quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Saberes dos povos pré-colombianos (Astecas, Incas e seus conhecimentos)

Nosso continente antes da chegada de Colombo (vídeo)

Clique no link abaixo e veja o vídeo introdutório.

https://youtu.be/SSV1YvTarck


Um continente, muitas culturas


Mesoamérica (entre Américas) - É o termo com que se denomina a região do continente americano que inclui aproximadamente o sul do México (a partir de uma linha que parte do rio Fuerte e que se prolonga para sul até aos vales do bajío mexicano, rumando depois para norte até ao rio Pánuco), e os territórios da Guatemala, El Salvador e Belize bem como as porções ocidentais da Nicarágua, Honduras e Costa Rica.


Significado de cultura

A chegada dos espanhóis à região do Caribe, em 12 de outubro de 1492, marcou um dos acontecimentos mais conhecidos da história: a chamada “descoberta” da América pelo navegador genovês Cristóvão Colombo.


"Primeira homenagem a Colombo", pintado em 1892, retrata a a chegada de Cristóvão Colombo à América de maneira eurocêntrica.

Porém, Colombo e seus marinheiros não chegaram a um lugar desabitado. O extenso território americano era habitado por diversas populações indígenas, que tinham seus próprios modos de vida, crenças, costumes e conhecimentos.


Os povos pré-cabralinos 
tinham seus próprios modos de vida, crenças, costumes e conhecimentos.

Os espanhóis tinham uma visão eurocêntrica do mundo, por isso não esperavam encontrar sociedades tão complexas na América, com centros urbanos e grandes obras arquitetônicas (leia o boxe da página seguinte).


Significado de eurocentrismo



Eurocentrismo - Europa e tudo aquilo que era europeu estava no centro de tudo, era mais valorizado.

Para que possa entender a surpresa dos espanhóis, você vai estudar neste tema diversos conhecimentos desenvolvidos pelos povos americanos antes da conquista europeia.


Ilustração atual representando a cidade de Tenochtitlán à época da chegada dos espanhóis.



Mapa Mesoamérica

Conhecimentos arquitetônicos e urbanísticos

A maior parte das sociedades complexas encontradas pelos europeus estava localizada na Mesoamérica. Os povos dessa região desenvolveram, ao longo da história, uma série de conhecimentos de arquitetura e técnicas construtivas, criando uma tradição urbanística na região que foi mais tarde dominada pelos astecas.


Tenochtitlán - exemplo de urbanização e arquitetura asteca

Não por acaso a cidade de Tenochtitlán impressionou os conquistadores espanhóis. Muito maior do que qualquer cidade europeia da época, ela abrigava cerca de 300 mil pessoas. Suas ruas eram largas e espaçosas e havia pessoas responsáveis pela limpeza dos espaços públicos. Em Tenochtitlán, os astecas construíram um sistema de aquedutos que trazia a água do Lago Texcoco diretamente para a cidade. Essa água era usada nas plantações, construídas sobre chinampas.


Tenochtitlán era maior que qualquer cidade europeia da época do "descobrimento".


Chinampas

A cidade de Tlatelolco, vizinha de Tenochtitlán, destacava-se na região por sua capacidade comercial. Os espanhóis estimaram que o mercado central de Tlatelolco seria duas vezes maior que a cidade espanhola de Salamanca, e que nele cerca de 20 mil pessoas comercializavam diariamente.


O mercado de Tlatelolco, detalhe de pintura mural de Diego Rivera, 1929-1935.

Tenochtitlán surpreende os europeus


Tenochtitlán, cidade construída sobre o Lago Texcoco

Em 1519, o cronista espanhol Bernal Díaz del Castillo registrou sua surpresa com o tamanho da cidade de Tenochtitlán, a capital asteca, construída sobre o Lago Texcoco.


Tenochtitlán, cidade era capital do império asteca, construída sobre o lago Texcoco

“Quando vimos as cidades e vilarejos construídos sobre a água e muitas outras populações em terra firme, ficamos admirados, e dissemos que era como um encantamento. Muitos dos nossos soldados se perguntavam se aquilo que víamos não era um sonho. Não sei como descrever o que vimos; eram coisas nunca antes ouvidas, vistas ou sequer sonhadas por nós.”

CASTILLO, Bernal Díaz del. Historia verdadera de la conquista de la Nueva España. Madrid: Real Academia Española; Barcelona: Galaxia Gutenberg-Círculo de Lectores, 2011. p. 271. (adaptado, tradução nossa)


Sítio arqueológico de El Tajín, no estado de Veracruz, no México. Foto de 2017. A cultura de Tajín floresceu entre 100 e 1000 d.C. e foi a mais importante na Mesoamérica após o declínio de Teotihuacán. Sua arquitetura tem características próprias, com destaque para a Pirâmide dos Nichos.

