O Segundo Reinado: Do Apogeu à Queda da Monarquia
O Segundo Reinado (1840-1889), sob a liderança de D. Pedro II, representou um período de notável estabilidade política e transformação econômica para o Brasil. Marcado pela consolidação do Estado nacional, esta era é frequentemente lembrada como um momento de apogeu, mas também carregava em si os germes de sua própria dissolução.
A Era de Ouro: Café, Progresso e a "Modernidade" do Imperador
O alicerce da prosperidade do Segundo Reinado foi, incontestavelmente, o café. O "ouro verde" fluiu dos vales do Paraíba para o Oeste Paulista, gerando uma riqueza sem precedentes que financiou o desenvolvimento nacional. Foi justamente dessa economia cafeeira pujante que surgiram os capitais para os primeiros grandes investimentos industriais, notadamente na área têxtil, marcando o início tímido, porém significativo, da industrialização brasileira.
Este crescimento demandou infraestrutura. O governo imperial promoveu grandes avanços, com a expansão das ferrovias – como a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, que escoava a produção cafeeira –, a instalação de linhas telegráficas que integravam o vasto território, e a melhoria dos portos. A urbanização do Rio de Janeiro ganhou novos contornos com a introdução do bonde e do gás de iluminação.
A figura do Imperador D. Pedro II era central nesse projeto de "nação civilizada". Um mecenas das ciências e das artes, ele personificava o ideal de um governante erudito e progressista. Sua imagem serena e dedicada conferia credibilidade internacional ao país e garantia, internamente, um equilíbrio político através do "Parliamentarismo às Avessas". Ações como o incentivo à educação, à pesquisa e a própria manutenção da unidade nacional em um contexto de revoltas regionais são legados positivos de seu longo governo.
As Rachaduras na Coroa: O Caminho para o Declínio
Contudo, a partir da década de 1870, as bases do Império começaram a tremer. O sistema que parecia sólido revelou suas fissuras, culminando em uma crise multifacetada que levaria à sua queda.
1. A Questão Abolicionista: A abolição da escravidão foi o golpe mais decisivo na estrutura imperial. As leis abolicionistas, embora graduais, minaram a base de apoio dos grandes proprietários de terra, a principal elite do Império. A Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885) foram vistas como intromissões do Estado em seus domínios. O fortalecimento do movimento abolicionista, com figuras como Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, e a pressão internacional, criaram um clima de insustentabilidade. A Lei Áurea (1888), assinada pela Princesa Isabel, foi celebrada pela população, mas alienou de vez a classe dos "barões do café", que, sem a indenização pelos escravos libertos, retiraram seu apoio à monarquia.
2. A Guerra do Paraguai (1864-1870): Guerra iniciada pela disputa pela hegemonia na Bacia do Prata e rivalidades políticas e econômicas entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, oconflito, embora vitorioso para o Brasil, teve consequências desastrosas. Exauriu os cofres públicos, endividou o país e fortaleceu o Exército. Os militares voltaram da guerra profissionais, conscientes de seu poder e descontentes com a política imperial, que desprezava suas reivindicações e lhes negava voz ativa na vida política.
3. A Questão Militar: Esse descontentamento deu origem à Questão Militar. Oficiais, influenciados por ideias positivistas e republicanas, passaram a criticar publicamente o governo e a interferência de políticos civis em assuntos castrenses. O imperador, que considerava os militares uma instituição subalterna, repreendeu-os publicamente, como no célebre episódio com o Coronel Cunha Matos. Esse atrito fez com que o Exército, outrora fiel, se tornasse um foco de oposição ativa.
4. A Questão Religiosa: O Império também perdeu o apoio da Igreja Católica. D. Pedro II, seguindo a tradição do Padroado, interveio em assuntos eclesiásticos, punindo bispos que cumpriram ordens do Papa e prenderam maçons (muitos deles políticos importantes do regime). A ruptura com a hierarquia da Igreja, outro pilar de sustentação do trono, foi profunda e irreconciliável.
5. Crise Econômica: Os principais problemas econômicos do Segundo Reinado após a Guerra do Paraguai foram o endividamento público, os gastos com a guerra, a crise na mão de obra escrava e a instabilidade gerada pela abolição, que levou à perda de apoio dos cafeicultores ao governo. Além disso, houve desafios na modernização, apesar de investimentos como a expansão das ferrovias e a indústria.
