Canudos
Vilarejo de Belo Monte (antiga fazenda de Canudos) e o conflito acontecido na região.
De que forma os movimentos rurais da Primeira República atuaram?
Religiosidade popular e banditismo social
No final do século XIX, na passagem do império para a república, ainda predominavam no Brasil características econômicas herdadas da época colonial: latifúndio, monocultura e técnicas rudimentares de produção. A abolição da escravidão, em 1888, não significou a modernização das relações de trabalho nem a criação de leis de proteção ao trabalhador.
Latifúndio - vasto domínio rural constituído de terras não cultivadas e/ou de áreas onde se pratica um tipo de cultura que não exige grandes investimentos.
Nesse cenário de subdesenvolvimento e desigualdade, agravado por um regime político e eleitoral excludente, surgiram movimentos sociais baseados na religiosidade popular e na liderança messiânica, a exemplo de Canudos e do Contestado, e também nas práticas do chamado banditismo social, como no caso dos cangaceiros.
Antônio Conselheiro e o arraial de Canudos
Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu provavelmente em 1830, no interior do Ceará. Por volta de 1871, ele iniciou suas peregrinações pelo interior de Sergipe, Pernambuco e Bahia, pregando mensagens religiosas e aconselhando os sertanejos. Procurava, ainda, organizá-los para a realização de obras, como a construção de igrejas, casas, açudes e colheitas agrícolas. Foi a partir dessa liderança religiosa e política que o beato passou a ser chamado de Antônio Conselheiro.
Em 1893, o beato e seus seguidores fundaram um povoado comunitário na antiga fazenda Canudos, às margens do Rio Vaza-Barris, na Bahia. Chamada de Belo Monte, a comunidade tinha sua organização baseada na propriedade comum das terras e no trabalho agrícola coletivo. Canudos mantinha relações comerciais regulares com vilas e cidades da região e chegou a reunir entre 20 mil e 30 mil moradores. O arraial atraiu muitos ex-escravos e sertanejos pobres, que encontraram uma comunidade de pertencimento e uma forma de sobrevivência.
Canudos e a República Oligárquica
O crescimento da comunidade de Canudos incomodou cada vez mais as elites locais. A Igreja Católica acusava Antônio Conselheiro de heresia e subversão em razão, sobretudo, de seu fervor religioso, do fato de ele não ser um sacerdote sacramentado e de sua defesa dos pobres com base na interpretação bíblica.
Os coronéis, por sua vez, se preocupavam com a falta de mão de obra e com a autonomia da comunidade em relação ao poder oligárquico, exemplo que poderia ser seguido por outros sertanejos.
Além disso, Conselheiro também passou a ser visto como uma ameaça à república, já que criticava as leis republicanas, como a separação entre Igreja e Estado. Diante disso, o governo foi chamado a intervir contra Canudos. As autoridades procuraram justificar a ação armada alegando que as pregações de Conselheiro comprovavam sua vocação monarquista e representavam, assim, uma ameaça à ordem republicana.
A Guerra de Canudos
Em 1896, forças federais e baianas iniciaram a campanha militar para destruir Canudos. Apesar da superioridade bélica, o exército do governo foi derrotado pelos conselheiristas. O mesmo ocorreu com outras expedições.
Canudos só foi destruído com a quarta expedição, que contou com 10 mil homens fortemente armados. O arraial foi derrotado pelas forças republicanas em 5 de outubro de 1897. A maior parte dos seus habitantes foi morta.
Relatos de civis contam que, mesmo após a queda do arraial, muitos prisioneiros foram mortos e várias crianças foram abandonadas ou entregues à adoção.
Conselheiro foi morto pelas forças armadas do governo
Corpo do líder de Belo Monte foi exposto pelo governo, como exemplo a não ser repetido.
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