Tenochtitlán também chamou a atenção dos espanhóis por suas pirâmides, templos e palácios monumentais. O Templo Maior, por exemplo, dedicado aos deuses Huitzilopochtli e Tlaloc, tinha 27 metros de altura e 90 metros de largura. O principal material de construção das moradias era o adobe, uma mistura de argila, lodo e palha que era seca ao Sol. O adobe é um material muito resistente e bom isolante térmico e acústico.


Exemplo arquitetura asteca - O templo Maior



Templo Maior, dedicado aos deuses Huitzilopochtli e Tlaloc, tinha 27 metros de altura e 90 metros de largura.

Tenochtitlán e Tlatelolco não eram as únicas grandes cidades mesoamericanas do período pré-colonial. Vizinha a elas estava a cidade de Tlaxcala, rival dos astecas. A cidade estava dividida em vários bairros, cada um deles com uma autoridade local própria, que cuidava da alimentação e da segurança de todos. Alguns desses bairros eram habitados por moradores originários de outros povos e regiões, como zapotecas, mixtecas e totonacas.


Tlaxcala, cidade rival dos astecas



Tlaxcala, a cidade estava dividida em vários bairros, cada um deles com uma autoridade local própria, que cuidava da alimentação e da segurança de todos.

Os conquistadores também encontraram sociedades extremamente complexas em outras partes do continente. Nos Andes Centrais, as cidades eram habitadas pelas elites do Império Inca e estavam divididas em setores administrativos, religiosos e agrícolas. Chamadas llactas, as cidades incas funcionavam como centros de poder, locais de onde as autoridades controlavam a população e os territórios.


Região dos Andes



Império Inca


llactas, as cidades incas funcionavam como centros de poder, locais de onde as autoridades controlavam a população e os territórios.

Para construir essas llactas, o poder imperial contava com a mita, tributo pago pelas comunidades camponesas (ayllus) na forma de serviços ao Estado. Os camponeses construíam casas, pirâmides e fortalezas usando grandes blocos de pedra ou adobe.


Mita, tributo pago pelas comunidades camponesas (ayllus) na forma de serviços ao Estado. 



Ayllus - incas que trabalhavam no campo, camponeses.



A importância da mita para os incas

Na llacta de Cuzco, a capital do império, os incas construíram um sistema de esgoto e abastecimento de água, conduzido por canais forrados e cobertos de pedra, que melhorou as condições de vida na cidade. A mesma estrutura foi construída na llacta de Pisac.


llacta de Cuzco, a capital do império

Cuzco, a capital do império, os incas construíram um sistema de esgoto e abastecimento de água, conduzido por canais forrados e cobertos de pedra, que melhorou as condições de vida na cidade. 

Escrita e formas de registro

Uma tradição comum a diversas culturas mesoamericanas era o uso da escrita pictoglífica, que combinava desenhos e símbolos. Evidências indicam que esse tipo de escrita foi desenvolvido pelos olmecas, por volta de 1000 a.C., e era registrado em suportes de cerâmica e pedra. A partir da era cristã, os escribas de diferentes povos mesoamericanos passaram a registrar os escritos em peles de animais, lenços de algodão e papéis feitos com casca ou fibra de plantas.

Escrita pictoglífica - combinava desenhos e símbolos.



Escrita pictoglífica - 
era registrado em suportes de cerâmica e pedra. A partir da era cristã, os escribas passaram a registrar os escritos em peles de animais, lenços de algodão e papéis feitos com casca ou fibra de plantas.

Entre os registros produzidos na Mesoamérica estavam os códices, espécie de livros compostos de ilustrações e textos, cujos dados foram utilizados pelos espanhóis para compreender o modo de vida e as relações entre os diferentes povos mesoamericanos. Os códices continham narrativas sobre a origem do mundo, a história das cidades, os diferentes calendários e os sistemas de cobrança de tributos, entre outras informações.


Na Mesoamérica existiam os códices, espécie de livros compostos de ilustrações e textos


Os espanhóis usaram os códices (livros com ilustrações e textos) para compreender o modo de vida e as relações entre os diferentes povos mesoamericanos.



Os códices continham narrativas sobre a origem do mundo, a história das cidades e outras informações

Nos Andes Centrais, os incas não desenvolveram propriamente um sistema de escrita. Entretanto, eles criaram os quipus para registrar dados relativos à produção de alimentos, ao número de habitantes e aos tributos arrecadados pelo seu império, por exemplo.


Quipu - instrumento utilizado para comunicação, mas também como registro contábil e como registros entre os incas.


Quipu inca

A criação de calendários

Observando fenômenos da natureza, os povos da Mesoamérica e dos Andes Centrais descobriram as melhores épocas para plantar e colher, conhecimentos essenciais para o desenvolvimento da agricultura. Observando o movimento aparente do Sol, das estrelas e da Lua, os ameríndios puderam também desenvolver a matemática e a astronomia.


Observavam o movimento aparente do Sol, das estrelas e da Lua



Desenvolveram conhecimentos astronômicos - Astronomia é uma ciência natural que estuda corpos celestes e fenômenos que se originam fora da atmosfera da Terra.



