O avanço das ditaduras na América Latina
Operação Condor - Latuff 2018
O Brasil não foi o único país a ser governado por militares entre os anos 1960 e 1980. Ditaduras semelhantes se instalaram por quase toda a América Latina. Na maioria dos casos, os militares tomaram o poder com o pretexto de combater a esquerda e impedir a expansão do comunismo no continente.
Dentro do contexto da Guerra Fria, a operação Condor pode ser visto como ação prática marcarthismo.
Em geral, os governos militares contaram com o apoio e a participação dos Estados Unidos por meio de empréstimos e do envio de agentes treinados em táticas de combate e repressão aos movimentos de esquerda. Apesar das semelhanças, é importante atentarmos para as especificidades de cada país. A seguir, estudaremos os casos da Argentina e do Chile.
Política externa - forte influência de Washington nos golpes militares e nos regimes militares ocorridos na América do Sul.
A Operação Condor: Campanha promovida pelos Estados Unidos de repressão política e terror de Estado envolvendo operações de inteligência e assassinato de opositores. Foi oficial e formalmente implementada em novembro de 1975 pelas ditaduras de direita do Cone Sul.
Devido à sua natureza clandestina, o número exato de mortes diretamente atribuíveis à Operação Condor é altamente contestado. Algumas estimativas indicam que pelo menos 60.000 mortes podem ser atribuídas à Condor, cerca de 30.000 das quais na Argentina, e o Arquivo do Terror lista 50.000 mortos, 30.000 desaparecidos e 400.000 presos.
O regime militar na Argentina
Juan Domingo Perón foi presidente da Argentina entre 1946 e 1955, período em que promoveu o desenvolvimento industrial no país, nacionalizou diversas companhias estrangeiras e realizou uma série de políticas voltadas para as classes mais pobres da sociedade.
Juan Domingo Perón - Promoveu a industrialização e o desenvolvimento argentino (1946 - 1955)
Perón, contudo, foi deposto por militares em 1955. Ele se exilou no Paraguai e, depois, na Espanha, até 1973, quando retornou à Argentina para concorrer à eleição presidencial. Vitorioso, teve de enfrentar dificuldades econômicas e a forte oposição dos militares. Em julho de 1974, Perón veio a falecer, e Maria Estela Martinez, sua segunda esposa e vice, assumiu a presidência.
Maria Estela Martinez (Isabelita) e Juan Domingo Perón
O governo de Isabelita, como era conhecida, não resistiu à instabilidade política e financeira do país. Em 1976, os militares, liderados por Jorge Rafael Videla, deram um golpe de Estado e instalaram uma ditadura na Argentina, que durou até 1983.
A ditadura argentina acabou com as liberdades democráticas e implantou um terrorismo de Estado. Censurou os meios de comunicação e promoveu perseguições, prisões, torturas e assassinatos de opositores. Na economia, o governo iniciou um processo de desindustrialização de setores, como a metalurgia, deslocando indústrias para o interior do país a fim de diminuir os custos com mão de obra; reduziu taxas protecionistas e fez uma reforma financeira. Isso levou à falência de empresas e ao aumento do desemprego, da pobreza, da fuga de capitais e da dívida externa.
Regime militar argentino desindustrializou alguns setores produtivos, abriu a economia sem proteger o mercado e fez reformas financeiras.
Futebol e política
Copa FIFA de Futebol - Argentina 1978
Assim como ocorreu com o Brasil em 1970, na Argentina os ditadores aproveitaram o futebol para se promover. Na Copa de 1978, disputada no país, o governo argentino viu na organização do evento a possibilidade de transferir para o regime militar a popularidade e as conquistas do futebol. Entretanto, as notícias da brutal repressão e do clima de guerra instalado na Argentina pelos militares haviam chegado ao exterior e quase provocaram a mudança do país-sede.
Apesar da ameaça de boicote de vários países, a Copa foi mantida na Argentina. Na final do torneio, até hoje motivo de suspeitas e questionamentos, os donos da casa bateram a Holanda por 3 a 1 e conquistaram o seu primeiro título mundial. Os militares argentinos utilizaram largamente o evento, colocando-se como participantes ativos em todas as cerimônias. O capitão da seleção, Daniel Passarela, recebeu a taça das mãos do próprio presidente Videla.
Atletas e torcedores argentinos comemoram a vitória na Copa do Mundo de 1978, em Buenos Aires. Na cerimônia, os jogadores receberam a taça das mãos do ditador argentino Jorge Rafael Videla.
O sequestro de bebês
Uma prática comum da ditadura argentina foi sequestrar os bebês de pessoas mortas pelo regime ou de mulheres grávidas que foram levadas à prisão. Neste último caso, após o nascimento da criança, a mãe era separada do bebê. Várias dessas crianças foram adotadas pelos próprios assassinos de seus pais ou por outros agentes das Forças Armadas. Outras crianças, ainda, foram encaminhadas para orfanatos com nomes diferentes, para que não pudessem ser localizadas.
“Estima-se em torno de 500 o número de bebês e crianças desaparecidas. A estratégia de apropriação dos filhos dos detidos desaparecidos parece obedecer a ao menos dois desígnios: impedir que a criança recebesse uma educação que pudesse torná-la um/a novo/a subversivo/a e atingir de modo cruel e perene a família dos indivíduos considerados suspeitos de desenvolver atividades políticas de esquerda. [...] garantir que os filhos pequenos ou bebês dos militantes políticos fossem criados por agentes das Forças Armadas, funcionários do Estado ou instituições públicas, significava colocá-los a salvo da ‘subversão’.”
JOFFILY, Mariana. A diferença na igualdade: gênero e repressão política nas ditaduras militares do Brasil e da Argentina. Espaço Plural, ano X, n. 21, 2o sem. 2009. Disponível em <http://mod. lk/3unna>. Acesso em 5 mar. 2020.
Anos mais tarde, quando as avós conseguiam encontrar seus netos, os juízes alegavam que elas não souberam educar seus filhos, que se tornaram “subversivos”; portanto, não estavam aptas também a educar os netos e a obter a guarda deles.
Regime militar argentino e os sequestros de crianças pela ditadura.
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