O Estado Novo (1937 -1945).
Estado Novo (1937 - 1945) Trabalhismo, populismo, censura e repressão.
As
eleições presidenciais estavam marcadas para o dia 3 de janeiro de 1938,
conforme previa a Constituição de 1934. Getúlio Vargas, porém, apesar de apoiar
publicamente as eleições, tinha outros planos.
Desde
o levante comunista de 1935, a ideia de que havia um “perigo vermelho” à
espreita era usada para justificar as medidas repressivas do governo. E assim
ela foi mais uma vez conveniente a Getúlio Vargas. Em setembro de 1937, os
jornais publicaram a descoberta do Plano Cohen, um suposto plano
comunista para a tomada do poder no país. O documento, no entanto, havia sido
forjado pelo capitão Olímpio Mourão Filho, integralista e chefe do serviço
secreto do exército, com o intuito de gerar pretexto para um novo golpe e
manter Vargas no poder.
A
estratégia foi bem-sucedida. No dia 10 de novembro de 1937, tropas federais
fecharam o Congresso Nacional e a população foi informada pelo rádio de que um
novo regime político estava sendo instaurado: o Estado Novo. Uma
nova Constituição foi anunciada no mesmo ano, ampliando ainda mais os poderes
do presidente.
Os
trabalhadores urbanos e suas lideranças sindicais foram uma das preocupações
centrais do Estado Novo. Reconhecendo esse setor como uma importante força
política, Vargas tratou de aproximar os sindicatos do aparato estatal e
desarticular a organização independente dos trabalhadores. Assim, o Estado
assumia o papel de mediação entre patrões e empregados, evitando convulsões
sociais.
A
primeira medida nessa direção foi formalizada em 1939 com a proibição da
existência de mais de um sindicato por categoria profissional. Em 1942, entrou
em vigor o imposto sindical, um percentual recolhido anualmente dos
salários dos trabalhadores, e repassado aos sindicatos, outras entidades de
classe e ao Ministério do Trabalho.
Ao
mesmo tempo que aplicava medidas de controle, Vargas buscou atender, em parte,
às antigas reivindicações do movimento operário. Em 1943, ele aproveitou as
comemorações do Dia do Trabalho para anunciar a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), um conjunto de normas que reunia leis já existentes e
regulamentava o mercado de trabalho em todo o país.
Entre
os direitos trabalhistas estabelecidos na CLT estavam a jornada de 8 horas, a
igualdade salarial entre homens e mulheres, o salário mínimo, a proibição do
trabalho para menores de 14 anos, a licença-maternidade e o adicional salarial
para as atividades insalubres.
Charge de Nássara publicada na revista Careta, em maio de 1937. Nela, há o seguinte diálogo entre a Presidência e Vargas: “Ela – Por que você me leva para passear em frente daquela turma? Ele – Para deixá-los com água na boca...”.
Instrumentos
de repressão e censura
Conduzindo
um governo autoritário, Vargas criou ou reestruturou órgãos de Estado com o
objetivo de perseguir e reprimir a oposição. A Delegacia de Ordem
Política e Social (Dops), por exemplo, criada em 1924 para conter as
tensões sociais do período, teve sua ação redirecionada para reprimir
comunistas e demais opositores do governo. Judeus, integralistas, simpatizantes
do nazismo e do fascismo e imigrantes vindos dos países do Eixo também viraram
alvos da repressão política. São diversos os relatos de tortura e de outras
arbitrariedades cometidas pela polícia política do regime.
Além
da repressão, o Estado Novo foi marcado pela censura e pelo uso da propaganda.
Para isso, foi criado, em 1939, o Departamento de Imprensa e Propaganda
(DIP). O DIP tinha a tarefa de difundir a ideologia do regime e enaltecer a
figura do líder entre as camadas populares. As ações de propaganda eram
coordenadas por esse órgão, que cuidava da direção do programa de radiodifusão
oficial do governo e da organização de manifestações cívicas, festas
patrióticas, exposições e concertos.
Os
grandes jornais e a produção cultural estavam sujeitos à censura pelos agentes
do DIP, que selecionavam conteúdos favoráveis ao governo e à “moralidade
pública”. Como parte da estratégia de propaganda, o DIP também produzia e
distribuía cartilhas voltadas para crianças e jovens, que enalteciam Vargas e seu
governo. Na Rádio Nacional, um elenco de grandes estrelas divulgava os valores
e comportamentos considerados adequados na época, como a exaltação do trabalho
e o combate à boemia, financiado com verbas públicas.
Página da cartilha A juventude no Estado Novo, produzida pelo DIP entre 1937 e 1945, em que se lê: “Crianças! Aprendendo, no lar e nas escolas, o culto da pátria, trareis para a vida prática todas as probabilidades de êxito”.
O
fim do Estado Novo
Inicialmente,
o Brasil adotou uma postura neutra na Segunda Guerra Mundial, sem alinhar-se a
nenhum dos dois polos em disputa. Durante o conflito, no entanto, o bloqueio
britânico aos navios mercantes alemães gerou uma queda acentuada no rentável
comércio entre Brasil e Alemanha. Por outro lado, os Estados Unidos, com quem o
Brasil mantinha boas relações, pressionavam por uma posição.
Em
troca de financiamentos para construir indústrias de base e modernizar as
Forças Armadas, o Brasil permitiu que tropas estadunidenses instalassem bases
militares no estado do Maranhão, considerado geograficamente estratégico. O
Brasil também passou a fornecer borracha e minérios para a indústria bélica dos
países Aliados.
Diante
do rompimento diplomático anunciado pelas autoridades brasileiras, a Alemanha
atacou, com seus submarinos, navios mercantes brasileiros no Mediterrâneo e no
Atlântico. Diante disso, em agosto de 1942 o Brasil declarou guerra aos países
do Eixo. A Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi
organizada com o apoio de britânicos e estadunidenses e, em 1944, passou a
integrar os batalhões dos Aliados na Campanha da Itália.
Ao
final da guerra, as contradições da atuação brasileira no conflito passaram a
abalar a situação política de Vargas. Para muitos, era incompreensível o porquê
de o Brasil, governado por uma ditadura, ter lutado com os Aliados contra os
regimes totalitários na Europa.
Além
disso, por lutar ao lado da União Soviética na guerra, o Brasil foi pressionado
a anistiar e libertar os presos políticos, muitos deles comunistas, e a
legalizar o Partido Comunista do Brasil (PCB). A situação foi usada pelos
adversários de Vargas, que passaram a associá-lo ao ao comunismo. Diante de
tantos desgastes, Vargas renunciou em 29 de outubro de 1945.
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