6. Perda do apoio político - Governo teve a sua base de sustentação enfraquecida com todos os itens acima.
A Proclamação da República
Em 15 de novembro de 1889, todas essas correntes de insatisfação convergiram. Com o apoio de cafeicultores paulistas descontentes, de ideais republicanos em ascensão e da conivência de uma população urbana cada vez mais afastada da figura do imperador, um pequeno grupo de militares, liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca, decretou o fim do Império. Sem bases de apoio – escravocratas, militares, religiosos e até mesmo uma parcela da elite econômica –, D. Pedro II foi deposto de forma rápida e quase sem resistência, encerrando 67 anos de Segundo Reinado e inaugurando a República Brasileira. A monarquia, que havia guiado o país através de uma era de prosperidade, sucumbiu à sua incapacidade de se adaptar às novas forças sociais e políticas que ela mesma ajudara a criar.
ATIVIDADE PONTUADA
Exercício: O Segundo Reinado Brasileiro - Do Apogeu ao Declínio
Instruções:
· Leia o texto de apoio com atenção.
· Responda às questões 1 a 8 de forma discursiva, sendo claro e objetivo.
· Para as questões 9 a 16, marque a alternativa correta.
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Parte 1: Questões Discursivas (1 a 8)
1. Segundo o texto, qual foi o principal produto que serviu de base para a prosperidade econômica do Segundo Reinado e como ele influenciou o processo de industrialização?
2. Explique, com base no texto, de que forma a economia cafeeira permitiu investimentos em infraestrutura durante o governo de D. Pedro II. Dê dois exemplos dessas melhorias.
3. Além dos aspectos econômicos, qual era a imagem projetada por D. Pedro II e como isso contribuía para a estabilidade política do Império?
4. Por que a abolição da escravidão, mesmo sendo uma causa progressista, é considerada um fator de desgaste para a Monarquia?
5. A Guerra do Paraguai é apontada como um evento vitorioso, mas com consequências negativas para o Império. Quais foram duas dessas consequências mencionadas no texto?
6. O que foi a "Questão Militar" e por que ela representou uma ruptura na relação entre o Exército e o governo imperial?
7. Descreva brevemente o conflito conhecido como "Questão Religiosa" e seu impacto para a sustentação do trono de D. Pedro II.
8. Sintetize, conforme o texto, quais foram os três principais grupos ou instituições que retiraram seu apoio ao Império, tornando a Proclamação da República possível.
Parte 2: Questões de Múltipla Escolha (9 a 16)
9. O principal produto de exportação que financiou a economia do Segundo Reinado foi:
a) A borracha.
b) O algodão.
c) O café.
d) A cana-de-açúcar.
10. A industrialização inicial no Brasil, durante o Segundo Reinado, foi financiada principalmente:
a) Pelo capital estrangeiro inglês.
b) Pelos empréstimos obtidos após a Guerra do Paraguai.
c) Pelos lucros oriundos da economia cafeeira.
d) Pela exploração de ouro em Minas Gerais.
11. A figura de D. Pedro II era associada a um ideal de governante:
a) Guerreiro e expansionista.
b) Mercantilista e protecionista.
c) Erudito e progressista.
d) Radical e democrático.
12. A Lei que decretou o fim definitivo da escravidão no Brasil, alienando a elite agrária, foi:
a) Lei do Ventre Livre (1871).
b) Lei Eusébio de Queirós (1850).
c) Lei dos Sexagenários (1885).
d) Lei Áurea (1888).
13. Uma das principais consequências da Guerra do Paraguai para o Brasil foi:
a) A anexação de territórios paraguaios.
b) O endividamento das contas públicas e o descontentamento dos militares com a política imperial.
c) A imediata proclamação da República.
d) A união política com Argentina e Uruguai.
14. A "Questão Militar" refere-se ao conflito entre o Exército e o governo imperial porque:
a) Os militares eram contra a abolição da escravidão.
b) O governo não permitia que os militares usassem uniformes.
c) Os oficiais militares desejavam maior participação política e sentiam-se desprezados pelo Imperador.
d) O Exército era a favor do retorno do Primeiro Reinado.
15. A "Questão Religiosa" ocorreu devido à:
a) Proibição do catolicismo no Brasil.
b) Interferência do Imperador em assuntos internos da Igreja, como a punição de bispos.
c) Conversão de D. Pedro II ao protestantismo.
d) Separação oficial entre Igreja e Estado antes de 1889.
16. O ato final que depôs o Imperador e instaurou a República no Brasil é conhecido como:
a) Golpe da Maioridade.
b) Revolução Federalista.
c) Proclamação da República.
d) Revolta da Armada.
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Foto do quadro da aula
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