A expansão imperialista na África
A Conferência de Berlim e a partilha da África
Até meados do século XIX, a presença dos europeus no continente africano se limitava a algumas feitorias e colônias posicionadas no litoral, geralmente em locais estratégicos para o comércio. Assim, a maior parte do continente encontrava-se sob o poder das sociedades africanas, governadas por reis, imperadores ou conselhos de anciões.
Contudo, essa situação mudou a partir dos últimos anos do século XIX. Em pouco tempo, quase toda a África (à exceção da Etiópia e da Libéria) passou a ser dominada pelas potências europeias, que investiam em uma nova expansão colonial, conhecida como neocolonialismo, ou seja, novo colonialismo. Esse conceito é utilizado para diferenciar a nova expansão colonial do século XIX da colonização do período das grandes navegações.
A nova expansão colonial foi motivada, principalmente, pelo interesse em superar a grave crise econômica que estourou em 1873 e perdurou até 1896. Essa crise havia sido provocada pela grande concorrência entre as potências industriais, que as levou a ampliar os investimentos em tecnologias para diminuir os custos de produção, reduzindo a oferta de empregos. A produção de mercadorias cresceu, mas o mercado consumidor, afetado pelo desemprego e pelos baixos salários, não foi capaz de absorvê-la, o que levou muitas empresas à falência. A saída encontrada pelos europeus foi conquistar novos mercados para os seus produtos, novas fontes de matérias-primas e áreas para investir capitais excedentes. Portanto, essa nova expansão colonial visava atender às demandas do capital industrial e financeiro, sendo a maior expressão do imperialismo.
A divisão dos territórios africanos entre as nações europeias aconteceu em 1884 e 1885, na Conferência de Berlim, em que se reuniram representantes de Grã-Bretanha, Alemanha, França, Portugal, Bélgica, entre outros países. A partir dessa data até o final do século XIX, cada uma dessas nações construiu o seu império colonial na África, obedecendo ao princípio de áreas de influência. Isso significava que, uma vez estabelecida no litoral de uma região, a nação estrangeira teria o direito de ocupar a zona do interior.
Políticas de colonização na África
O domínio colonial exercido pelos países europeus na África não foi o mesmo em todo o continente, variando conforme os interesses do colonizador e as características do território colonizado.
De maneira geral, foram aplicadas duas políticas coloniais: de assimilação e de diferenciação. A primeira, adotada pelos impérios Português, Francês e Belga, baseava-se no ensino da língua da metrópole, da religião, da moral cristã e do modo de vida europeu, procurando criar, entre os nativos, uma elite de colaboradores locais.
Os impérios Britânico e Alemão adotaram a política de diferenciação. Os colonizadores recorriam a lideranças locais para cuidar da administração colonial, aproveitando os conflitos internos e as estruturas de poder que já existiam. Essas lideranças se tornavam representantes dos colonizadores e defendiam seus interesses nas áreas dominadas.
O Império Britânico na África
A entrada oficial da Grã-Bretanha no continente africano ocorreu em 1875, com a compra da parte egípcia do Canal de Suez. A outra parte desse canal continuou sendo propriedade da França.
O Canal de Suez, inaugurado em 1869, tinha importância estratégica na região, pois ligava o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo, facilitando a navegação e o comércio entre a África, a Ásia e a Europa. Buscando assegurar o seu domínio sobre o Canal e afastar a presença da França, os ingleses estabeleceram, em 1883, um protetorado no Egito. Em seguida, conquistaram os territórios que viriam a ser o Sudão egípcio, a Rodésia, a Nigéria e a África Oriental Britânica.
* Proterorado: território ou país que tem certos atributos de um Estado independente, mas que, nas questões essenciais, está subordinado à autoridade de uma potência estrangeira.
Nas terras que correspondem hoje à África do Sul, os britânicos, interessados no ouro e nas pedras preciosas abundantes da região, empreenderam uma guerra contra os bôeres, descendentes de holandeses que colonizaram a região no século XVII. A guerra teve início em 1899 e durou até 1902, quando a Grã-Bretanha, vitoriosa, anexou o território aos seus domínios.
Com isso, a Grã-Bretanha se consolidou como o maior império colonial na África.
A África francesa
Além do domínio sobre uma parte do Canal de Suez, a colonização francesa avançou para o interior da África, partindo de suas antigas feitorias situadas na costa atlântica. Entre os séculos XVI e XIX, a região tinha sido um verdadeiro armazém de negros escravizados.
