A mão de obra indígena
A mão de obra indígena foi predominante na maior parte da América espanhola. As populações ameríndias ocuparam tanto o papel de aliados políticos dos castelhanos*, como de trabalhadores livres ou compulsórios, incluindo entre estes últimos os escravizados. Entre as principais formas de explorar o trabalho indígena estavam a encomienda e a mita.
* Castelhano: relativo ao antigo Reino de Castela, o qual, após a formação da Espanha, prevaleceu sobre as demais regiões do país; espanhol.
A encomienda era uma instituição jurídica comum nas terras do Vice-Reino da Nova Espanha. Por meio dela, os encomenderos eram autorizados a cobrar tributos de um certo número de indígenas, que eram pagos com o trabalho na agricultura e nas minas. Os encomenderos, por sua vez, ficavam encarregados de catequizar os indígenas. O regime de encomienda rendia altos tributos ao governo da Espanha, chegando a totalizar 20% de toda a receita da Coroa.
A mita era uma instituição de origem inca adaptada pelos espanhóis em suas colônias. Por meio dela, os colonizadores encarregavam os chefes indígenas de selecionar, nas comunidades, os homens que deveriam ser encaminhados ao trabalho, principalmente nas minas, onde deveriam permanecer por quatro meses. Os índios recrutados recebiam um pagamento e, durante o recrutamento, só podiam se ausentar do trabalho nas folgas autorizadas.
A mão de obra africana
Na América espanhola, a mão de obra africana foi utilizada de maneira pontual. No caso do México, do Peru e da Bolívia, onde a população indígena era muito numerosa, os africanos escravizados, minoritários, trabalhavam como capatazes nas minas de prata ou como ajudantes de espanhóis ricos. Nas Antilhas e nas zonas costeiras do Caribe, principalmente nos litorais da atual Venezuela e Colômbia, os escravizados de origem africana formavam a maioria da mão de obra utilizada na produção de açúcar.
O trabalho nas minas
Os trabalhadores indígenas foram a principal mão de obra empregada nas minas de prata e estavam submetidos a diversos tipos de exploração e de violência por parte dos colonizadores. Além das longas jornadas de trabalho e dos acidentes, os indígenas conviviam com temperaturas extremas, umidade, escuridão e pouco oxigênio, além do risco de contrair doenças pulmonares causadas pela inalação de impurezas. A realidade era tão dura que um padre chegou a denominar as minas de Potosí de a “boca do inferno”.
Na tentativa de amenizar os sofrimentos, os indígenas consumiam bebidas alcoólicas e mascavam folhas de coca. Essas folhas (já consumidas pelos incas, mas apenas em rituais religiosos) funcionavam como um estimulante natural, diminuindo a fome, o sono e o cansaço. Mesmo correndo grande risco, os indígenas resistiram de inúmeras formas: fugiam, danificavam estruturas dos túneis e contrabandeavam minério e mercúrio.
Os africanos escravizados tinham dificuldades de adaptação ao clima e à elevada altitude; por isso, nas áreas da mineração, o trabalho africano foi pouco numeroso.
A extração da prata
Em um primeiro momento, os espanhóis utilizaram técnicas incas para explorar as minas de Potosí, como os fornos de pedra ou de barro. Esses fornos tinham chaminés que direcionavam o vento para atiçar o fogo, fazendo-o alcançar temperaturas que permitiam fundir o metal e extrair a prata. Boa parte desse trabalho era feita por indígenas, que se comprometiam a entregar uma quantidade de prata aos espanhóis e ficar com o excedente.
As técnicas indígenas, porém, eram capazes de extrair apenas a prata localizada na superfície, que se esgotou rapidamente. Assim, por volta de 1570, os espanhóis implantaram a técnica do amálgama, já utilizada em minas da Europa e do México. Essa nova técnica utilizava o mercúrio, metal líquido que tem a propriedade de se unir à prata, formando uma pasta (amálgama) e separando-a de impurezas.
O novo método era mais lucrativo, pois extraía prata até dos restos do metal descartados pela técnica indígena. Entretanto, ele exigia a abertura de túneis cada vez mais profundos, o que piorou muito as condições de trabalho. Além disso, cada vez mais os espanhóis passaram a explorar a mão de obra indígena nas minas por meio da mita.
A sociedade colonial
A sociedade na América espanhola era composta de cinco grupos de condições distintas: espanhóis, criollos, mestiços, indígenas e negros africanos escravizados.
Espanhóis. Conhecidos como chapetones, ocupavam os postos públicos mais destacados no vice-reino, na Igreja e no exército, além de serem donos de grandes negócios.
Criollos. Descendentes de espanhóis nascidos na América, possuíam grandes propriedades e atuavam no comércio ou participavam dos cabildos. Muitos de seus filhos iam estudar na Espanha e, ao voltar, exerciam as carreiras de médico, advogado, entre outras.
Mestiços. Filhos de espanhóis com indígenas, dedicavam-se ao pequeno comércio, ao serviço doméstico e ao trabalho no campo como vaqueiros ou administradores de propriedades.
Indígenas. Em geral, não tinham propriedades e trabalhavam na agricultura, nas minas e na construção e reparo de obras públicas. A maioria era analfabeta — com exceção das crianças, especialmente os meninos, que eram alfabetizadas no processo de catequização.
Africanos escravizados. Eram propriedades dos colonos, trabalhavam principalmente nos engenhos de açúcar e eram submetidos a diversos castigos.
Ao longo do tempo, espanhóis, criollos, mestiços, indígenas e negros escravizados formaram novas famílias. Ao se miscigenar, esses sujeitos deram origem a novos grupos sociais e a novas desigualdades na América hispânica.
Um dos critérios de hierarquização social mais comum foi o da “pureza de sangue”, combinada com o local de nascimento. Um criollo, por exemplo, mesmo sendo filho de nobre espanhol, não poderia alcançar os postos mais elevados da administração colonial pelo fato de ter nascido na América.
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