A conquista do Caribe
A chegada dos europeus à América esteve relacionada à busca por parte dos países ibéricos de rotas alternativas que os levassem ao Oriente, onde obteriam as valiosas especiarias diretamente da fonte produtora.
No entanto, a partir do momento em que os conquistadores tomaram conhecimento da existência de grandes jazidas minerais na América, o continente se transformou no alvo principal da política mercantilista de Portugal e Espanha. No caso da exploração das minas da América hispânica, os indígenas se transformaram nas “mãos e nos pés” da Coroa espanhola.
A primeira conquista espanhola na América foi o Caribe, região onde a expedição de Cristóvão Colombo aportou em 1492. Ali e em outras regiões da América, os espanhóis utilizaram diferentes estratégias para estabelecer sua dominação: o uso das armas, alianças com povos indígenas, o trabalho de missionários católicos e até mesmo crenças míticas nativas.
O grau de dominação, porém, não foi o mesmo em toda a América de colonização hispânica. Nos impérios Asteca e Inca, uma vez destruído o poder central indígena, os espanhóis rapidamente se transformaram no novo dominador. O mesmo não ocorreu com povos que viviam mais dispersos, como os maias e aqueles que habitavam o norte do México e a América do Sul meridional. Nesses casos, o processo de dominação foi longo e nem sempre se concluiu plenamente.
No início, as alianças
Os povos tainos predominavam em várias ilhas do Caribe quando os espanhóis ali chegaram. Em um primeiro momento, eles estabeleceram alianças com os espanhóis. Entretanto, isso não significa que fossem dóceis, inocentes e hospitaleiros. Diferente da interpretação predominante por muito tempo, as populações indígenas tinham interesses próprios, avaliavam o contexto em que viviam e faziam escolhas buscando satisfazer suas necessidades ou pretensões políticas.
No caso dos tainos, a aliança com os espanhóis provavelmente esteve relacionada ao contexto de expansão dos povos caraíbas ou caribes, indígenas inimigos que estavam ampliando seus domínios e ameaçando a soberania taina sobre seu próprio território. Dessa forma, a aliança com os espanhóis poderia significar o apoio de um povo poderoso na luta contra os inimigos caraíbas.
No fim, o extermínio
A aliança dos tainos com os espanhóis, porém, teve curta duração. Com a convivência, eles perceberam que os espanhóis queriam mais que simples contatos comerciais; eles planejavam conquistar as terras indígenas. As relações iniciais, baseadas na troca de produtos, foram se transformando em relações mais hierarquizadas, que envolviam a imposição de diferentes formas de trabalho compulsório sobre a população nativa.
Somados à exploração do trabalho, os surtos de doenças trazidas pelos colonizadores desencadearam um processo brutal de declínio demográfico nativo na região. Os indígenas sucumbiam facilmente a doenças como sarampo, varíola e gripe, contra as quais não tinham imunidade. Em algumas ilhas, os nativos chegaram até mesmo a desaparecer.
A destruição do Império Asteca
Clique no link abaixo e veja o pequeno vídeo sobre a chegada dos espanhóis no império asteca.
O Império Asteca ou Mexica localizava-se no planalto central do México. Esse rico império era formado por uma rede de alianças que envolvia três capitais políticas: as cidades de Texcoco, de Tlacopan e de Tenochtitlán. Unidos, esses centros urbanos impunham domínio político e tributário sobre centenas de grupos étnico-territoriais, denominados altepetl.
Tal domínio gerava descontentamento e revolta nos demais grupos nativos — situação que foi notada e habilmente manipulada pelos espanhóis.
O conquistador espanhol Hernán Cortés e seus homens partiram da ilha que hoje é Cuba em direção à capital asteca em fevereiro de 1519. Já no continente, Cortés conheceu Malinche, a jovem indígena que lhe serviria de intérprete, e selou aliança com o povo de Tlaxcala, inimigo dos astecas.
Em novembro, os espanhóis chegaram a Tenochtitlán e foram recebidos pacificamente por Montezuma, o imperador asteca. Não se sabe ao certo como a guerra entre espanhóis e astecas começou, mas o primeiro conflito de que se tem notícia ocorreu em maio de 1520, quando os espanhóis invadiram um templo e mataram dezenas de indígenas.
A tomada de Tenochtitlán
Derrotados na primeira tentativa de tomar a capital asteca, os espanhóis se refugiaram em Tlaxcala. A queda definitiva de Tenochtitlán só ocorreu em agosto de 1521, após meses de cerco, combates e derrotas de ambos os lados. O sistema de alianças que os espanhóis selaram com os altepetl foi decisivo para sua vitória.
A tomada de Tenochtitlán representou, portanto, a vitória de diversos grupos étnicos que, aliados aos espanhóis, derrotaram um inimigo em comum: os astecas. No entanto, os povos nativos coligados aos espanhóis não contavam com o fato de que a queda dos astecas era apenas o primeiro grande ato de uma história de destruição que arrasaria depois suas cidades, formas de organização social e política, crenças e milhões de vidas.
