A sangrenta ditadura no Chile (1973 - 1990)
Ditadura militar chilena - Augusto Pinochet Ditadura é um regime de governo onde o poder está concentrado nas mãos de um indivíduo ou grupo.
Ditadura - Censura, falta de liberdade, repressão, desigualdades...Uma ditadura se caracteriza por ter censura, falta de eleições transparentes, de liberdade partidária e um intenso controle do Estado na vida dos cidadãos.
A ditadura é um regime antidemocrático que se baseia no governo de um ditador. Para exercê-lo, o dirigente se apoia em apenas um partido político cuja ideologia será a única considerada correta e na censura.
Antes do Golpe Militar liderado por Augusto Pinochet (ditador chileno), em 1970, o médico socialista Salvador Allende foi eleito presidente do Chile. Candidato pela Unidade Popular, uma frente de esquerda, democrática e progressista, Allende colocou em ação seu programa de governo: reforma agrária, melhorias no sistema de saúde e nacionalização de empresas estrangeiras, especialmente bancos e minas de cobre. Allende dizia que seu governo construiria o socialismo no Chile pela via pacífica.
Salvador Guillermo Allende GossensAs medidas do governo de Allende, porém, despertaram a reação das elites, dos militares e do governo dos Estados Unidos, que prepararam o golpe para derrubá-lo. Em 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas chilenas, sob o comando de Augusto Pinochet, bombardearam e invadiram o Palácio de La Moneda, sede do governo chileno. O presidente optou pelo suicídio, e os militares tomaram o poder.
Salvador Allende com sua guarda pessoal no Palácio de La Moneda, em Santiago do Chile, setembro de 1973. Essa foi a última foto tirada do presidente vivo, quando o palácio era atacado pelos militares.Operação Condor - Os governos militares do Brasil, da Argentina, do Chile, da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai formaram, em 1975, uma aliança secreta com os objetivos de perseguir, prender, torturar e executar os opositores do regime nesses países, bem como obter informações sobre atividades subversivas de movimentos sociais e guerrilhas. Apoiada financeira e militarmente pelos Estados Unidos, a operação permitiu que os militares circulassem livremente pelas fronteiras desses países.
O general Augusto Pinochet, o novo chefe de governo, dissolveu os partidos políticos e perseguiu os simpatizantes de Allende. Muitas pessoas foram presas no Estádio Nacional do Chile, que se transformou em um centro de interrogatórios e torturas. Estima-se que mais de 3 mil pessoas tenham sido mortas e mais de 30 mil torturadas no país.
Economicamente, o governo incentivou a entrada de multinacionais, visando beneficiar o empresariado, o governo implantou uma política de arrocho salarial, liberou as exportações e privatizou setores importantes, como a educação e a saúde. Medidas como essas, de cunho neoliberal, estabilizaram a economia do país e diminuíram a inflação. Por outro lado, elas também aumentaram a desigualdade social e geraram uma nova crise, e logo algumas dessas ações liberalizantes foram revertidas na década de 1980.
Em 1988, uma consulta popular decidiu pelo fim do governo Pinochet. Mesmo assim, o militar ainda conseguiu o direito de ser nomeado senador vitalício do país, o que impediu que fosse julgado por seus crimes.
As resistências argentina e chilena
Assim como no Brasil, os regimes militares na Argentina e no Chile foram muito combatidos por diversas organizações e movimentos sociais, compostos de estudantes, trabalhadores, artistas, intelectuais, políticos etc.
Protestos realizados pelos movimentos sociais chilenos contra a ditadura de Pinoche.
No caso argentino, o mais conhecido é o movimento das Mães da Praça de Maio. No dia 30 de abril de 1977, em plena ditadura militar, catorze mulheres se reuniram na Praça de Maio, em frente à sede do governo em Buenos Aires, para protestar por seus filhos desaparecidos. Com esse ato, elas iniciavam uma luta incansável por verdade, memória e justiça.
Até hoje, as mães e avós de vítimas da ditadura se reúnem na Praça de Maio toda semana para denunciar os crimes do regime militar na Argentina.
Manifestação das Mães e Avós da Praça de Maio, em Buenos Aires, Argentina, no Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça, em 2018.
A Nova Canção Chilena
O movimento Nova Canção Chilena surgiu no final da década de 1960 e unia arte e política. Seus principais representantes foram Victor Jara, Violeta Parra e seus filhos Ángel e Isabel Parra, Patricio Manns e os grupos Quilapayún, Inti Illimani e Cuncumén. Eles apoiaram a candidatura do socialista Salvador Allende à presidência e tinham um lema: “Não há revolução sem canção”.
A Nova Canção Chilena valorizava o folclore latino-americano e a temática de orientação socialista. O grupo Inti Illimani, por exemplo, buscava resgatar as raízes indígenas e andinas. O próprio nome do grupo mostra isso: “Inti” significa Sol em quéchua, e “Illimani”, em aymará, é o nome de uma montanha boliviana. As ideias desse movimento tinham como objetivo construir uma alternativa nacional aos produtos culturais importados dos Estados Unidos.
Victor Jara em foto sem data. O músico chegou a ser nomeado Embaixador Cultural do governo Allende.
Contudo, quando Pinochet tomou o poder e impediu a livre manifestação da sociedade chilena, muitos estudantes, artistas e militantes de esquerda, entre eles Victor Jara, foram detidos. Jara foi espancado por militares e, em 16 de setembro de 1973, foi encontrado morto nos arredores de Santiago.
As arpilleras que choram
A arpillera é uma técnica têxtil típica do Chile, feita com tecidos rústicos provenientes de sacos de farinha ou batata e costurada a mão. Durante a ditadura chilena, muitas mulheres que foram presas, ou tiveram familiares presos, torturados ou assassinados, denunciaram a violência do regime por meio das arpilleras.
O uso dessa técnica tradicional chilena para se manifestar é um exemplo de como muitas mulheres produziram obras artísticas contra a ditadura, que hoje são um testemunho da resistência popular ao regime.
Arpillera chilena da década de 1970. Nela, pode-se ler: “Nem podemos opinar”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário