido entre 10 e 16 de novembro de 1904 na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Seu pretexto imediato foi uma lei que determinava a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, mas também é associada a causas mais profundas, como as reformas urbanas que estavam sendo realizadas pelo prefeito Pereira Passos e as campanhas de saneamento lideradas pelo médico Oswaldo Cruz.


Revolta da Vacina

Durante vários dias, a população enfrentou nas ruas as forças policiais e as tropas do exército e da marinha. Em 16 de novembro de 1904, após violenta repressão à revolta, a lei da vacinação obrigatória foi revogada. O movimento retrocedeu até desaparecer completamente. A revolta deixou um saldo de trinta mortos e quase mil presos, dos quais 461 foram deportados para o Acre. 


Alguns dos revoltosos foram deportados para o Acre.

Além disso, Oswaldo Cruz sofreu duras críticas da imprensa do período, que acusava o médico de ser muito radical em sua política de erradicação de doenças epidêmicas e colocava em dúvida a eficácia da vacinação. Nesse contexto, os políticos oposicionistas aproveitaram para fazer campanha contra o governo de Rodrigues Alves.


Próxima aula:

Primeira Grande Guerra Mundial (Parte 01)

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