quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Desagregação do bloco socialista - Fim da URSS e a Guerra da Iugoslávia

 A desagregação do bloco socialista


Gorbachev e o fim da URSS

Para facilitar o seu entendimento sobre o conteúdo estudado,  clique no link abaixo e veja o vídeo. 


Os fantasmas da Guerra Fria


Em 2014, a República Autônoma da Crimeia, território da Ucrânia habitado por uma maioria russa, decidiu proclamar sua independência e incorporar-se à Rússia. Em março daquele ano, um referendo popular aprovou a medida: mais de 95% dos eleitores crimeanos disseram sim à anexação à Rússia. No entanto, ucranianos e tártaros que vivem na região boicotaram o referendo.



Crimeia - Território ucraniano invadido pela Rússia.

Pouco antes da convocação do referendo, soldados russos ocuparam a Crimeia. Segundo o governo ucraniano, a intenção era coagir a população local a votar pela anexação do território à Federação Russa. Depois disso, os russos fizeram grandes investimentos para transformar a região em base militar e criaram incentivos à imigração de russos para o território.



Tomada da Crimeia (território que pertencia a Ucrânia).

A crise na região reacendeu a velha rivalidade entre as potências ocidentais e a Rússia. As Nações Unidas não reconheceram a validade do referendo, enquanto o governo de Moscou criticou a ONU, lembrando que a independência do Kosovo, região que pertencia à Sérvia, foi reconhecida pelas Nações Unidas em 2008 e que a política da entidade em relação à Crimeia deveria ser a mesma.



Ucrânia x Rússia

Por que Rússia e Ucrânia, duas das mais importantes repúblicas soviéticas da época da Guerra Fria, hoje vivem em estado de guerra? O que aconteceu com a União Soviética? É o que você vai descobrir no estudo deste tema.



O croata Domagoj Vida comemora o segundo gol contra a Rússia nas quartas de final da Copa do Mundo de 2018, em Sochi, na Rússia. Na Copa da Rússia, os gestos de alguns jogadores causaram muita polêmica. Domagoj, por exemplo, gravou um vídeo em que dizia “Glória à Ucrânia”, expressão muito antiga que ganhou força em 2014 com a ocupação e a anexação da Crimeia pela Rússia.


A crise do regime soviético


A partir dos anos 1930, a União Soviética experimentou um desenvolvimento científico e tecnológico que rivalizou com o dos Estados Unidos. Na década de 1960, chegou a viver uma época de prosperidade, com o processo de urbanização, a erradicação do analfabetismo e a qualificação da mão de obra.


Entretanto, ao priorizar os investimentos na corrida armamentista e espacial, o regime soviético não deu a devida atenção à produção de alimentos e de artigos como roupas, calçados e eletrodomésticos, o que, aos poucos, levou o país a uma crise de abastecimento.


Na década de 1970, vários sinais de crise começaram a surgir: o distanciamento soviético em relação aos avanços tecnológicos do Ocidente; a ineficiência da indústria civil; a crescente dependência da importação de alimentos, que obrigava o governo a criar subsídios para baratear os alimentos importados; tudo isso somado aos movimentos por liberdade, democracia e independência nacional que começavam a se organizar na União Soviética. Os custos da guerra no Afeganistão (1979-1989) debilitaram ainda mais as finanças soviéticas.


As reformas de Gorbachev


Mikhail Gorbachev

Em 1985, Mikhail Gorbachev foi eleito secretário-geral do Partido Comunista ­Soviético. Atendendo ao anseio da sociedade por mudanças, Gorbachev iniciou um programa de reformas econômicas e políticas visando modernizar o Estado soviético sem, contudo, abandonar o socialismo: a glasnost (transparência política) e a perestroika (reestruturação da economia). 



Declínio soviético

Pela glasnost, entre outras medidas, determinou-se a realização de eleições diretas, a liberdade de imprensa e a permissão para as pessoas saírem do país. Assim, assuntos como os privilégios da burocracia dirigente e a corrupção passaram a ser discutidos amplamente na sociedade. Já a perestroika permitiu a liberdade para as empresas fixarem os salários, a livre-concorrência, a legalização de pequenas empresas privadas e o estabelecimento de empresas estrangeiras no país.


Glasnost e Perestroika

Entretanto, as reformas de Gorbachev não apresentaram os resultados esperados. A economia e a agricultura continuavam com índices de crescimento insuficientes e a população passou a enfrentar racionamento de alguns produtos básicos, como gasolina, manteiga e carne. Com isso, o apoio da sociedade a Gorbachev passou a ser contestado.


Simultaneamente, outro problema ressurgiu no país: a questão nacional e as reivindicações autonomistas. Nos anos 1980, diante da crise, explodiram inúmeras revoltas e movimentos nacionalistas reivindicando autonomia e respeito às identidades locais, bem como manifestações democratizantes que levariam ao fim do socialismo na região.


As Repúblicas da União Soviética (1970) 



O fim do socialismo no Leste Europeu


Impulsionada pela crise econômica e pelo programa de reformas de Gorbachev, uma onda de lutas democráticas se espalhou pela Europa Oriental nos anos 1980. Na Hungria e na Tchecoslováquia, a transição se deu de maneira pacífica e pela via das instituições. Os novos governantes, antigos opositores do regime soviético, ­implantaram programas de desestatização da economia.


Já na Romênia, o governo respondeu com violência aos protestos populares, mas não conseguiu frear as manifestações. Ao tentar fugir do país, em 1989, o presidente Nicolae Ceausescu acabou preso, julgado e executado.




Resistência romana.


Nicolae Ceausescu morto.

