sexta-feira, 31 de março de 2023

Contrarreforma - A Reforma Católica e seus impactos no mundo,

A contrarreforma - A Reforma Católica e seus impactos no mundo

A reação da Igreja

A Reforma Protestante provocou uma cisão definitiva na cristandade ocidental, que se dividiu em cristãos católicos e cristãos protestantes. Com isso, a intolerância, as perseguições e as guerras religiosas se estenderam pela Europa até meados do século XVII. A Igreja Católica, por exemplo, reagiu às críticas dos reformadores e criou um movimento denominado Contrarreforma ou Reforma Católica.

É importante perceber que a Igreja Católica não estava indiferente aos seus problemas internos. No entanto, a Reforma Protestante, a expansão das novas igrejas pela Europa e a perda de fiéis a pressionaram a iniciar seu movimento de renovação.

A intolerância religiosa

Na época da Reforma Protestante, as pessoas eram obrigadas a seguir a religião do Estado, o que era mais um motivo para a eclosão de guerras religiosas. Atualmente, esse tipo de conflito ainda faz milhares de vítimas em diversas partes do mundo, como na Nigéria e na Indonésia, onde existem disputas entre muçulmanos e cristãos; na Síria e no Iraque, entre muçulmanos xiitas e sunitas; na Índia, entre seguidores do hinduísmo e do islã; no Afeganistão e no Sudão, entre muçulmanos e não muçulmanos; no Egito, entre cristãos e radicais islâmicos etc.


Ato pela liberdade religiosa, realizado na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 2017. No Brasil, os praticantes das religiões afro-brasileiras têm sido as principais vítimas da intolerância e lutam para que suas crenças e práticas religiosas sejam respeitadas.

Instrumentos da Contrarreforma

Para dar início à Reforma Católica, em 1545, o papa Paulo III convocou um concílio* na cidade italiana de Trento, cujos trabalhos se estenderam até 1563. O Concílio de Trento, como ficou conhecido, reafirmou os dogmas e ritos católicos: a salvação pela fé e pelas boas obras; a presença de Cristo na eucaristia; a autoridade do papa; a hierarquia eclesiástica; o celibato do clero; a devoção aos santos e à Virgem Maria; os sete sacramentos (batismo, eucaristia, crisma, matrimônio, ordem, penitência e extrema-unção); e a missa e a Bíblia em latim.

Concílio: reunião do alto clero católico convocada para decidir a respeito da doutrina da Igreja, dos costumes e da disciplina eclesiástica.

Por meio do Concílio de Trento, a Igreja também condenou a venda de indulgências e de cargos eclesiásticos e determinou a criação de seminários para a formação do clero e a elaboração do catecismo, um resumo da doutrina católica para ser usado na evangelização dos fiéis, principalmente dos jovens e das crianças.

Além disso, a Igreja reorganizou o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, criado em 1231 com o objetivo de vigiar, julgar e punir os acusados de heresia*. Protestantes, judeus e cristãos-novos** foram perseguidos pela Inquisição. O Tribunal também se encarregou de elaborar o Índice de Livros Proibidos, o Index, que consistia numa lista de obras censuradas pela Igreja por serem consideradas prejudiciais à fé católica, perseguindo muitos cientistas e pensadores, como estudamos anteriormente.

Heresia: pensamento ou conduta que contrariam a doutrina estabelecida pela Igreja. Entre as práticas consideradas heréticas pela Igreja estavam a feitiçaria e os ritos pagãos.

** Cristão-novo: filho ou neto de judeus convertidos ao cristianismo.


Gravura do século XVII que representa pessoas sendo mortas na fogueira. Essa e outras sentenças do Tribunal do Santo Ofício eram executadas em espaços públicos, durante evento conhecido como auto de fé.

A perseguição aos protestantes

Para combater o protestantismo, a Igreja Católica contou com a aliança fundamental de algumas monarquias europeias. Na França, por exemplo, a perseguição aos protestantes foi intensa. Mesmo assim, os protestantes se expandiram pelo reino, concentrando-se nos centros comerciais mais importantes, como Paris, Lion e Orleans.

Na década de 1540, o rei Francisco I instituiu a pena de morte aos huguenotes, como eram chamados os calvinistas franceses. No reinado de Carlos IX (1560-1574), as tensões entre católicos e calvinistas se tornaram ainda mais fortes. O episódio mais grave e sangrento dos conflitos ocorreu em 24 de agosto de 1572 e ficou conhecido como Noite de São Bartolomeu.

Nessa noite, centenas de nobres huguenotes estavam reunidos em Paris para celebrar o casamento do príncipe protestante Henrique de Navarra com a católica Marguerite de Valois, irmã de Carlos IX. Essa união foi anunciada como um sinal de aproximação e uma tentativa de pôr fim às hostilidades entre católicos e protestantes. No entanto, o que se viu foi algo bem diferente. Seguindo ordens da família real, católica, tropas francesas executaram centenas de huguenotes, incluindo seus principais líderes. A onda de violência se espalhou pela França e se estendeu por dois meses, totalizando mais de 10 mil huguenotes mortos.

Os conflitos só terminaram em 1598, com a promulgação do Edito de Nantes, que estabeleceu a liberdade de culto na França.


Massacre de São Bartolomeu, pintura de François Dubois, c. 1572-1584.

A Companhia de Jesus

Outra medida tomada pela Igreja Católica para combater a expansão protestante foi a criação da Companhia de Jesus, em 1534, pelo espanhol Inácio de Loyola. Os jesuítas, como ficaram conhecidos, tinham a missão de combater o protestantismo por meio da reafirmação da fé católica, da criação de escolas religiosas e da conquista de novos fiéis.

Na Europa, os jesuítas atuaram principalmente na área do ensino. No entanto, seu papel de maior destaque foi exercido em domínios portugueses e espanhóis na Ásia, na África e na América. Encarregados de ­catequizar as populações nativas, eles logo perceberam que os antigos métodos de conversão, fundamentados no uso da força, eram ineficientes. Assim, defenderam a necessidade de conhecer as línguas e adaptar o catolicismo às culturas locais.

Essa adaptação não significa que as conversões tenham ocorrido sem conflitos. Em diversos casos, os jesuítas foram acusados de escravizar os nativos, sob o pretexto de evangelizá-los. Além disso, muitos povos resistiram às investidas da Igreja Católica. No Japão, por exemplo, o cristianismo foi proibido em 1587 e, dez anos depois, 26 cristãos foram crucificados.

Estratégia de conversão

Conheça algumas das adaptações promovidas por jesuítas no Japão.

“Logo na chegada ao Japão [em 1549], por exemplo, foi necessário adaptar o Evangelho, e na tradução do episódio das Bodas de Caná era dito que Jesus transformara a água em saquê, em vez de vinho; as igrejas eram construídas segundo um modelo arquitetônico local, parecendo-se mais com um templo budista do que com uma igreja tradicional [...].”

COSTA, João Paulo Azevedo de Oliveira e. Os discípulos de Xavier. Revista de História da Biblioteca Nacional, n. 81, jun. 2012. p. 30.


Pintura representando uma igreja jesuíta no Japão, no final do século XVI.

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