Os ameríndios puderam também desenvolver a matemática

A criação de um sistema de numeração vigesimal, atribuída aos maias, permitiu aos mesoamericanos aprimorar seus cálculos astronômicos, podendo assim criar diferentes calendários. Esses calendários tornaram-se um instrumento muito importante para organizar a vida cotidiana, pois passaram a marcar as datas para a realização das atividades agrícolas, dos ritos religiosos e das celebrações históricas.



Sistema de numeração vigesimal - sistema de numeração que tem a base no número vinte. A base vinte provavelmente tem a mesma origem que a base dez, que se relaciona às contagens primitivas feitas com os dedos - no caso da base vinte, somados os dedos das mãos aos dos pés.

Com base no sistema numérico vigesimal, os maias criaram três tipos principais de calendário: o agrícola e social, de 365 dias; o ritual, de 260 dias; e o histórico, de 360 dias. Nos três calendários, cada mês tinha um total de vinte dias. Apenas o calendário ritual sobreviveu até hoje, sendo ainda mantido nas práticas culturais das comunidades maias contemporâneas.

Três tipos principais de calendário: o agrícola e social, de 365 dias; o ritual, de 260 dias; e o histórico, de 360 dias.


Nos três calendários, cada mês tinha um total de vinte dias

Nos Andes Centrais, os incas criaram um calendário com um ano solar de 365 dias, dividido em doze meses lunares. O calendário inca estava intimamente ligado ao poder do imperador, o Sapa Inca, representante sagrado do Sol. Ele o utilizava para determinar as atividades agrícolas e estabelecer as datas das cerimônias sagradas.


Calendário de pedra da civilização huasteca, c. 600-900, México.



Sapa Inca - Imperador inca

Técnicas e produtos agrícolas

Na Mesoamérica, a diversidade ambiental do extenso território proporcionou aos seus habitantes uma grande variedade de espécies vegetais. Por volta de oitenta delas, como o milho, o feijão, a abóbora e a pimenta, foram domesticadas entre 8 mil e 7 mil anos atrás. As civilizações pré-colombianas também criaram e aprimoraram técnicas de cultivo, o que significou uma grande conquista tecnológica e civilizacional.


Desenvolvimento de técnicas agrárias permitiu a diversificação de alimentos.

Apesar de não utilizarem animais no trabalho agrícola, os mesoamericanos elaboraram formas de melhor aproveitar a água da chuva e dos lagos no cultivo e evitar o desgaste do solo, aumentando assim a produção de alimentos. Eles construíram canais de irrigação, adotaram a prática do pousio e ergueram plataformas artificiais que permitiam a drenagem de solos pantanosos.


Não utilizavam animais no trabalho agrícola



Uso racional da água na agricultura


Significado de pousio na agricultura


Na região andina, os incas praticavam a agricultura em camellones, que funcionavam de modo similar às chinampas astecas. Canais, poços, cisternas e lagos eram utilizados para irrigar as terras em regiões secas. Nas áreas montanhosas ou de declive acentuado, os incas praticavam o cultivo em terraços (degraus), sistema que evitava a erosão do solo e permitia que a água captada das geleiras fosse distribuída uniformemente pelos degraus cultivados.


Camellones, que funcionavam de modo similar às chinampas astecas.

Além disso, a grande extensão do império e as guerras constantes levaram os incas a desenvolver técnicas para preservar alimentos. Entre elas, estavam a preparação do charque, o ressecamento de vegetais ao Sol para a produção de farinhas, bem como a tosta e a moagem de grãos e sementes. Transformados, os alimentos podiam ser conservados por mais tempo e ser transportados de uma parte a outra do império, tanto por comerciantes quanto por tropas que partiam para a guerra.


Vista de cultivo em terraços (degraus) nos Andes do Peru. Foto de 2013. 


Charque

Alimentos da América para o mundo

Parte importante dos alimentos que consumimos hoje já compunha a dieta dos povos indígenas que habitavam a América antes da chegada dos europeus ao continente.

Produtos como milho, feijão, cacau, tomate, abacate, batata e mandioca são originários da América. Eles foram domesticados por agricultores americanos e levados para outros continentes pelos colonizadores europeus.

A expansão mundial do cultivo desses produtos permitiu diversificar e melhorar a dieta em vários países. O norte da Europa e o sul da Índia, por exemplo, sobreviveram a períodos de fome graças ao cultivo de plantas domesticadas na América.

Mas esses produtos hoje são diferentes daqueles que os antigos agricultores indígenas cultivavam na América. Experiências de manipulação e seleção de sementes e contínuas inovações nas técnicas de cultivo alteraram o tamanho, a cor e o sabor desses alimentos.


Exemplos de alimentos de origem americana que atualmente são consumidos em diversas partes do mundo: mandioca, cacau, milho, abacate, batata, tomate e feijão.

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