sábado, 4 de novembro de 2023

Península arábica, Maomé e o Islamismo

Maomé, islamismo - Sunitas e xiitas


O profeta Maomé e seus disciplos


Árabes e muçulmanos 


Diferença entre árabes e muçulmanos.


Maomé e a fundação do islã

A força da religião não se limitava à Europa medieval. Na Arábia, onde hoje se situa a Arábia Saudita, foi fundada uma religião monoteísta que em poucos anos se espalharia por todo o Oriente Médio. O nome dessa religião é islã, também conhecida como islam ou islamismo, e seus seguidores são chamados muçulmanos ou islâmicos.



Islã


A imagem que se difundiu no Brasil e em outros países ocidentais a respeito do islã é geralmente negativa. Ele tem sido associado ao fanatismo religioso, aos ataques promovidos por grupos extremistas e à tragédia criada pela guerra civil na Síria. O que muitas pessoas não sabem, porém, é que os extremistas islâmicos representam uma pequena minoria do mundo muçulmano.

Por isso, conhecer alguns aspectos importantes da história e da cultura islâmica deverá contribuir para superar essa visão negativa em relação aos povos muçulmanos e para ampliar a sua compreensão sobre a Idade Média.


Os primeiros tempos do islã

O islã surgiu na Península Arábica no século VII. Seu fundador, Maomé, era um próspero mercador de caravanas da tribo dos coraixitas. Segundo a tradição, ele recebeu sua primeira revelação divina por volta dos 40 anos de idade. Conta-se que, enquanto meditava em uma caverna perto de Meca, o anjo Gabriel lhe apareceu e anunciou: “Maomé, tu és o profeta de Deus, e tua missão é pregar a fé em um único Deus”.


Significado palavra coraixita


Segundo a tradição, Maomé (o fundador do Islamismo) ouviu a voz do Anjo Gabriel enquanto meditava por volta de 610 d.C. Segundo o Anjo Gabriel, Maomé seria o Último Profeta de Deus. Para os seguidores do Islamismo, a Palavra de Deus foi revelada a Maomé e está contida no Livro Sagrado: o Alcorão.


Inicialmente, Maomé confiou a revelação apenas a familiares próximos. Por volta de 613, decidiu tornar pública a mensagem revelada. Assim, dirigiu-se à Colina de Safa, diante do santuário da Caaba, para anunciar a existência de um único Deus, condenar a idolatria e declarar-se o último mensageiro de Deus.

Caaba



Pedra Negra na Caaba


As pregações de Maomé incomodaram os líderes coraixitas, que temiam perder seu poder político e os lucros obtidos com as peregrinações à Caaba. Assim, em 622 do calendário cristão, Maomé, pressionado e ameaçado, migrou para Yatrib (Medina). O episódio, conhecido como Hégira, foi adotado como o ano 1 do calendário muçulmano.


Definição de Hégira



Mohammed e a Hégira


Os cinco pilares do islamismo


Pilares do islã


A Hégira marcou o início da aceitação e da expansão do islã na Península Arábica. Depois de reorganizar suas forças militares em Yatrib, Maomé retornou a Meca, reconciliou-se com os mercadores coraixitas e ali estabeleceu o centro do islã. Os ídolos da antiga crença politeísta, situados na Caaba, foram destruídos e o santuário foi purificado.

Com a nova religião, o grande cubo negro da Caaba ganhou um novo significado. Na tradição muçulmana, ele teria sido construído por Adão, destruído pelo dilúvio e reconstruído por Abraão e seu filho Ismael. Por essa razão, a cidade de Meca, onde está a Caaba, é o local mais sagrado para o islã.

Conheça agora os cinco pilares do islamismo, ou seja, as obrigações que orientam a vida de todos os fiéis muçulmanos.


Obrigaões dos fiéis muçulmanos


Obrigações islã


Proferir o testemunho de fé, declarando que existe um único Deus e que Maomé é seu profeta.

Orar cinco vezes ao dia: ao nascer do Sol, ao meio-dia, no meio da tarde, ao entardecer e à noite, em pé e voltado em direção a Meca.

Praticar a caridade com os necessitados por meio da doação de dinheiro, chamada de zakat.

Jejuar no mês do Ramadã (9º mês do calendário islâmico), não consumindo alimentos nem bebidas do nascer ao pôr do Sol.

