sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Rebeliões na colônia (Revoltas coloniais nativistas)

 Rebeliões na colônia


A reação colonial

As reformas realizadas pela Coroa portuguesa visando garantir o monopólio e os lucros com o comércio colonial afetaram diretamente a vida dos colonos na América. A política mercantilista, dessa forma, não gerava conflitos apenas entre as potências europeias; ela também passou a se chocar com os interesses das elites coloniais. O descontentamento com o exclusivo metropolitano, somado aos conflitos de interesses entre as elites coloniais, contribuiu para a eclosão de várias revoltas na colônia.

A Revolta de Beckman (1684-1685) 

A falta de mão de obra tornou-se um problema para os colonos do Maranhão. Eles não podiam escravizar os indígenas, prática combatida pelos jesuítas e proibida em 1680, tampouco tinham acesso a africanos escravizados. A crise se agravou quando a Companhia de Comércio do Estado do Maranhão descumpriu o acordo de garantir o abastecimento de africanos escravizados na região.

A revolta eclodiu em 1684, liderada pelos irmãos e senhores de engenho Manuel e Thomas Beckman, com o apoio dos proprietários de terra. Os revoltosos ocuparam o depósito da Companhia de Comércio do Estado do Maranhão, prenderam os jesuítas, depuseram o governador e apoiaram Manuel Beckman como chefe do novo governo. 

O movimento, no entanto, foi sufocado pelas forças da Coroa. Em novembro de 1685, o líder Manuel Beckman e seu parceiro Jorge Sampaio foram executados, e os outros envolvidos, presos ou condenados ao degredo.


Beckman refugiado nos sertões do Alto Mearim, pintura de Antônio Parreiras, 1936.

A Guerra dos Mascates (1710-1711) 

No início do século XVIII, Recife não tinha a condição de vila, mesmo sendo importante centro econômico da capitania de Pernambuco. Assim, sua população e os negócios que ali aconteciam estavam submetidos às decisões tomadas pelas autoridades de Olinda.

Insatisfeitos com a situação, os comerciantes de Recife, chamados pejorativamente de mascates, começaram a exigir participação no governo da capitania. Em 1710, por ordem régia, Recife foi elevado à categoria de vila. Contra essa medida, os senhores de engenho de Olinda proclamaram uma revolta armada e marcharam em direção a Recife.

Após alguns enfrentamentos, os mascates venceram com o apoio das tropas da Coroa. Além de manter a condição de vila, Recife transformou-se em sede da capitania de Pernambuco, em 1711.

No século XIX, o conflito entre a aristocracia agrária de Olinda e os comerciantes de Recife foi escolhido como tema do livro Guerra dos mascates, do escritor José de Alencar, publicado em 1873. O nome da revolta, portanto, foi criado por ele.


Vista da Cidade Maurícia e do Recife, pintura de Frans Post, 1653.

 A Revolta do Maneta (1711) 

A cobrança de taxas foi a motivação central para a Revolta do Maneta, ocorrida em Salvador, em 1711. Disputas envolvendo França e Inglaterra na Europa levaram os franceses a atacar Portugal, principal aliado dos ingleses, invadindo sua colônia americana. O local escolhido foi o Rio de Janeiro, aonde os franceses chegaram com cerca de 4 mil homens, várias naus e centenas de canhões. Para não atacar a cidade, exigiram uma quantia exorbitante em dinheiro, caixas de açúcar e bois.

Alegando ter sido prejudicada, a Coroa decidiu transferir para os colonos os custos do conflito, aumentando os impostos sobre o comércio do sal e sobre a compra de africanos escravizados. Indignados com a medida, populares de Salvador, sob a liderança do comerciante João Figueiredo da Costa, conhecido como Maneta, iniciaram o levante. Os revoltosos conseguiram a suspensão temporária dos tributos pagos à Coroa, além da redução do preço do sal. No entanto, as principais lideranças foram punidas com açoite e confisco dos bens.

Impressões Rebeldes

Acesso em 3 abr. 2020.
Esse site, desenvolvido pela Universidade Federal Fluminense (UFF), apresenta documentos textuais e visuais a respeito dos movimentos de contestação na história do Brasil.

Os quilombos e a resistência escrava 

A Guerra dos Mascates, a Revolta de Beckman e a Revolta do Maneta tiveram motivações locais ou circunstanciais. Elas expressaram a insatisfação dos colonos com aspectos da administração metropolitana, mas não foram motivadas por um sentimento nacionalista, de libertação do Brasil da opressão colonial, pois esse sentimento nem sequer existia no período.

Contudo, não apenas setores das elites promoveram revoltas na América portuguesa daquele período. Trabalhadores escravizados também desenvolveram meios de se rebelar contra o cativeiro. Além da recusa ao trabalho, da indolência, da ameaça direta à vida do senhor e de sua família, entre outras formas de revolta individuais, os escravizados de origem africana recriaram no Brasil uma estratégia de resistência coletiva que se transformou no maior símbolo da luta contra a escravidão: os quilombos.

Quilombos, ou mocambos, eram aldeias formadas principalmente por escravizados fugidos, que ali procuravam viver de acordo com as formas de organização política e as tradições culturais trazidas da África. Essas comunidades foram criadas em diferentes momentos da história colonial e imperial do Brasil e se espalharam por todo o território.

 Quilombos no Brasil (séculos XVII ao XIX)  


Fonte: Brasil 500 anos: atlas histórico. São Paulo: Três, 1998. p. 21.

Palmares: um Estado africano no Brasil

O maior e mais duradouro dos quilombos construídos no Brasil foi o de Palmares. Também chamado de União dos Palmares, esse imenso quilombo era formado por um conjunto de mocambos erguidos ao longo da Serra da Barriga, em terras do atual estado de Alagoas, que na ocasião faziam parte da capitania de Pernambuco. O maior deles, considerado a sede dos Palmares, era o mocambo do Macaco.

Não se sabe ao certo quando se formou o Quilombo dos Palmares. O que se pode afirmar é que, durante a União Ibérica (1580-1640) e as invasões holandesas (1624-1654), as guerras pelo controle do Nordeste açucareiro facilitaram a fuga de muitos escravizados das propriedades açucareiras. É provável que esses cativos tenham se unido a integrantes de pequenos quilombos formados anteriormente e se instalado na Serra da Barriga, onde fundaram o Quilombo dos Palmares.


Ilustração atual representando a vida dos moradores do Quilombo dos Palmares.

Palmares tinha uma economia diversificada. Os palmarinos cultivavam milho, mandioca, feijão, batata-doce, cana-de-açúcar, banana e criavam animais. Também praticavam o comércio com populações indígenas, trocando produtos e conhecimentos técnicos, o que lhes permitiu aprimorar a pesca e a produção artesanal. Em seu auge, por volta de 1650, Palmares reunia cerca de 15 mil pessoas, entre escravos, libertos, indígenas e brancos acusados de algum crime, distribuídos por cerca de dez mocambos.

Após a expulsão dos holandeses, o governo português direcionou seus esforços à luta para destruir Palmares. A partir de 1674, várias expedições militares foram enviadas para combater os quilombolas, que resistiam sob a liderança de Ganga Zumba. Como a guerra se prolongava, o governador de Pernambuco decidiu contratar os serviços do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho para derrotar o quilombo. Em 1694, as forças do bandeirante venceram a resistência e destruíram completamente Palmares. No dia 20 de novembro do ano seguinte, Zumbi, último líder do quilombo, foi morto e teve sua cabeça exposta em uma praça pública de Recife.

Próxima aula:

O Antigo Regime em crise na Europa - O século das luzes: o iluminismo

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