Cuauhtémoc: história e memória
Cuauhtémoc foi o último imperador asteca. Era primo de Montezuma e casou-se com uma de suas filhas. Em 1520, em meio às investidas espanholas sobre Tenochtitlán, assumiu o posto de imperador por indicação dos nobres e sacerdotes locais.
Na ocasião, a situação da capital asteca era dramática. A população havia sido devastada por uma epidemia de varíola, faltavam água e alimentos. Cuauhtémoc tentou conseguir apoio entre os povos vizinhos garantindo a redução de tributos. Mas já era tarde: a maioria dos povos indígenas já havia se aliado a Cortés. Em abril de 1521, um exército formado por 20 mil indígenas inimigos dos astecas e centenas de espanhóis cercou a cidade de Tenochtitlán.
As forças astecas tinham a metade de homens. Em 13 de agosto de 1521, o líder asteca se rendeu, após quase quatro meses de sítio. Talvez para poupar maior sofrimento ao seu povo, Cuauhtémoc aceitou submeter-se ao rei da Espanha e pagar tributos a ele. Relatos espanhóis, no entanto, contam outra história: o imperador e seus acompanhantes teriam sido presos enquanto fugiam.
O imperador e os nobres astecas foram presos e submetidos a interrogatórios cruéis. Os espanhóis queriam informações sobre tesouros que acreditavam terem sido escondidos. Cuauhtémoc manteve-se em silêncio, sendo executado em 1525.
Quando o México se tornou independente, no século XIX, a resistência de Cuauhtémoc transformou-se em um símbolo da nacionalidade mexicana. Em sua memória foram erguidos monumentos, e sua imagem foi reproduzida na moeda do país. Praças, ruas, escolas, uma cidade e até um estádio de futebol receberam o nome do último imperador asteca.
A destruição do Império Inca
Na América do Sul, os domínios do Império Inca se estendiam por regiões dos atuais Peru, Equador, Bolívia, Argentina e Chile. Reunindo diferentes grupos indígenas, o império mantinha-se, principalmente, por meio de acordos com lideranças étnicas e da cobrança de impostos.
A configuração de regiões com características imperiais, contudo, gerou conflitos internos pelo trono inca. Foi o que aconteceu na sucessão do imperador Huayna Capac. Seus filhos, Atahualpa e Huáscar, disputavam violentamente o poder quando os espanhóis chegaram à região, em 1532.
Sob o comando de Francisco Pizarro, os espanhóis aproveitaram-se da situação (irmãos brigando por causa da herança real) e investiram sobre o fragilizado império. Na cidade de Cajamarca, ao norte de Cuzco (capital inca), capturaram Atahualpa, acusaram-no de ter matado seu irmão Huáscar e o condenaram à morte por estrangulamento, não sem antes cobrar uma quantia exorbitante em ouro e prata como resgate.
Com o apoio de povos indígenas rebelados contra a dominação inca, os espanhóis tomaram as cidades de Cuzco e de Quito. Em 1535, Pizarro fundou a cidade de Lima, futura capital dos domínios espanhóis nos Andes Centrais.
A resistência indígena
Em 1537, o líder inca Manco Capac e seus seguidores, após um ano de cerco a Cuzco, a antiga capital inca, refugiaram-se na região de Vilcabamba. Dali o grupo promoveu sucessivos movimentos de resistência ao domínio espanhol.
A resistência inca em Vilcabamba chegou ao fim com Tupac Amaru. Derrotado pela expedição do vice-rei Francisco de Toledo, que havia declarado guerra à cidade, Tupac Amaru foi capturado e decapitado pelos espanhóis na praça central de Cuzco, diante de uma multidão de indígenas, para servir de exemplo à população.
Além da luta armada, os indígenas também reagiram de forma pacífica ao domínio espanhol. Em várias situações, atitudes como a entrega ao alcoolismo, o silêncio, a indolência e a recusa em aceitar ideias, valores e crenças dos conquistadores frustraram as expectativas dos espanhóis em impor seu domínio.
Um importante movimento pacífico de resistência surgiu em Huamanga e espalhou-se pelo norte do Peru: o Taqui Ongo, ou a “enfermidade da dança”, na língua nativa quéchua, que atingiu seu auge na década de 1560. O movimento pregava que era preciso dançar constantemente para que as huacas, divindades andinas, despertassem e vencessem o Deus cristão, restabelecendo o Império Inca e a ordem anterior à colonização. O Taqui Ongo foi violentamente reprimido pelos colonos e missionários espanhóis, e seus principais líderes foram punidos com chicotadas.
Mais ao sul, no Chile, os indígenas mapuches (também conhecidos como araucanos) encabeçaram uma longa resistência aos espanhóis, da qual saíram vitoriosos. Em sua luta contra os conquistadores, os mapuches aperfeiçoaram suas armas e se apropriaram de uma prática espanhola: a utilização de cavalos para adquirir velocidade nos combates.
A resistência mapuche ao domínio espanhol teve seu momento de maior explosão entre 1550 e 1696; depois disso, os enfrentamentos se tornaram esporádicos, predominando entre eles acordos comerciais e negociações de fronteira.
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