terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Conflitos no campo: A Guerra do Contestado

 A Guerra do Contestado

No final do século XIX, na passagem do império para a república, ainda predominavam no Brasil características econômicas herdadas da época colonial: latifúndio, monocultura e técnicas rudimentares de produção. A abolição da escravidão, em 1888, não significou a modernização das relações de trabalho nem a criação de leis de proteção ao trabalhador.


Um país marcado pela pobreza e pela desigualdade social

Sem ver soluções para os seus problemas, parte da população se apega as palavras de conforto, pregações compartilhadas por alguns religiosos e profetas.

No contexto do messianismo, o Monge João Maria de Agostini (1º monge João Maria).

A Guerra do Contestado, o que foi? Quais os motivos? Quando? Onde?


A Guerra do Contestado foi um conflito armado ocorrido de outubro de 1912 a agosto de 1916, que teve como partes beligerantes posseiros e pequenos proprietários de terras contra os governos dos estados de Santa Catarina e Paraná, além do Governo Federal brasileiro. O palco foi uma região rica em erva-mate e madeira, disputada por ambos os estados e que ficou conhecida como Contestado.


Região rica em erva mate e em madeira.

Em uma área então disputada judicialmente entre os estados do Paraná e Santa Catarina, ocorreu a Guerra do Contestado (1912-1916), a maior guerra civil do Brasil republicano.


Fonte: Os principais embates da guerra. O Estado de S. Paulo, 11 fev. 2012. Disponível em <http://mod.lk/tjnmu>. Acesso em 10 dez. 2019.

Motivos para o conflito

Entre o final do século XIX e o início do XX, essa região era habitada por muitos pequenos agricultores e posseiros, entre eles negros, indígenas e brancos, chamados pelos habitantes das cidades de caboclos. Ao longo dos anos, esses camponeses viram seus territórios serem ocupados por fazendeiros interessados na extração de erva-mate e madeira. A presença de grandes companhias estrangeiras envolvidas na construção de estradas de ferro também reduzia o espaço das lavouras de subsistência das famílias camponesas. 

Significado de posseiro


Posseiros da região do Contestado

Após a conclusão das obras do trecho catarinense da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, a companhia Brazil Railway Company, que recebeu do governo 15 km de cada lado da ferrovia, iniciou a desapropriação de 6 696 km² de terras (equivalentes a 276 694 alqueires) ocupadas já há muito tempo por posseiros que viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina. O governo brasileiro, ao firmar o contrato com a Brazil Railway Company, declarou a área como devoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse aquelas terras. "A área total assim obtida deveria ser escolhida e demarcada, sem levar em conta sesmarias nem posses, dentro de uma zona de trinta quilômetros, ou seja, quinze para cada lado". Isso, e até mesmo a própria outorga da concessão feita à Brazil Railway Company, contrariava a chamada Lei de Terras de 1850. Não obstante, o governo do Paraná reconheceu os direitos da ferrovia; atuou na questão, como advogado da Brazil Railway, Affonso Camargo, então vice-presidente do estado.


Brazil Railway Company -  empresa responsável pela construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande.


Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande.


Governantes, fazendeiros e empresários querendo tirar os pobres posseiros da região.

Liderança do Contestado e as crenças do movimento

Nesse contexto, surgiram alguns movimentos messiânicos, como o liderado pelo monge João Maria de Agostinho, entre 1843 e 1852; o do monge João Maria de Jesus (foto), nas últimas três décadas do século XIX; e o de José Maria de Agostinho, no início do século XX.


O Messianismo é a crença na vinda ou no retorno de uma pessoa dotada de poderes especiais que trará paz e a prosperidade na Terra, inaugurando uma nova era.


Monge João Maria de Jesus, o segundo a peregrinar pela região do Contestado. Foto de 1898. 

Em 1912, o monge João Maria liderou o movimento que culminou na Guerra do Contestado. Seus seguidores acreditavam que o fim do mundo estava próximo e que a adesão ao movimento significaria a salvação da alma. 


Monge João Maria de Jesus (segundo monge)


Acreditavam no fim do mundo e que a participação no movimento garantiria a salvação.

Ao grupo de José Maria uniram-se também operários recrutados para a construção da ferrovia que tinham sido demitidos e proibidos de viver às margens da estrada. O anseio dessas pessoas por terra, trabalho e melhores condições de vida associou-se à religiosidade popular, tornando as tensões sociais existentes na região ainda mais explosivas.


Alguns operários demitidos da 
Brazil Railway Company se juntaram ao movimento do monge José Maria.


O desejo por terras para poderem trabalhar e alcançarem uma qualidade de vida.