Na Polônia, trabalhadores liderados pelo sindicato independente Solidariedade reivindicavam direito de greve e liberdade de organização sindical. Após muitas reformas democratizantes, em 1990, o líder do Solidariedade, Lech Walesa, foi eleito presidente da república.


Na República Democrática Alemã (RDA), mesmo sendo a economia mais forte do Leste Europeu, havia um processo de estagnação econômica desde meados da década de 1980, situação que motivou a eclosão de movimentos exigindo reformas econômicas e políticas.


Em setembro de 1989, a Hungria abriu suas fronteiras com a Áustria. Buscando fugir da crise econômica, milhares de alemães orientais aproveitaram a abertura do novo caminho e migraram para a Alemanha Ocidental. A fuga em massa do país pressionou o governo da RDA a também abrir suas fronteiras, o que ocorreu em 9 de novembro por meio de um anúncio na TV.


Em poucas horas, milhares de berlinenses se reuniram ao redor do Muro de Berlim nos dois lados da cidade. No mesmo dia, o muro caiu, sem que a polícia disparasse um único tiro. No ano seguinte, as duas Alemanhas foram reunificadas.



Multidão se concentra ao redor do Muro de Berlim, em 10 de novembro de 1989, no dia seguinte à sua queda.


A desagregação da União Soviética e da Iugoslávia


A queda do Muro de Berlim e dos regimes socialistas no Leste Europeu ajudou a impulsionar os movimentos separatistas na União Soviética. Em dezembro de 1991, quando catorze das quinze repúblicas já tinham formalizado sua independência, o presidente da Rússia anunciou o fim da União Soviética e a criação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI).



Fim da URSS

Assim, a grande potência socialista chegou ao fim. Na visão que se difundiu pelo mundo, o capitalismo tinha vencido a Guerra Fria.



Comunidade dos Estados Independentes (CEI)



Comunidade dos Estados Independentes (CEI)

Porém, os acontecimentos mais trágicos relacionados ao fim da Guerra Fria tiveram como palco a Iugoslávia, na Península Balcânica. Constituída por seis repúblicas federadas (Sérvia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Montenegro e Eslovênia) e duas regiões autônomas ligadas à Sérvia (Voivodina e Kosovo), a Iugoslávia era um mosaico de povos e culturas.



Antiga Iugoslávia

Após a Segunda Guerra Mundial, o então governo de Josip Broz Tito adotou o modelo socialista de economia planificada e, com um forte exército, garantiu a unidade nacional iugoslava, controlada pela maioria sérvia.



Josip Broz Tito


Capitalismo x Socialismo (ver economia planificada)


A Iugoslávia se fragmentou e deu origem a vários países após a morte  do líder iugoslavo Josip Broz Tito (enfraquecimento político e econômico ao longo da década de 1980)

Com a morte do líder iugoslavo, em 1980, a frágil unidade política da Iugoslávia começou a ruir. Os efeitos da crise econômica da década de 1980, somados às mudanças em curso no bloco soviético, reacenderam os movimentos pela independência nacional no país.


As primeiras repúblicas a declarar independência foram a Croácia e a Eslovênia, em 1991. Iniciou-se, então, a primeira guerra na Iugoslávia, opondo sérvios e croatas. O reconhecimento dos novos países pela comunidade internacional obrigou as tropas sérvias a recuar, pondo fim ao conflito.



Guerra da Iugoslávia

 Acontecimentos no Leste Europeu 


Linha do tempo sem escala temporal.



Área de Vukovar destruída pela guerra, em novembro de 1991. Cidade barroca do leste da Croácia, Vukovar sofreu um cerco de 87 dias. Em novembro de 1991, milícias sérvias, apoiadas pelo exército iugoslavo, massacraram a resistência croata e deportaram milhares de pessoas. Tomada pela Sérvia, Vukovar foi reintegrada à Croácia em 1998.

A guerra civil na Bósnia e em Kosovo


Guerra da Bósnia

No início dos anos 1990, a Bósnia-Herzegovina apresentava grande diversidade étnico-religiosa. Três grupos principais viviam na região: bósnios muçulmanos, sérvios cristãos ortodoxos e croatas católicos.



Diversidade religiosa na Bósnia

Em 1992, muçulmanos e croatas da Bósnia declararam independência em relação à Iugoslávia, que logo foi reconhecida pela União Europeia e pelos Estados Unidos. Os sérvios, por sua vez, decidiram ir à guerra, combatendo uma aliança de muçulmanos e croatas.



Muçulmanos e croatas da Bósnia (favoráveis a independência) x Sérvios (contrários a independência declarada)

O conflito chocou o mundo por sua crueldade. Os sérvios, buscando reconstruir o mapa demográfico da região sob sua hegemonia, promoveram uma “limpeza étnica”. Mais de 97 mil pessoas morreram na guerra. Cerca de 65% das vítimas eram muçulmanas.



Milhares de mortos no conflito

Diante da repercussão do conflito, em novembro de 1995, sérvios, croatas e bósnios selaram o Acordo de Dayton, que dividiu a Bósnia-Herzegovina em República Sérvia e Federação Bósnio-Croata.



Acordo de Dayton - Dividiu a Bósnia-Herzegovina em República Sérvia e Federação Bósnio-Croata.

A luta pela independência nacional ressurgiu mais tarde em Kosovo, província iugoslava de maioria muçulmana controlada pelos sérvios. A política de extermínio e deportações conduzida pelos sérvios levou ao bombardeio de Belgrado, a capital iugoslava, pelas forças da Otan. O conflito só terminou em junho de 1999, com um acordo entre o governo da Iugoslávia e a Otan. Com a emancipação de Montenegro em relação à Sérvia, em 2006, e de Kosovo, dois anos depois, a antiga Iugoslávia reduziu-se a sete pequenos países (veja o mapa).


 O desmembramento da Iugoslávia 


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