Realizar a peregrinação a Meca (hajj), no 12º mês do calendário muçulmano, pelo menos uma vez na vida caso haja condições físicas e financeiras.

Além disso, os muçulmanos são proibidos de consumir álcool e carne de porco, animal que consideram impuro. Também devem dedicar as sextas-feiras, um dia sagrado para o islamismo, às orações conjuntas da comunidade. 

Entre as festividades religiosas do islã, destacam-se a celebração do fim do jejum do Ramadã (Eid El Fitr) e a Festa do Sacrifício (Eid El Adha), que comemora o fim da peregrinação a Meca. Embora praticadas por muçulmanos de todo o mundo, essas celebrações podem variar de região para região, de acordo com particularidades culturais. Comidas típicas, grandes banquetes e demonstrações de generosidade, porém, são comuns em diferentes países, como a Somália e o Paquistão.



Muçulmanos oram na Grande Mesquita de Baiturrahman, na Indonésia, durante o Ramadã. Foto de 2017.


A Caaba antes de Maomé

Os antigos árabes acreditavam em diversos deuses e adoravam elementos da natureza. As centenas de divindades estavam subordinadas a um deus superior, Allah (Alá), e eram cultuadas na Caaba, na cidade de Meca, onde uma grande pedra negra sagrada encontra-se guardada. Junto a ela estavam 360 ídolos, provavelmente associados aos dias do ano. Anualmente, todas as tribos da Arábia para lá se dirigiam em peregrinação.


Simulação interior da Caaba


Pedra Negra é uma rocha situada no canto leste da Caaba, o antigo edifício no centro da Grande Mesquita em Meca, Arábia Saudita. É venerado pelos muçulmanos como uma relíquia islâmica que, de acordo com a tradição muçulmana, remonta à época de Adão e Eva.


A divisão e a expansão do islã

Quando Maomé morreu, em 632, toda a Arábia estava unificada em torno do islã. Visando preservar a obra religiosa do profeta, seus seguidores iniciaram o registro do Alcorão, o livro sagrado do islamismo. Também iniciaram a compilação da Sunna, livro que registra os feitos e as recomendações de Maomé e serve de guia espiritual e de conduta para os muçulmanos.


É o livro sagrado do Islã. Os muçulmanos creem que o Alcorão é a palavra literal de Deus (Alá) revelada ao profeta Maomé (Muhammad) ao longo de um período de vinte e três anos. A palavra Alcorão deriva do verbo árabe que significa declamar ou recitar; Alcorão é portanto uma "recitação" ou algo que deve ser recitado.



Sunna são as tradições e práticas do profeta islâmico Maomé que constituem um modelo a ser seguido pelos muçulmanos. A sunna é o que todos os muçulmanos da época de Maomé evidentemente viram, seguiram e transmitiram às gerações seguintes. De acordo com as teorias islâmicas clássicas, as sunna são documentadas por hadith (o registro transmitido verbalmente dos ensinamentos, ações e ditos, permissões silenciosas ou desaprovações de Maomé ), e junto com o Alcorão (o livro do Islã ) são a revelação divina ( Wahy ) entregue através de Maomé que constitui as fontes primárias da lei islâmica e da crença/teologia .


Maomé morreu sem indicar um sucessor. Sua morte reacendeu antigas inimizades entre as tribos beduínas e dividiu a comunidade muçulmana em dois grupos principais: um defendia que o sucessor deveria ser escolhido entre os familiares de Maomé (os xiitas); o outro alegava que Maomé não havia indicado um sucessor, pois entendia que a comunidade tinha o poder de decidir (os sunitas).

O escolhido foi Abu Bakr, amigo e conselheiro de Maomé. Ele se tornou o primeiro califa, que em árabe significa sucessor do profeta e chefe da comunidade muçulmana. A escolha, porém, enfrentou a resistência dos partidários de Ali Ibn Talib, primo e genro de Maomé. As rivalidades entre os dois grupos evoluíram para a guerra civil quando Ali chegou ao poder e se tornou o quarto califa.

Os muçulmanos que defendiam o direito de Ali e seus descendentes governar a comunidade islâmica passaram ser conhecidos como xiitas (os Shiat Ali, partidários de Ali). No lado oposto, aqueles que apoiavam a escolha do califa pelo conjunto dos fiéis ficaram conhecidos como sunitas. O nome vem de Ahl al-Sunna, pessoas que seguem a tradição compilada nos relatos da Sunna.