A Guerra do Contestado (1912-1916)

O conflito e seu desfecho

Em 12 de outubro de 1912, a guerra eclodiu. O monge João Maria e um grupo de fiéis rumaram até a cidade de Irani, situada hoje no estado de Santa Catarina, principal centro da disputa entre paranaenses e catarinenses.

As autoridades do Paraná, contudo, acreditavam que o grupo tinha sido enviado pelo governo de Santa Catarina e, assim, iniciaram uma violenta repressão, que culminou com a morte de José Maria.


A morte do monge

A crença de que o monge ressuscitaria levou ao surgimento das “cidades santas”, comandadas por meninas que diziam ter visões e receber instruções de José Maria. Inicialmente religioso, o movimento tornou-se cada vez mais político. Os rebeldes reivindicavam o direito à terra, ao trabalho e à liberdade religiosa.


Os dois monges José Maria

Estima-se que o exército tenha enviado cerca de dois terços de seu efetivo para a região e equipado as tropas com armas modernas. Em 1915, o cerco ao movimento intensificou-se. A truculência do exército, a falta de alimentos e as doenças enfraqueceram os rebeldes e provocaram o fim do conflito, em 1916, deixando cerca de 20 mil mortos, a maior parte caboclos.


Locomotiva estadunidense na antiga estação ferroviária de Caçador (SC), atual Museu do Contestado, 2016.

A visão republicana sobre os rebeldes do Contestado


Rebeldes do Contestado

“Por muito tempo o estudo sobre o conflito do Contestado refletiu todos os preconceitos que existem sobre as populações rurais em geral e, em especial, os caboclos. ‘Matutos’, ‘tabaréus’ e outras denominações pejorativas aos habitantes nacionais indicavam uma mistura de preconceito racial (contra negros, indígenas e mestiços) associado ao preconceito urbano e de classe, contra os camponeses em geral. Esta população [...] era tratada como um povo ignorante, [...] despreparado para qualquer política de modernização, preso a superstições [...].

O conceito de ‘fanatismo’, por expressar uma condição mental irracional, um comportamento ligado à loucura, foi a principal saída encontrada por militares, jornalistas e historiadores para montar uma estrutura explicativa ao fenômeno que se desenvolveu no Contestado. [...]

[No entanto, ao ultrapassar as análises estereotipadas] Mais do que entender que os sertanejos reagiram a uma agressão externa, é importante considerarmos que eles não podiam ter sido mais explícitos na formação de um projeto rebelde, de um novo modelo de sociedade. A resistência e a negação do mundo dos coronéis e da empresa ferroviária norte-americana se desenvolveu na invenção de algo absolutamente novo – a ‘Cidade Santa’ [...].”

MACHADO, Paulo Pinheiro. O centenário do movimento do Contestado: 1912-2012 – história, memória e historiografia. Portal de História da UFF. Disponível em <http://mod.lk/EA9B7>. Acesso em 10 dez. 2019.

O Contestado hoje

Boa parte dos descendentes dos rebeldes do Contestado vive hoje em comunidades espalhadas pelo interior de Santa Catarina. Em alguns municípios, como Timbó Grande, onde ocorreu a última batalha do Contestado, 44,2% da população é pobre ou indigente. Segundo o Censo de 2010, 50,4% das famílias têm renda per capita de até um quarto de salário mínimo.

Os moradores dessas comunidades dedicam-se, principalmente, aos cultivos de subsistência e ao trabalho temporário em grandes fazendas ou madeireiras. Com medo de perder oportunidades de trabalho, muitos evitam dizer que são parentes dos rebeldes que lutaram no Contestado.

EXERCÍCIOS

01 - O que foi a Guerra do Contestado?

02 - A região onde ocorreu a Guerra do Contestado era rica em:

03 - Quais estados brasileiros reivindicavam a posse da região?

04 -  O que é o messianismo? Baseado na sua resposta, o que é o messianismo político?

05 - Quem foi o monge João Maria no contexto da Guerra do Contestado?

06 - O que os seguidores do monge João Maria acreditavam?

07 - O que os seguidores do monge João Maria desejavam?

08 - Por que existia conflitos entre os posseiros e os grandes fazendeiros da região?

09 - Por que a Brazil Railway Company se envolveu em conflitos de interesses na região sul do país?

10 -  Informe três motivos que influenciaram o início da Guerra do Contestado:

11 - Quando e como a Guerra do Contestado começou?

12 - Por que as autoridades do Paraná reagiram de modo violento contra os posseiros?

13 - O que aconteceu com o monge João Maria?

14 - Por que "cidades-santas" surgiram?

15 - Como a Guerra do Contestado chegou ao fim? 

16 - Qual era a visão republicana sobre os rebeldes do Contestado?

17 - Como é a região do Contestado hoje?

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