A contrarreforma - A Reforma Católica e seus impactos no mundo
A reação da Igreja
A Reforma Protestante provocou uma cisão definitiva na cristandade ocidental, que se dividiu em cristãos católicos e cristãos protestantes. Com isso, a intolerância, as perseguições e as guerras religiosas se estenderam pela Europa até meados do século XVII. A Igreja Católica, por exemplo, reagiu às críticas dos reformadores e criou um movimento denominado Contrarreforma ou Reforma Católica.
É importante perceber que a Igreja Católica não estava indiferente aos seus problemas internos. No entanto, a Reforma Protestante, a expansão das novas igrejas pela Europa e a perda de fiéis a pressionaram a iniciar seu movimento de renovação.
A intolerância religiosa
Na época da Reforma Protestante, as pessoas eram obrigadas a seguir a religião do Estado, o que era mais um motivo para a eclosão de guerras religiosas. Atualmente, esse tipo de conflito ainda faz milhares de vítimas em diversas partes do mundo, como na Nigéria e na Indonésia, onde existem disputas entre muçulmanos e cristãos; na Síria e no Iraque, entre muçulmanos xiitas e sunitas; na Índia, entre seguidores do hinduísmo e do islã; no Afeganistão e no Sudão, entre muçulmanos e não muçulmanos; no Egito, entre cristãos e radicais islâmicos etc.
Ato pela liberdade religiosa, realizado na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 2017. No Brasil, os praticantes das religiões afro-brasileiras têm sido as principais vítimas da intolerância e lutam para que suas crenças e práticas religiosas sejam respeitadas.
Instrumentos da Contrarreforma
Para dar início à Reforma Católica, em 1545, o papa Paulo III convocou um concílio* na cidade italiana de Trento, cujos trabalhos se estenderam até 1563. O Concílio de Trento, como ficou conhecido, reafirmou os dogmas e ritos católicos: a salvação pela fé e pelas boas obras; a presença de Cristo na eucaristia; a autoridade do papa; a hierarquia eclesiástica; o celibato do clero; a devoção aos santos e à Virgem Maria; os sete sacramentos (batismo, eucaristia, crisma, matrimônio, ordem, penitência e extrema-unção); e a missa e a Bíblia em latim.
* Concílio: reunião do alto clero católico convocada para decidir a respeito da doutrina da Igreja, dos costumes e da disciplina eclesiástica.
Por meio do Concílio de Trento, a Igreja também condenou a venda de indulgências e de cargos eclesiásticos e determinou a criação de seminários para a formação do clero e a elaboração do catecismo, um resumo da doutrina católica para ser usado na evangelização dos fiéis, principalmente dos jovens e das crianças.
Além disso, a Igreja reorganizou o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, criado em 1231 com o objetivo de vigiar, julgar e punir os acusados de heresia*. Protestantes, judeus e cristãos-novos** foram perseguidos pela Inquisição. O Tribunal também se encarregou de elaborar o Índice de Livros Proibidos, o Index, que consistia numa lista de obras censuradas pela Igreja por serem consideradas prejudiciais à fé católica, perseguindo muitos cientistas e pensadores, como estudamos anteriormente.
* Heresia: pensamento ou conduta que contrariam a doutrina estabelecida pela Igreja. Entre as práticas consideradas heréticas pela Igreja estavam a feitiçaria e os ritos pagãos.
** Cristão-novo: filho ou neto de judeus convertidos ao cristianismo.
Gravura do século XVII que representa pessoas sendo mortas na fogueira. Essa e outras sentenças do Tribunal do Santo Ofício eram executadas em espaços públicos, durante evento conhecido como auto de fé.
A perseguição aos protestantes
Para combater o protestantismo, a Igreja Católica contou com a aliança fundamental de algumas monarquias europeias. Na França, por exemplo, a perseguição aos protestantes foi intensa. Mesmo assim, os protestantes se expandiram pelo reino, concentrando-se nos centros comerciais mais importantes, como Paris, Lion e Orleans.
Na década de 1540, o rei Francisco I instituiu a pena de morte aos huguenotes, como eram chamados os calvinistas franceses. No reinado de Carlos IX (1560-1574), as tensões entre católicos e calvinistas se tornaram ainda mais fortes. O episódio mais grave e sangrento dos conflitos ocorreu em 24 de agosto de 1572 e ficou conhecido como Noite de São Bartolomeu.
Nessa noite, centenas de nobres huguenotes estavam reunidos em Paris para celebrar o casamento do príncipe protestante Henrique de Navarra com a católica Marguerite de Valois, irmã de Carlos IX. Essa união foi anunciada como um sinal de aproximação e uma tentativa de pôr fim às hostilidades entre católicos e protestantes. No entanto, o que se viu foi algo bem diferente. Seguindo ordens da família real, católica, tropas francesas executaram centenas de huguenotes, incluindo seus principais líderes. A onda de violência se espalhou pela França e se estendeu por dois meses, totalizando mais de 10 mil huguenotes mortos.
Os conflitos só terminaram em 1598, com a promulgação do Edito de Nantes, que estabeleceu a liberdade de culto na França.
A Companhia de Jesus
Outra medida tomada pela Igreja Católica para combater a expansão protestante foi a criação da Companhia de Jesus, em 1534, pelo espanhol Inácio de Loyola. Os jesuítas, como ficaram conhecidos, tinham a missão de combater o protestantismo por meio da reafirmação da fé católica, da criação de escolas religiosas e da conquista de novos fiéis.
Na Europa, os jesuítas atuaram principalmente na área do ensino. No entanto, seu papel de maior destaque foi exercido em domínios portugueses e espanhóis na Ásia, na África e na América. Encarregados de catequizar as populações nativas, eles logo perceberam que os antigos métodos de conversão, fundamentados no uso da força, eram ineficientes. Assim, defenderam a necessidade de conhecer as línguas e adaptar o catolicismo às culturas locais.
Essa adaptação não significa que as conversões tenham ocorrido sem conflitos. Em diversos casos, os jesuítas foram acusados de escravizar os nativos, sob o pretexto de evangelizá-los. Além disso, muitos povos resistiram às investidas da Igreja Católica. No Japão, por exemplo, o cristianismo foi proibido em 1587 e, dez anos depois, 26 cristãos foram crucificados.
Estratégia de conversão
Conheça algumas das adaptações promovidas por jesuítas no Japão.
“Logo na chegada ao Japão [em 1549], por exemplo, foi necessário adaptar o Evangelho, e na tradução do episódio das Bodas de Caná era dito que Jesus transformara a água em saquê, em vez de vinho; as igrejas eram construídas segundo um modelo arquitetônico local, parecendo-se mais com um templo budista do que com uma igreja tradicional [...].”
COSTA, João Paulo Azevedo de Oliveira e. Os discípulos de Xavier. Revista de História da Biblioteca Nacional, n. 81, jun. 2012. p. 30.
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