Civilizações da América pré-colombiana
A diversidade cultural na América
A formação dos Estados modernos, deve ter percebido que esse processo ocorreu, inicialmente, em poucos países da Europa. A maior parte dela continuou dividida em pequenos reinos independentes. A diversidade política na América era semelhante à da Europa daquele período. Mas o território americano não estava dividido em fronteiras políticas claramente definidas.
Apesar disso, as pesquisas nos permitem conhecer hoje a distribuição dos povos indígenas pelo continente e a grande diversidade que havia entre eles. Por exemplo, quando o Reino da Espanha concluiu sua unificação política, em 1492, havia na América grandes impérios, como o asteca e o inca; cidades-estados que se encontravam em declínio, como as maias; Estados menores independentes, como o mixteca; além de múltiplas comunidades tradicionais, como as que habitavam o território brasileiro.
O mundo dos maias
A civilização maia se desenvolveu na chamada Mesoamérica, área que atualmente corresponde ao sul do México, à Guatemala, a Belize, a Honduras e à parte leste de El Salvador. Essa civilização atingiu o auge de seu desenvolvimento entre 250 e 900 d.C.
Os maias viviam em cidades-estados governadas por um chefe político hereditário. O chefe de cada cidade exercia funções políticas e religiosas e era auxiliado por um conselho de líderes tribais, nobres guerreiros e sacerdotes. Essa elite detinha a posse das terras, que eram cultivadas por camponeses.
Apesar da importância do comércio realizado entre as várias cidades-estados, a agricultura constituía a base da economia maia. O principal produto cultivado era o milho; ele era tão importante que, segundo os mitos maias, os deuses o haviam utilizado como matéria-prima para criar o homem.
A civilização maia entrou em declínio por volta do ano 900, não se sabe se em decorrência de epidemias, guerras ou invasões de outros povos. Estudos recentes sugerem que esse declínio poderia, também, estar relacionado a uma longa estiagem ou ao esgotamento do solo, causado pelo uso contínuo do sistema de derrubada-queimada. Empobrecido, o solo deixou de produzir alimentos suficientes para a população.
Matemática e astronomia
Os sacerdotes maias eram também matemáticos e astrônomos. Eles criaram um símbolo para representar o zero e usavam cálculos matemáticos muito precisos. Também conheciam o movimento do Sol, da Lua e de Vênus, bem como os eclipses solares e lunares.
Com base nesses conhecimentos, os maias criaram três calendários (agrícola/social, ritual e histórico), que utilizavam simultaneamente. Por meio deles era possível prever a época propícia para o preparo do campo, a semeadura e a colheita.
O grande Império Asteca
Quando a maior parte das cidades maias já tinha sido abandonada, começou a se formar, também na Mesoamérica, a civilização asteca. Os mexicas, como os astecas também são chamados, chegaram à região do Lago Texcoco por volta do século XII, vindos do norte. Grandes guerreiros, eles iniciaram a conquista de cidades e povos vizinhos, formando um grande império.
Os povos subjugados deviam reconhecer a autoridade asteca e pagar tributos ao império. Os produtos confiscados desses povos permitiram transformar Tenochtitlán, a capital asteca, em uma bela cidade. Calcula-se que, no começo do século XVI, a cidade tivesse aproximadamente 300 mil habitantes e que o império reunisse ao todo mais de 25 milhões de pessoas.
A cidade de Tenochtitlán foi construída no meio de um lago salgado. Para conseguir viver no local, os astecas construíram diques e barragens que serviam para controlar o nível da água e evitar inundações. Eles também construíram terraços sobre a água dos lagos, chamados chinampas. Nesses canteiros flutuantes, cultivavam flores e hortaliças.
A agricultura era a base da economia asteca. Cultivavam milho, feijão, pimenta, abóbora, cacau, algodão, tabaco, frutas e verduras. Domesticavam perus, cachorros e patos. O artesanato também era muito refinado. Os artesãos trabalhavam nas residências, nos templos e em oficinas dos palácios imperiais. Eles confeccionavam peças em ouro, prata, cerâmica e pedras preciosas, além de tecidos de algodão e mosaicos de plumas.
A sociedade asteca era dirigida por uma aristocracia militar e sacerdotal. No centro desse grupo dirigente estava o imperador. Os membros do povo estavam reunidos em comunidades aldeãs, em uma condição social de camponês-soldado. Eles pagavam tributos ao imperador e aos sacerdotes, entregando a eles parte do que produziam na aldeia, lutavam nas guerras e prestavam serviços ao Estado, construindo diques, pirâmides e outras obras.
A educação no Império
Meninos e meninas recebiam uma educação diferenciada na sociedade asteca. Até os 7 anos de idade, os meninos aprendiam a carregar água e madeira e acompanhavam o pai ao mercado. Dos 7 aos 14 anos, eles aprendiam a pescar e a dirigir os barcos. Aos 15 anos, os jovens podiam entrar para dois centros de ensino: o calmecac ou o telpochcalli.
