quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Povo hebreu e a dominação romana

 Povo hebreu e a dominação romana


Os hebreus na Palestina


Quando as tropas romanas conquistaram o território habitado pelos judeus, no século I a.C., vários outros impérios já tinham dominado anteriormente a região: assírios, babilônios, persas e macedônios. Os judeus também não foram os primeiros habitantes da Palestina, nome que os romanos davam ao território. Os hebreus, como eram chamados os ancestrais dos judeus, estabeleceram-se na região após derrotar outros povos que lá viviam.


O que sabemos sobre a história dos hebreus tem como principal fonte de estudo o Antigo Testamento da Bíblia. Diferentemente da maior parte dos povos da Antiguidade, os hebreus eram monoteístas, ou seja, acreditavam na existência de um deus único, Yahweh (Javé ou Jeová). A base de sua crença se encontra na Torá, os cinco primeiros livros da Bíblia, os quais contêm os 613 mandamentos para a vida judaica.


Originalmente, os hebreus viviam em grupos familiares de pastores seminômades na região da Mesopotâmia. Mas não constituíam um povo no sentido que entendemos hoje, formado por uma comunidade de pessoas que partilham uma identidade comum. Eles se organizavam como uma grande família tribal, liderada por um patriarca.


Conta a Bíblia que, por volta de 1900 a.C., Abraão, líder dos hebreus, recebeu uma ordem de Deus para conduzir seu grupo familiar até Canaã (ou Palestina histórica). Segundo os historiadores, porém, a migração dos hebreus para Canaã foi motivada pela chegada do povo arameu à Mesopotâmia.


Acredita-se que a tomada de Canaã tenha durado vários anos, pois os hebreus tiveram de enfrentar povos que já habitavam a região, como os cananeus. O que as fontes históricas indicam é que, por volta do século XIII a.C., a Palestina, até então habitada pelos cananeus, foi ocupada por pastores nômades vindos das montanhas, provavelmente os hebreus.


Em Canaã, formaram-se doze tribos. Cada uma delas era liderada por um chefe político e militar, em geral um ancião da família mais importante. Em períodos difíceis, um líder era escolhido para exercer autoridade sobre todas as tribos, o juiz. Durante o chamado período dos juízes, as mulheres também podiam exercer a liderança das tribos.


Os Dez Mandamentos


Conta a Bíblia que, pouco mais de 400 anos após a saída de Abraão da Mesopotâmia, uma seca prolongada em Canaã levou os hebreus a migrarem para o Egito, que na época estava sob o domínio dos hicsos. Após a expulsão dos hicsos, os hebreus foram acusados de colaborar com o invasor e por isso foram escravizados. Por volta de 1250 a.C., Moisés, hebreu criado pela filha do faraó, libertou seu povo do cativeiro e o conduziu de volta a Canaã. Narra a Bíblia que, durante a viagem, Moisés recebeu de Deus, no Monte Sinai, duas placas de pedra (as Tábuas da Lei), nas quais foram escritos os Dez Mandamentos. Também conhecidos como Decálogo, os Dez Mandamentos tornaram-se o código de leis do povo hebreu.


A fundação do Reino dos Hebreus


De acordo com a Bíblia, por volta do século XI a.C., os hebreus guerreavam com os filisteus pelo controle de Canaã. Visando organizar a luta contra o inimigo, as doze tribos se unificaram sob a autoridade de Saul, o primeiro rei dos hebreus. Saul foi sucedido por Davi, que reinou por volta de 1010 a.C. a 971 a.C. O novo rei derrotou os filisteus, conquistou a cidade de Jerusalém e a transformou na capital do reino.


O Reino dos Hebreus chegou ao auge no reinado de Salomão, filho de Davi. Ele fortaleceu o exército e estabeleceu relações comerciais com os fenícios e com reinos da Arábia e da África. Salomão ordenou a construção de reservatórios para irrigação, de aquedutos para o abastecimento de água e do Primeiro Templo de Jerusalém. O dinheiro para as obras foi obtido com a cobrança de altos impostos.


Com a morte de Salomão, em 931 a.C., seu filho Roboão assumiu o reino e manteve a política de altos impostos. Diante disso, as dez tribos do norte se rebelaram e criaram o Reino de Israel, com capital em Samaria. No sul, formou-se o Reino de Judá, que manteve sua capital em Jerusalém.


Após a divisão política, as rivalidades e as diferenças entre o norte e o sul se aprofundaram. O Reino de Israel se distanciou da identidade hebraica e desapareceu após a conquista assíria. Os hebreus do Reino de Judá, ao contrário, procuraram manter a tradição religiosa de seus ancestrais. Por isso, a partir daquele momento, os hebreus de Judá passaram a ser conhecidos como judeus, e o território onde viviam ficou conhecido como Judeia.


A conquista romana da Judeia


Após sucessivos domínios estrangeiros (reveja a linha do tempo), a Judeia, às vésperas da conquista romana, era um Estado religioso independente. No ano 63 a.C., após dominar a Síria, a Fenícia e o norte da Palestina, o general romano Pompeu se dirigiu a Jerusalém. Após três meses de cerco, a capital judaica foi tomada pelos romanos. Cerca de 12 mil judeus morreram no conflito, e, embora apenas alguns romanos tenham perecido, muitos ficaram feridos.


Inicialmente, a Judeia não era uma província romana, mas um protetorado, ou seja, um Estado que mantinha certa autonomia e devia pagar tributos a Roma. A relação com os romanos se transformou em submissão e aliança a partir de Herodes, judeu-árabe que disputava o governo da Judeia. Protegido por tropas romanas, Herodes cercou Jerusalém, derrotou seus inimigos e assumiu o trono em 37 a.C. No governo, ampliou o reino judeu, anexando toda a Palestina.