Algumas diferenças entres sunitas e xiitas


Mesmo com as divisões internas, em pouco mais de um século, os califas estenderam o islã por um vasto território, que incluía a Arábia, a Palestina, a Síria, a Mesopotâmia, o norte da África, a Pérsia e a Península Ibérica (veja o mapa e a linha do tempo).



Sunitas (Península Arábica), xiitas (Irã e Iraque) e ibaditas (Omã)


A jihad

O conceito da jihad se desdobra em dois: a “jihad menor”, que prega a expansão da fé islâmica por meio da conquista territorial; e a “jihad maior”, que representa a luta interior do fiel por uma vida condizente com a vontade divina.

Nos países ocidentais, como o Brasil, a jihad tende a ser confundida com o terrorismo praticado por grupos extremistas. Mas o significado real de jihad é o esforço de todo fiel para converter os não muçulmanos ao islã.



Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique. Paris: Larousse, 1987. p. 196-197, 209.


Califas (após a morte de Maomé)

Califa ("sucessor" ou "representante") é o chefe de Estado em um Califado, e o título para o governante da Umma muçulmana, uma comunidade islâmica governada pela sharia. Seu adjetivo é o califal. Sua família se chama família califal e o seu trono, por ser um chefe-de-estado, trono califal (antinobiliarquia). Tradicionalmente, no Ocidente, tem sido considerado que um califa tem o mesmo status que um imperador.

O título de califa foi inicialmente usado por Abacar, o sogro de Maomé, quando o sucedeu pela primeira vez como líder da Umma (comunidade do Islão), em 632, e tornou-se o título que se atribuía ao chefe primário do islamismo.


Os acontecimentos dessa linha do tempo não foram representados em escala temporal.


A valorização do conhecimento

O mundo islâmico produziu importantes estudos em diversas áreas do conhecimento. Ao expandir o islã e as atividades comerciais, os muçulmanos entraram em contato com muitas culturas, o que lhes permitiu conhecer inovações tecnológicas de outros povos, como a bússola, o astrolábio e o papel chineses, bem como textos do mundo grego, persa e indiano.

O estudo obrigatório do Alcorão também permitiu desenvolver a teologia, a filosofia, o direito, a gramática e a história, destacando-se, entre os principais pensadores, os filósofos Abu al-Farabi e Averróis e o historiador Ibn Khaldun.

Os califas fundaram grandes bibliotecas, como a de Bagdá, que reunia manuscritos originais gregos, persas, indianos e latinos, bem como as respectivas traduções para o árabe. Eles também acolheram estudiosos, poetas e copistas de diferentes culturas e religiões, que contribuíram para engrandecer a ciência islâmica.


O legado científico

* Sabão, hospital, farmácia, número zero, anestesia... O que esses elementos têm em comum? Todos foram desenvolvidos ou aprimorados por estudiosos islâmicos. Veja alguns exemplos a seguir.

* Matemática. Os muçulmanos aprimoraram e difundiram os símbolos (de 0 a 9) criados pelos indianos, conhecidos como algarismos indo-arábicos. Desenvolveram a álgebra, a trigonometria, o uso da letra “x” para representar uma incógnita e a classificação das equações segundo os graus.

* Química. Criaram a água de rosas, utilizada em cosméticos e na culinária, o vinagre e o sabão. Abriram farmácias, onde disponibilizavam os medicamentos em forma de pomadas, pílulas e inalantes.

* Medicina. Criaram o conceito de hospital como local para o tratamento dos doentes e para o ensino da medicina. Estudaram doenças como a varíola e a asma, bem como seus tratamentos e medicamentos. Elaboraram ferramentas cirúrgicas, como a seringa, o fórceps, o bisturi e a agulha de sutura. A obra O cânone da medicina, de Avicena (Ibn Sina), publicada no século XI, reunia todo o conhecimento médico e farmacológico da época.

No Império Muçulmano, dois locais se destacaram no estudo de diferentes áreas do conhecimento: a Escola de Alexandria, no Egito, e a Casa da Sabedoria, em Bagdá, voltada principalmente à tradução de obras gregas.

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