O calmecac era uma espécie de templo dirigido por sacerdotes. A educação no calmecac, extremamente rigorosa, visava formar sacerdotes e altos funcionários do Estado. Já o telpochcalli, em geral, formava cidadãos para atuar no comércio, em postos menos elevados do Estado ou nas atividades militares. Nesses centros, os alunos tinham muito mais liberdade que na escola sacerdotal.
A educação das meninas cabia às mães. Até os 6 anos de idade, as meninas observavam a mãe tecendo. Depois, começavam a realizar as operações mais simples no tear. Entre os 7 e os 14 anos, elas fiavam o algodão, varriam a casa e moíam o milho. Por fim, aprendiam a manejar plenamente o tear.
O Códice Mendoza
A palavra “códice” refere-se ao conjunto de desenhos e escritos feitos por escribas astecas e por outros habitantes da região do México, antes e depois da conquista espanhola. Antes da chegada dos espanhóis, esses registros eram feitos com imagens que representavam objetos, ideias, números e datas. Após a conquista, os colonizadores acrescentaram às imagens textos em espanhol. Esses documentos se tornaram uma importante fonte para o estudo da história dos astecas.
Um dos códices mais conhecidos é o Códice Mendoza, produzido entre 1541 e 1542. Nele, os nativos descrevem a organização do império e o sistema de cobrança de impostos, narram eventos importantes da sua história, como a fundação de Tenochtitlán e as conquistas territoriais astecas, além de eventos relacionados à vida cotidiana. As análises do Códice Mendoza também revelam que a educação das crianças era uma das principais preocupações da sociedade asteca.
Tahuantinsuyo: o império dos incas
No século XV, quando o Reino da Espanha se formou na Europa, as terras andinas estavam dominadas pela civilização inca. Acredita-se que os incas chegaram às terras férteis da região de Cuzco, sul do atual Peru, no final do século XIII. Influenciados pelas culturas dos Andes Centrais, os incas construíram um grande império, chamado Tahuantinsuyo. Na língua quéchua, significa “Os Quatro Cantos do Mundo”.
As terras do Império Inca abrigavam cerca de 7 milhões de pessoas de mais de cem grupos étnicos distintos. Elas viviam em comunidades familiares chamadas ayllus. Cada uma delas tinha um kuraka, chefe que se encarregava de distribuir as terras para o cultivo, organizar o trabalho e garantir a sobrevivência e a segurança de todos. Também era responsável pela cobrança da mita, um tributo pago pelos camponeses na forma de serviços prestados ao Estado e ao kuraka.
A base econômica dos incas era a agricultura. Nas encostas das montanhas, eles construíam terraços em forma de degraus, onde cultivavam milho, feijão, batata, algodão, tomate, pimenta, quinoa, abacaxi e outros produtos. Os incas também domesticavam lhamas e alpacas para a obtenção de leite, lã, carne e como meio de transporte. O artesanato inca destacou-se na confecção de tecidos, peças de metal e objetos de cerâmica, além de quipus.
A autoridade do Sapa Inca
A autoridade mais alta do império era o Sapa Inca, visto como representante sagrado do Sol. A maioria de seus funcionários administrativos vinha de famílias nobres. Quando o Sapa Inca morria, suas mulheres e servos eram sacrificados e seus corpos depositados, junto ao dele, no Templo do Sol.
Os incas, assim como os egípcios, mumificavam os mortos, principalmente membros das elites. Eles adotavam dois métodos de mumificação. O primeiro, artificial, em geral era feito com a retirada das vísceras do cadáver, que depois era preenchido com ervas e tratado com óleos e resinas. O segundo, natural, consistia em enterrar o corpo em um ambiente frio e seco, como o das montanhas dos Andes, local onde foram encontradas várias múmias pré-colombianas.
Maias e quéchuas atuais
Atualmente, mais de 6 milhões de indígenas de grupos linguísticos maias estão distribuídos por regiões do México, Belize, Honduras e, principalmente, Guatemala. As etnias indígenas de origem maia mantiveram muitos mitos e tradições do seu passado pré-colombiano, renovando-os com crenças e práticas cristãs. Entre as principais atividades econômicas desses indígenas estão o cultivo do milho e do feijão e o artesanato.
Na região andina também sobrevivem tradições culturais pré-colombianas, praticadas por indígenas quéchuas e aimarás, principalmente no Peru e na Bolívia. O quéchua, antigo idioma dos incas, por exemplo, é uma das línguas oficiais no Peru, com quase 12 milhões de falantes. No país, comunidades camponesas ainda mantêm alguns rituais tradicionais, como as oferendas anuais à Pachamama, mãe Terra. Em determinado período do ano, uma alpaca é sacrificada com a finalidade de garantir a fertilidade da terra e boas colheitas.
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