Independências na Ásia: Índia
A independência da Índia
A Índia conquistou sua independência por meio de um movimento pacífico de resistência. Como isso foi possível?
A região que corresponde aos atuais Paquistão, Bangladesh, Mianmar e Índia foi, durante a era moderna, alvo de disputas territoriais e comerciais entre portugueses, holandeses e ingleses. No século XVIII, ela foi dominada pela Companhia Britânica das Índias Orientais e, a partir de 1858, a Coroa britânica assumiu o controle da região, impondo uma forma de dominação colonial que afetou profundamente a economia local.
Com o avanço da industrialização na Inglaterra, a Índia Britânica se transformou em um grande mercado consumidor dos produtos têxteis ingleses. Incapaz de concorrer com a indústria britânica, que produzia tecidos muito mais baratos, a tradicional produção têxtil indiana entrou em colapso.
O anticolonialismo ganhou força na Índia durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1917, o secretário de Estado britânico para assuntos indianos prometeu um governo independente para a Índia. No entanto, o novo estatuto, adotado em 1919, concedia um poder administrativo mínimo aos ministros e conselheiros locais, o que provocou sérias revoltas.
A oposição ao domínio colonial britânico era realizada pelo Partido do Congresso, fundado em 1885 por membros da elite intelectual indiana, formada nas universidades britânicas. O partido reunia hindus e alguns muçulmanos, minoria religiosa que representava cerca de 30% da população indiana.
A divisão da Índia (divisão após independência hindus x muçulmanos)
A independência da Índia
Gandhi e a resistência pacífica
A participação da Índia na Primeira Guerra Mundial, fornecendo soldados e matérias-primas para a Grã-Bretanha, agravou a já precária situação de vida dos mais pobres. A indústria mostrou-se incapaz de gerar empregos, houve grande elevação dos preços e a colônia se endividou. Os camponeses viram-se obrigados a entregar suas terras aos credores, pois não conseguiam pagar os altos tributos cobrados pela Grã-Bretanha. Sem suas terras, foram obrigados a se submeter a condições degradantes de trabalho impostas por latifundiários.
Diante dessa situação, o movimento anticolonial ganhou força política e expressão popular. O movimento pela independência da Índia passou a ser liderado por Mohandas Karamchand Gandhi, que ficou conhecido como Mahatma (“grande alma”). Oriundo de uma família de comerciantes hindus, Gandhi formou-se em direito na Grã-Bretanha e viveu um tempo na África do Sul, onde trabalhou como advogado.
Ao conhecer de perto a segregação racial na África do Sul, Gandhi colocou em prática os princípios da resistência pacífica e da desobediência civil como instrumentos de protesto: paralisação do trabalho, greve de fome, ocupação de espaços públicos, desobediência às ordens das autoridades e boicote aos produtos britânicos. Ao retornar à Índia, em 1915, Gandhi se tornou um dos principais líderes do Partido do Congresso, onde passou a defender seus princípios de ação não violenta.
Uma das maiores mobilizações lideradas por Gandhi foi a Marcha do Sal, em 1930, realizada em protesto contra as leis que proibiam os indianos de produzirem o próprio sal. Empregando mais uma vez o princípio da resistência pacífica, Gandhi percorreu quase 400 quilômetros em direção ao mar, atraindo, durante a caminhada, milhares de seguidores. Cerca de 50 mil pessoas, incluindo Gandhi, foram presas no protesto sem reagir à violência policial.
Marcha do Sal
Ao término da Segunda Guerra Mundial, o enfraquecido Império Britânico já não podia atender às reivindicações dos colonos nem suportar a pressão realizada pelos movimentos de emancipação. Em agosto de 1947, a independência indiana foi finalmente reconhecida.
O conflito entre hindus e muçulmanos
Antes da independência, a religião hindu predominava na Índia britânica, seguida do islã. Os britânicos, porém, buscaram acentuar as diferenças entre hindus e muçulmanos para evitar que surgisse um movimento unificado contra a dominação colonial. A ideia era “dividir para governar”, ou seja, estimular as rivalidades entre os dois grupos para enfraquecer a luta pela independência.
A política britânica surtiu efeito. No início da década de 1940, quando as lideranças hindus e muçulmanas debatiam sobre o novo Estado que surgiria com a independência, o líder muçulmano Muhammad Iqbal defendeu pela primeira vez que os islâmicos deviam formar um Estado separado da Índia, organizado de acordo com as leis do islã.
Muhammad Iqbal (líder muçulmano) - Defendia a separação territorial após a emancipação política, um estado islâmico e outro hindu.
Muhammad Ali Jinnah (também muçulmano e da Liga Muçulmana) era contra a ideia de Muhammad Iqbal de divisão.
No entanto, a Liga Muçulmana e seu principal líder, Jinnah, eram contrários à separação. Jinnah e o líder hindu Jawaharlal Nehru defendiam uma Índia unida, com as províncias de maioria muçulmana ou hindu organizadas em federações. A proposta permitiria que indianos das duas crenças continuassem vivendo nas mesmas terras após a independência.
Muhammad Ali Jinnah, Gandhi e o líder hindu Jawaharlal Nehru defendiam uma Índia unida, com as províncias de maioria muçulmana ou hindu organizadas em federações.
Contudo, os líderes da Liga e do Partido do Congresso não chegaram a um acordo sobre a divisão de poder entre as federações da futura Índia. Diante disso, os dois partidos desistiram da proposta de unidade e apresentaram, em 1946, o plano de divisão da Índia em dois Estados: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana.
A violência que se seguiu ao anúncio da partilha foi terrível. Em quatro dias de confrontos, 5 mil pessoas de ambos os grupos foram mortas. Em 1947, quando se consumou a partilha, entre 10 e 15 milhões de muçulmanos emigraram da Índia para o Paquistão, protagonizando um dos maiores êxodos populacionais de que se tem notícia. Cerca de 500 mil pessoas morreram durante os deslocamentos. Gandhi, que defendia a conciliação entre muçulmanos e hindus em uma Índia unificada, acabou assassinado por um hindu separatista de seu próprio partido, em 1948.
Partilha da Índia (Índia - maioria hindu e Paquistão - maioria muçulmana - o Grande Exôdo).
Porém, mesmo separados, os conflitos entre os dois países continuaram. Em 1971, o governo indiano apoiou a independência do território oriental do Paquistão, que passou a se chamar Bangladesh . As tensões agravaram-se ao longo dos anos, sobretudo em razão da disputa pela Caxemira, região de maioria muçulmana que abriga as nascentes dos rios Ganges e Indo, principais fontes de recursos hídricos dos dois países. Atualmente, a região encontra-se dividida entre a Índia, o Paquistão e a China.
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