Querendo mostrar sua lealdade a Roma, Herodes ordenou a construção de um grande circo em Jerusalém para a realização de lutas, corridas de carros e outros espetáculos populares romanos. No circo havia inscrições de louvor ao imperador Augusto e às suas glórias militares. Outra demonstração de lealdade a Roma foi a construção da cidade de Cesareia, às margens do Mar Mediterrâneo, abrigando palácios, um templo dedicado a Augusto e um porto.


Os novos costumes eram estranhos à tradição religiosa hebraica e despertaram a ira de grande parte da população. Visando agradar os judeus e exaltar a sua própria imagem, Herodes ordenou a reconstrução do Segundo Templo de Jerusalém, erguido quando os judeus voltaram do exílio na Babilônia. As obras de ampliação e remodelação do templo, dedicado ao Deus dos hebreus, empregaram mil carretas para o transporte de pedras e cerca de 10 mil operários, e foram concluídas em 19 a.C.


As condições que levaram à revolta


As majestosas construções do governo de Herodes foram financiadas com altos impostos cobrados da população, que era duplamente tributada, pois tinha de pagar impostos ao templo e a Roma. A insatisfação do povo não culminou em uma revolta armada contra o governo provavelmente por causa do terror que o rei empregava contra seus opositores e por sua aliança com Otávio Augusto.


Herodes morreu em 4 a.C. Dez anos mais tarde, a Judeia foi reduzida à condição de província do império, administrada por governadores romanos. O mesmo ocorreu com a Galileia, no norte da Palestina. Nos anos seguintes, a Judeia foi cenário de conspirações e de uma feroz disputa pelo poder, da formação de facções religiosas e de protestos populares contra os privilégios das elites judaicas.


Duas facções religiosas foram protagonistas dos conflitos na Judeia desse período: os zelotes e os sicários. Os primeiros combatiam a dominação estrangeira e se empenhavam para que as leis da Torá fossem respeitadas em toda a Judeia. Os sicários diferenciavam-se dos zelotes por levar, sob as vestes, uma adaga, que usavam para cometer atentados contra membros da elite judaica que colaboravam com os romanos. Os integrantes dessas facções se espalharam por toda a Palestina.


Os dois grupos também expressavam a insatisfação popular com o enriquecimento da elite judaica. Somando por volta de 160 pessoas, entre sumos sacerdotes, grandes comerciantes e proprietários de terras, essa elite tinha acumulado fortunas por ter uma ligação estreita com o poder imperial romano: ela controlava os tributos, as mercadorias destinadas ao templo e os serviços oferecidos aos peregrinos em Jerusalém.


A revolta judaica e a queda de Jerusalém


A partir do ano 60, camponeses oprimidos pelos altos impostos, endividados e famintos se levantaram contra seus principais tiranos: o poder imperial romano e a elite judaica.


A rebelião eclodiu em 66 em praticamente toda a Palestina. Nero, imperador romano na ocasião, nomeou o general Vespasiano para reprimir a revolta. Os romanos primeiro derrotaram os rebeldes na Galileia e depois seguiram pela costa. Após controlar a maior parte do território, as tropas romanas se prepararam para a tomada de Jerusalém. Na cidade, uma coalizão reunindo rebeldes locais e refugiados da guerra travada na Galileia havia se formado para resistir à invasão romana.


No final de 69 d.C., Vespasiano foi declarado imperador de Roma, e Tito, seu filho, assumiu a operação. No início do ano seguinte, ele iniciou o cerco de Jerusalém. Ao mesmo tempo, uma guerra civil se espalhou pela cidade. De um lado, estavam os zelotes e outros rebeldes prontos para resistir até a morte; de outro, os grupos moderados, entre eles a elite sacerdotal e fundiária judaica, propondo a rendição.


Arrasada pela fome, Jerusalém não resistiu à ofensiva romana. Em agosto de 70, as forças de Tito derrubaram a última barreira da muralha e entraram na cidade. O que veio em seguida foi um cenário de destruição. As estimativas mais confiáveis falam em 600 mil mortos, a maior parte, judeus. O templo foi incendiado e destruído, e o ouro da cidade, saqueado. Cerca de 90 mil judeus foram feitos prisioneiros, vendidos depois como escravos ou levados para lutar nas arenas romanas. Começava a Grande Diáspora, ou seja, a dispersão do povo judeu pelo mundo.


Massada: o último reduto da resistência judaica


Massada é uma fortaleza natural encravada no Deserto da Judeia, a pouca distância do Mar Morto. As edificações da fortaleza, iniciadas no século II a.C., foram ampliadas e reforçadas no reinado de Herodes.


Quando a revolta judaica começou, um grupo de sicários se dirigiu para Massada, derrotou a guarnição romana aquartelada no local e tomou a fortaleza. Rebeldes zelotes se uniram a eles mais tarde. Quando Jerusalém caiu diante dos soldados de Tito, um grupo de sobreviventes fugiu para Massada e juntou-se aos rebeldes para organizar a resistência contra os romanos.


O historiador judeu Flávio Josefo (37-100 d.C.) conta que, no final do ano 72, os romanos concluíram a construção de uma gigantesca rampa para invadir a fortaleza. Diante da situação, o líder sicário Eleazar ben Yair organizou um plano de suicídio coletivo dos 960 judeus refugiados em Massada.


A narrativa de Josefo é dramática e muito questionada pelos pesquisadores. Pela análise de esqueletos humanos e de outros achados arqueológicos no sítio de Massada, o mais provável é que um grupo de sicários tenha cometido suicídio e a maior parte dos rebeldes tenha morrido em combate.

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