sexta-feira, 26 de maio de 2023

Religiosidade no Egito antigo

Religiosidade no Egito antigo


O faraó e os deuses egípcios


No Egito dos faraós, a religião estava presente em todos os momentos da vida. Cada cidade, cada vila e cada lar cultuava divindades específicas, mas havia também deuses e deusas cultuados em todo o Egito. De tempos em tempos, o deus relacionado à dinastia do faraó poderia chegar a ser uma divindade de todo o território, afinal de contas, o faraó também era um escolhido dos deuses.


Por que chove tanto em alguns meses? Por que há o dia e a noite? Por que a Lua muda de fases? Questões como essas, hoje respondidas com explicações científicas, no Egito antigo tinham respostas religiosas. 


O deus Hapi, por exemplo, era a divindade que trazia as inundações e cobria a terra com o húmus fertilizante. O Sol era representado por diversas divindades. O deus Rá (também conhecido como Amon-Rá) era o principal e mais conhecido. Hórus, com corpo de homem e cabeça de falcão, representava o dia. As esfinges, com corpo de felino e cabeça humana, também eram representações das divindades solares. A Lua era representada pelo deus Ah e a noite, pela deusa Nut.


Os deuses também simbolizavam as qualidades humanas. A deusa Ísis, por exemplo, representava a boa esposa e a mãe que cuida muito bem de seu filho (o deus Hórus). A deusa Hathor, representada por uma mulher com chifres ou com cabeça de vaca, simbolizava prosperidade e felicidade.


À deusa Maat, por sua vez, eram atribuídos os princípios da verdade, da justiça, da ordem e do equilíbrio. Acreditava-se que ela teria sido criada antes do mundo dos deuses e o dos homens e que orientava toda a estrutura política e social egípcia. Para os egípcios, a legitimidade do poder do faraó era oriunda do pacto deste com a deusa Maat, assim como vinham dela os princípios éticos e morais que conduziam a vida de cada um.



Escultura em granito da deusa Hathor, c. 1390-1353 a.C. Hathor era também a deusa do amor. Muitas de suas qualidades foram atribuídas a Ísis; por isso, as representações dessas duas divindades são muito semelhantes.


O mundo dos mortos


A crença na vida após a morte era um ponto central da religião no Egito antigo. Na visão de mundo dos egípcios, havia uma relação de continuidade entre a vida terrena e o que eles chamavam de mundo inferior. A vida, para eles, era vista como uma caminhada. No momento da morte física, o coração parava e essa caminhada era interrompida. Por isso, era necessário preparar o morto para retomar, após a morte, o caminho iniciado no mundo terreno.


O preparo do morto para renascer no mundo inferior envolvia várias práticas funerárias que tinham como centro o ritual da mumificação, como foi introduzido na abertura deste módulo. Os rituais funerários, da preparação da múmia ao enterro na tumba, tinham como função eliminar do corpo tudo o que causasse corrupção e podridão e criar um corpo purificado para trilhar o caminho da eternidade.


 O processo de mumificação 



Primeiro, os órgãos internos do corpo eram removidos para serem guardados em uma vasilha.



Em seguida, o corpo era coberto com bicarbonato de sódio para secar e preservar o cadáver.



Passados sessenta dias, o corpo era preenchido com óleos e resinas para perfumá-lo e conservá-lo.



Por fim, o corpo era envolvido em faixas de linho, colocado no sarcófago e enterrado.


Fonte: HERÓDOTO. História [II, 86]. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. p. 111.


O Livro dos mortos


O Livro dos mortos é uma coletânea de orações e cânticos religiosos que serviam para guiar o falecido em sua viagem pelo mundo inferior. Antes de começarem a ser escritos, é possível que os textos fossem recitados e transmitidos por uma longa tradição oral, por isso é difícil determinar quando eles de fato surgiram.


No início do Novo Império (c. 1570 a.C.), os textos eram escritos nas paredes das tumbas. Com o tempo, eles começaram a ser copiados em papiros ou em faixas de linho e colocados no caixão, acompanhando o morto. Os textos serviam para guiar o falecido em sua viagem pelo mundo inferior.


Segundo a tradição egípcia, quando uma pessoa morria, a alma se separava do corpo e o reencontrava antes de apresentar-se no Tribunal de Osíris, esposo de Ísis e rei do mundo dos mortos.


No tribunal, ocorria a pesagem do coração. Na presença do deus Anúbis, o coração do morto era colocado em uma balança que tinha como contrapeso Maat, a deusa da verdade e da justiça, geralmente representada por uma pluma. Se o coração pesasse mais que Maat, ocorria a segunda morte da pessoa, que seria esquecida para sempre. Se o peso do coração fosse menor ou igual ao de Maat, o morto poderia continuar sua caminhada no mundo inferior.


A cena do Livro dos mortos apresentada abaixo mostra a cerimônia de julgamento de Hunefer, escriba da corte do faraó Ramsés I (c. 1307-1306 a.C.). Hunefer está sendo conduzido pelo deus Anúbis ao tribunal, onde o aguardam 42 juízes e Osíris, o juiz supremo da cerimônia.



Página do Livro dos mortos de Hunefer, c. 1307-1306 a.C.


Além do Livro dos mortos para orientar os falecidos na passagem para o mundo inferior, alimentos, objetos (como armas, joias e utensílios) e até mesmo animais mumificados eram colocados nos túmulos egípcios.


“Os egípcios mumificaram diversos tipos de animais, de vacas e crocodilos a escorpiões e cobras. Às vezes, eles mumificavam até leões. [...] 


Quatro grupos de animais foram identificados pelos pesquisadores: aqueles colocados nas tumbas para ser usados pelos mortos como comida numa vida posterior, os que eram animais de estimação da pessoa morta, animais mumificados como símbolos de um culto e aqueles dados como oferenda aos deuses.”


Animais egípcios eram mumificados como humanos diz pesquisa. BBC Brasil, 16 set. 2004. Disponível em <http://mod.lk/wisj1>. Acesso em 6 mar. 2020.



Múmias de um gato e um tigre, encontradas em um túmulo na cidade de Luxor, Egito. A prática de mumificar felinos foi bastante comum no Egito entre 600 a.C. e 250 d.C.

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