Partindo das feitorias situadas na Senegâmbia, região que compreende a bacia dos rios Senegal e Gâmbia, bem como acompanhando o curso do Rio Níger, os franceses formaram a África Ocidental Francesa. A esses domínios somavam-se a África Equatorial Francesa (atual Gabão e parte do Congo) e possessões no norte da África (Marrocos e Tunísia), além da Argélia, onde os franceses estavam estabelecidos desde 1830, e de Madagascar, conquistada em 1897.
Portugueses, belgas e alemães
A partir de suas antigas colônias de Angola e Moçambique, Portugal conquistou as terras que formaram a Guiné Portuguesa, na costa ocidental africana.
Na região equatoriana, vizinha a Angola, grande parte da bacia do Rio Congo converteu-se numa espécie de propriedade particular do rei Leopoldo II, da Bélgica.
O Estado alemão, mesmo entrando tardiamente na disputa colonial, obteve sua parte na divisão da África, conquistando territórios que deram origem às colônias do Togo e de Camarões, à África Oriental Alemã e ao Sudoeste Africano.
A resistência ao imperialismo europeu
A expansão europeia na África a partir da Conferência de Berlim criou, no continente, duas realidades que se chocavam: de um lado, o poder tecnológico e militar das potências industrializadas indicava que sua vitória era certa; de outro, a reação dos povos africanos revelava que eles estavam determinados a resistir. As duas tendências se confirmaram: a resistência dos africanos e o triunfo dos colonizadores.
Ao contrário do que afirmavam os defensores do colonialismo, os africanos não viam os europeus como libertadores ou como uma espécie de ponte para a modernidade e a civilização. Povos tradicionalmente rivais chegaram a se aproximar com o intuito de unir forças para derrotar o conquistador. É o que mostra esta mensagem, datada de 1904, enviada por Samuel Maherero, líder da resistência do povo herero, a um antigo inimigo.
“Meu desejo é que nós, nações fracas, nos levantemos contra os alemães [...]. Que a África inteira combata os alemães, e antes morrer juntos que em consequência de sevícias, de prisões ou de qualquer outra maneira.”
In: BOAHEN, Albert Adu (Ed.). História geral da África: África sob dominação colonial, 1880-1935. 3. ed. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2011. v. 7. p. 57. (Coleção História geral da África)
O movimento de resistência do povo herero ocorreu no Sudoeste Africano Alemão, atual Namíbia. O governo alemão respondeu com brutal violência, em uma ação que é considerada o primeiro genocídio do século XX. Outros movimentos, como os da região dos atuais Egito, Somália e Sudão, além de expressar forte capacidade de organização, prolongaram-se por vários anos.
A Rebelião Ashanti
A Rebelião Ashanti foi uma das revoltas mais importantes contra o domínio britânico na África. Ela ocorreu entre 1890 e 1900 na antiga Costa do Ouro, atual Gana.
A cultura do povo ashanti baseava-se em uma longa tradição de nações guerreiras e em uma história de mulheres orgulhosas e respeitadas. Os tambores, importantes instrumentos da tradição cultural ashanti, eram usados para a comunicação a longa distância.
A rebelião explodiu quando autoridades britânicas, seguindo a estratégia imperialista de dividir para dominar, depuseram um grande número de chefes tradicionais, medida que foi interpretada como uma violação da cultura ashanti. Em seguida, os britânicos nomearam outros líderes locais e instituíram o pagamento de uma indenização pelas revoltas anteriores. Por fim, o governo britânico exigiu que seu representante ocupasse o Tamborete de Ouro, uma espécie de trono destinado aos líderes sagrados do povo ashanti.
A combinação dessas medidas levou o povo ashanti a enfrentar os ingleses em sangrentas batalhas, que culminaram, em 1900, na prisão e na deportação de sua líder Yaa Asantewaa, rainha de Edeweso, e de vários generais ashantis. Mesmo diante da resistência africana, o poder das potências europeias no continente já era uma realidade no final do século XIX.
A resistência zulu
A região do Transvaal, na atual África do Sul, foi invadida e colonizada pelos bôeres. Eles haviam penetrado o território zulu, ocupando fazendas e se apossando do gado, e, por essa razão, viviam em conflito com os nativos. Em 1877, os britânicos anexaram essa região, apoiando os bôeres. Em 11 de janeiro de 1879, o exército britânico invadiu o território zulu e foi derrotado. Contudo, ele voltou à batalha em 4 de julho, vencendo a guerra. A nação zulu foi então dividida, e o poder disperso entre inúmeras famílias.
Próxima aula
A expansão imperialista na Ásia
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