A Reforma Protestante: uma nova divisão da cristandade
A crise religiosa
As transformações políticas, econômicas e sociais na Europa Ocidental e o novo modo de pensar e ver o mundo do homem moderno também se expressaram na religião.
Com o fortalecimento das monarquias nacionais, o poder papal passou a rivalizar com o poder dos reis. Assim, a Igreja, que antes ocupava um papel importante na política, começou a perder espaço.
Além disso, as pregações da Igreja, que condenavam o lucro e a usura, chocavam-se com os interesses da burguesia, tornando-se um obstáculo à expansão de suas atividades econômicas.
A Burguesia era muito criticada nas missas, a Igreja condenava a ganância e a usura.
Para agravar a situação, o poder da Igreja Católica foi abalado por uma série de críticas surgidas dentro da própria instituição. Isso porque, desde o final da Idade Média, a Igreja vinha se desviando de seus princípios, ostentando e usufruindo luxos e riquezas. Boa parte do clero desrespeitava as regras religiosas, como o celibato, desconhecia o latim (língua oficial da Igreja) e tratava com descaso os cultos e ritos religiosos. Muitos também praticavam a venda da simonia.
Esse quadro gerou um amplo movimento reformista que deu origem a novas igrejas cristãs: a Reforma Protestante.
Lutero e o início da reforma
O movimento protestante iniciou-se na Saxônia, região da atual Alemanha, dirigido pelo monge Martinho Lutero. Em 1517, ao saber da venda de indulgências autorizada pelo papa Leão X , que tinha o objetivo de arrecadar fundos para a reconstrução da Basílica de São Pedro, em Roma, o monge resolveu se manifestar publicamente.
Provavelmente em um encontro de eruditos religiosos da cidade de Wittenberg, Lutero apresentou suas 95 teses, nas quais denunciava a venda de indulgências e criticava o mau comportamento do clero e do próprio papa. A versão de que Lutero afixou as teses na porta da Igreja de Wittenberg parece ter sido noticiada, mas não há documentos que confirmem o fato.
Depois disso, seguiram-se debates teológicos entre Lutero e sábios da Igreja, os quais refutaram todas as teses do reformista.
Em 1520, três anos após o início da crise, uma bula papal foi enviada a Lutero ameaçando-o de excomunhão caso não se retratasse; o monge, porém, não só manteve suas críticas, como queimou a bula papal em praça pública. O ato simbolizou a ruptura de Lutero com a Igreja e iniciou a Reforma Protestante.
A doutrina luterana
Os princípios da doutrina luterana foram formalizados no documento intitulado Confissão de Augsburgo, de 1530. Nele, Lutero afirmou que a salvação era obtida pela fé, e não pelas obras praticadas; rejeitou a hierarquia eclesiástica; estabeleceu que todo crente é livre para interpretar a Bíblia, sem necessitar da mediação de sacerdotes da Igreja; aboliu o celibato dos padres e os sacramentos, mantendo apenas o batismo e a eucaristia; e determinou a substituição do latim pelo idioma nacional nos cultos religiosos.
A doutrina luterana teve um grande alcance social no centro-norte da Europa: de um lado, interessou à nobreza, que viu a oportunidade de se libertar da autoridade de Roma e de confiscar terras e bens pertencentes à Igreja. De outro, agradou aos camponeses, que viram na divisão da Igreja a oportunidade de se livrar dos tributos devidos ao clero.
Por que protestantes?
Em 1529, o imperador católico Carlos V, que governava uma região que hoje faz parte da Alemanha, convocou uma reunião com os nobres locais para reafirmar que Lutero não cumpria as leis da Igreja Católica. Por isso, além de ser excomungado, o monge também foi expulso do império. No entanto, um grupo de nobres que o apoiavam protestou contra a ação de Carlos V. Mais tarde, os seguidores de Lutero passaram a ser chamados de protestantes.
Documentário Martinho Lutero History Channel
Calvino e seus seguidores
Com a ajuda da prensa de Gutenberg, as ideias de Lutero se difundiram rapidamente pelas regiões central e norte da Europa e abriram caminho para novos movimentos reformadores.
O francês João Calvino, por exemplo, perseguido na França por converter-se ao protestantismo, refugiou-se em Genebra, na Suíça, em 1536. Aos poucos, Calvino se distanciou do luteranismo, criando uma doutrina religiosa que se baseava na ideia da predestinação absoluta.
Segundo Calvino, Deus já havia escolhido, desde o princípio, os indivíduos abençoados com a vida eterna e os condenados à perdição eterna. O ser humano, em sua condição de pecador, seria indigno de alterar essa decisão ou de conhecê-la. Para não viver aflito pela incerteza, o indivíduo deveria perseverar em sua fé e levar uma vida austera e obediente a Deus. Os bens materiais e a riqueza deveriam ser entendidos como bondades divinas concedidas aos seres humanos.
Após a morte de Calvino, seus seguidores fizeram interpretações da doutrina da predestinação.
Novas interpretações da doutrina da predestinação.
A riqueza e a prosperidade passaram a ser vistas como sinais da graça divina, e não apenas como generosidades de Deus. Isso explica por que o calvinismo obteve grande apoio da burguesia e estimulou seus adeptos a se esforçar para progredir economicamente.
A Igreja Anglicana
Na Inglaterra, a ruptura religiosa foi conduzida pelo rei Henrique VIII e teve caráter essencialmente político. O principal motivo da Reforma Anglicana, como o movimento ficou conhecido, foi o conflito de interesses entre a monarquia inglesa, forte e centralizada, e o clero católico. Somava-se a isso a queixa dos ingleses com a cobrança do dízimo por parte da Igreja.
O pretexto para o rompimento com a Igreja veio de uma questão pessoal. Henrique VIII era casado com Catarina de Aragão, de origem espanhola, que não lhe havia dado um herdeiro para sucedê-lo. Insatisfeito, o rei solicitou a anulação de seu casamento ao papa Clemente VII, para que pudesse se casar com a cortesã Ana Bolena.
Catarina de Aragão (esposa de Henrique VIII)
Cortesã Ana Bolena
O pedido, porém, foi negado. Mesmo assim, Henrique VIII separou-se de Catarina e casou-se com Ana Bolena, decisão que levou o rei a ser excomungado pelo papa.
Em resposta, Henrique VIII decretou, em 1534, o Ato de Supremacia, pelo qual se tornou o chefe da Igreja na Inglaterra, com total apoio do Parlamento.
Nesse processo, o rei concentrou mais poderes, pois, além de chefe de Estado, ele obteve o poder de escolher o arcebispo responsável pela organização da Igreja Anglicana. Entre as consequências da reforma, destacam-se o confisco das terras da Igreja Católica e a transformação do anglicanismo em religião oficial da Inglaterra.
| Principais pontos das doutrinas protestantes | ||
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| Luteranismo | Calvinismo | Anglicanismo |
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