domingo, 19 de fevereiro de 2023

Vida em alto-mar (cotidiano nas Grandes Navegações)

Como era viver nas caravelas?

Você já imaginou quantos perigos e dificuldades foram enfrentados pelos navegadores em suas viagens pelo Atlântico a partir do século XV?

Os relatos de viagem são as principais fontes disponíveis para o estudo dessa grande aventura humana pelos mares. Como esses relatos eram produzidos por capitães, cronistas ou escrivães oficiais, caso de Pero Vaz de Caminha, escrivão da expedição de Cabral, pouco se sabe sobre o cotidiano dos trabalhadores durante as viagens. Sendo em geral pobres e analfabetos, poucos tiveram seus nomes registrados nos diários de bordo. Mas, sem o trabalho desses sujeitos anônimos, talvez Cabral, Colombo ou Vasco da Gama não estivessem hoje nos livros de história.

As expedições marítimas eram compostas, em geral, de um comandante, alguns oficiais auxiliares, soldados, religiosos, marinheiros, artesãos e um médico. O tamanho da tripulação variava de acordo com o objetivo da expedição, o prestígio do comandante e os recursos disponíveis para a empreitada. A expedição de Vasco da Gama, por exemplo, reuniu aproximadamente 170 homens, número muito inferior à armada de Pedro Álvares Cabral. Por ter finalidade militar, a conquista das Índias, a expedição de Cabral foi a maior armada organizada no Ocidente até então, constituída de dez naus, três caravelas, dezenas de canhões e cerca de 1.500 homens.

 Grandes navegações portuguesas e espanholas (séculos XV e XVI) 

Fontes: Atlas histórico. São Paulo: Britannica, 1997. p. 88; HALE, John R. Idade das explorações. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. p. 54.

Dificuldades, perigos e sonhos no mar

Nas viagens, a alimentação era composta, basicamente, de biscoitos, carne salgada, peixe seco, banha, lentilhas, arroz, alho, azeite, açúcar, passas, mel e vinho. Os alimentos frescos estragavam com facilidade. Alguns animais, como porcos, galinhas e patos, eram embarcados vivos para depois serem abatidos e servidos durante a viagem. 

Diversas doenças atingiam os tripulantes, como o tifo, a coqueluche e o sarampo. A mais temida era o escorbuto, o “mal das gengivas”, provocado pela falta de vitamina C, presente em alimentos frescos. O primeiro sinal dessa doença era o inchaço da gengiva, que avançava para a perda dos dentes e a putrefação da carne.

O risco de naufrágio também assustava os navegadores. Uma das regiões mais perigosas no Atlântico era o extremo sul da África, batizado inicialmente de Cabo das Tormentas pelas fortes tempestades comuns no local. Outro grande perigo eram as calmarias, períodos prolongados sem vento em que as embarcações ficavam à deriva em alto-mar, enquanto a água e a comida dos tripulantes iam acabando.


Representação de nativos americanos auxiliando a tripulação de Cristóvão Colombo (de vermelho) a salvar os suprimentos da nau Santa Maria, naufragada próximo à Ilha de São Domingos, em 1492. Gravura de 1892.

 A diversão nos navios

Nem tudo era tristeza nas embarcações. Nos momentos de lazer, marinheiros e passageiros organizavam festas, encenações teatrais e jogos a bordo das naus.

Um deles era conhecido como “tourinha a bordo”. A atividade consistia em um tipo de corrida de novilhos mansos que imitava as corridas de touros. Na verdade, os novilhos eram bonecos, feitos de cestas de madeira ou vime, carregados pelos homens que disputavam a corrida.

Essas atividades recreativas eram uma maneira que os navegadores encontraram de amenizar as dificuldades, os medos e os tormentos causados pelas longas viagens no mar.

A primeira viagem ao redor do mundo

A primeira circum-navegação da Terra de que se tem conhecimento durou três anos. Ela foi comandada pelo navegador português Fernão de Magalhães, a serviço do rei da Espanha. Com cinco navios e 234 tripulantes, a expedição partiu do porto de Sevilha em agosto de 1519, com a missão de encontrar a passagem marítima entre o Atlântico e o Pacífico navegando na direção oeste.

Ao longo do caminho, boa parte da tripulação morreu. Alguns em razão de doenças, outros de fome ou em conflitos com povos encontrados durante a aventura marítima. Alguns membros da tripulação retornaram à Espanha antes mesmo de Fernão de Magalhães encontrar a passagem: uns desestimulados pelas dificuldades da viagem; outros por não acreditarem que tal caminho de fato existisse. Apesar das evidências contrárias, muitos europeus ainda acreditavam que a Terra fosse plana.

Em novembro de 1520, os navegadores encontraram a tão esperada passagem e a batizaram com o nome do comandante da expedição: Estreito de Magalhães. Do outro lado do estreito, os navegadores encontraram um mar muito calmo e o chamaram de Pacífico. Leia um relato sobre as dificuldades enfrentadas pela tripulação nesse momento da viagem.

“Quarta-feira, 28 de novembro [de 1520], desembocamos no estreito para entrar no grande mar, ao qual demos em seguida o nome de Pacífico e no qual navegamos durante um período de 3 meses e 20 dias, sem provar nenhum alimento fresco. O biscoito que comíamos já não era pão, e sim um pó misturado com vermes, que haviam devorado toda a sua substância. No mais, tinha um fedor insuportável por ter sido impregnado por urina de ratos. A água que nos víamos obrigados a beber estava igualmente podre e fedorenta. [...] Frequentemente éramos obrigados ainda a nos alimentar de serragem e até de ratos. [...]

No entanto, isso não era tudo. Nossa maior desgraça era nos ver atacados de uma espécie de doença, que fazia inchar as gengivas, ultrapassando os dentes em ambos maxilares. Isso impedia que os doentes se alimentassem e desta doença morreram dezenove [...].”

PIGAFETTA, Antonio. Primer viaje alrededor del globo. La crónica en vivo de la expedición Magallanes-Elcano (1519-1522). Sevilla: Civiliter, 2012. v. 2. p. 36. (tradução nossa)


Mapa da América destacando o Oceano Pacífico, à esquerda, e duas caravelas no Oceano Atlântico, à direita. Gravura de Theodore de Bry, 1596. Ao redor do mapa, foram representados quatro exploradores europeus: da esquerda para a direita, no alto estão Cristóvão Colombo e Américo Vespúcio; embaixo, Fernão de Magalhães e Francisco Pizarro.

A expedição prosseguiu em direção às Ilhas Filipinas, onde o navegador Fernão de Magalhães morreu durante um combate com os nativos, em abril de 1521. Em seguida, a tripulação chegou às Ilhas Molucas, em novembro de 1521, onde as embarcações foram carregadas com especiarias e outros produtos rentáveis.

Em setembro de 1522, a única embarcação que resistiu à aventura retornou à Espanha, sob o comando de Sebastião Elcano e com apenas 18 tripulantes. A expedição realizava um feito histórico: não apenas descobriu um caminho para as Índias navegando pelo oeste, como também comprovou a esfericidade da Terra.


Fonte: Atlas histórico. São Paulo, Britannica, 1997.

EXERCÍCIOS

01 - Quais são as principais fontes históricas sobre a vida em alto-mar e o cotidiano das Grandes Navegações?

02 - Nas Grandes Navegações, quem eram os responsáveis pelos relatos das viagens marítimas?

03 - Como eram compostas as expedições marítimas?

04 - Quais fatores influenciavam no tamanho da expedição?

05 - Informe cinco dificuldades vividas pelos navegadores ao longo das viagens marítimas:

06 - Como era:

6.1 - a alimentação nos navios:

6.2 - as doenças nas embarcações marítimas:

6.3 - os riscos de naufrágio aconteciam devido:

07 - Sobre as diversas formas de diversão e lazer, como o entretenimento era feito nos navios? Dê exemplos:

08 - Quem conseguiu completar, pela primeira vez, a circum-navegação?

09 - Em um pequeno resumo, como foi a expedição de Fernão de Magalhães?

10 - Como foi o final de vida de Fernão de Magalhães?

11 - Por que Sebastião Elcano ficou famoso na História das Grandes Navegações?

12 - A Circum-navegação é:

FIM

Próxima aula
Navegações francesas 

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