terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Independências na Ásia: Índia emancipada (Índia, Paquistão e Bangladesh)

Independências na Ásia: Índia

A independência da Índia

A Índia conquistou sua independência por meio de um movimento pacífico de resistência. Como isso foi possível?

Ícone do movimento pacífico de resistência


Resistência não violenta

A região que corresponde aos atuais Paquistão, Bangladesh, Mianmar e Índia foi, durante a era moderna, alvo de disputas territoriais e comerciais entre portugueses, holandeses e ingleses. No século XVIII, ela foi dominada pela Companhia Britânica das Índias Orientais e, a partir de 1858, a Coroa britânica assumiu o controle da região, impondo uma forma de dominação colonial que afetou profundamente a economia local.


Paquistão, Bangladesh, Mianmar e Índia foram duramente impactados pela política imperialista.


Conceito de imperialismo

Com o avanço da industrialização na Inglaterra, a Índia Britânica se transformou em um grande mercado consumidor dos produtos têxteis ingleses. Incapaz de concorrer com a indústria britânica, que produzia tecidos muito mais baratos, a tradicional produção têxtil indiana entrou em colapso.

A tradicional produção têxtil indiana entrou em colapso, por causa do avanço tecnológico oriundo da Revolução Industrial inglesa e a política imperialista britânica imposta pelos colonizadores. 

O anticolonialismo ganhou força na Índia durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1917, o secretário de Estado britânico para assuntos indianos prometeu um governo independente para a Índia. No entanto, o novo estatuto, adotado em 1919, concedia um poder administrativo mínimo aos ministros e conselheiros locais, o que provocou sérias revoltas.


Primeira Guerra Mundial e o crescimento do anticolonialismo - O Mapa acima mostra o Império da Índia (ideia trabalhada no contexto dos movimentos de independência da Índia).


Reações devido ao novo estatuto

A oposição ao domínio colonial britânico era realizada pelo Partido do Congresso, fundado em 1885 por membros da elite intelectual indiana, formada nas universidades britânicas. O partido reunia hindus e alguns muçulmanos, minoria religiosa que representava cerca de 30% da população indiana.


O Congresso Nacional Indiano, também conhecido como Partido do Congresso ou simplesmente Congresso, é a mais antiga das organizações políticas ativas na Índia. Fundado em 1885, foi o primeiro movimento nacionalista moderno a surgir no Império Britânico na Ásia.

 A divisão da Índia (divisão após independência hindus x muçulmanos)


Fonte: CHALIAND, Gérard; RAGEAU, Jean-Pierre. Atlas politique du XXe siècle. Paris: Seuil, 1988. p. 154.

A independência da Índia

Gandhi e a resistência pacífica


Mahatma Gandhi -  Foi um advogado, nacionalista, anticolonialista e especialista em ética política indiana, que empregou resistência não violenta para liderar a campanha bem-sucedida para a independência da Índia do Reino Unido, e por sua vez, inspirar movimentos pelos direitos civis e liberdade em todo o mundo. O honorífico Mahātmā (sânscrito: "de grande alma", "venerável"), aplicado a ele pela primeira vez em 1914 na África do Sul, é agora usado em todo o mundo.

A participação da Índia na Primeira Guerra Mundial, fornecendo soldados e matérias-primas para a Grã-Bretanha, agravou a já precária situação de vida dos mais pobres. A indústria mostrou-se incapaz de gerar empregos, houve grande elevação dos preços e a colônia se endividou. Os camponeses viram-se obrigados a entregar suas terras aos credores, pois não conseguiam pagar os altos tributos cobrados pela Grã-Bretanha. Sem suas terras, foram obrigados a se submeter a condições degradantes de trabalho impostas por latifundiários.


Participação da Índia na Primeira Guerra


O pós primeira guerra foi de desemprego e vários indianos endividados e perdendo suas terras.

Diante dessa situação, o movimento anticolonial ganhou força política e expressão popular. O movimento pela independência da Índia passou a ser liderado por Mohandas Karamchand Gandhi, que ficou conhecido como Mahatma (“grande alma”). Oriundo de uma família de comerciantes hindus, Gandhi formou-se em direito na Grã-Bretanha e viveu um tempo na África do Sul, onde trabalhou como advogado.


Mohandas Karamchand Gandhi - Líder do movimento pela independência da Índia.

Ao conhecer de perto a segregação racial na África do Sul, Gandhi colocou em prática os princípios da resistência pacífica e da desobediência civil como instrumentos de protesto: paralisação do trabalho, greve de fome, ocupação de espaços públicos, desobediência às ordens das autoridades e boicote aos produtos britânicos. Ao retornar à Índia, em 1915, Gandhi se tornou um dos principais líderes do Partido do Congresso, onde passou a defender seus princípios de ação não violenta.


Mohandas Karamchand Gandhi - Líder do Partido do Congresso.

Uma das maiores mobilizações lideradas por Gandhi foi a Marcha do Sal, em 1930, realizada em protesto contra as leis que proibiam os indianos de produzirem o próprio sal. Empregando mais uma vez o princípio da resistência pacífica, Gandhi percorreu quase 400 quilômetros em direção ao mar, atraindo, durante a caminhada, milhares de seguidores. Cerca de 50 mil pessoas, incluindo Gandhi, foram presas no protesto sem reagir à violência policial.

Marcha do Sal

Ao término da Segunda Guerra Mundial, o enfraquecido Império Britânico já não podia atender às reivindicações dos colonos nem suportar a pressão realizada pelos movimentos de emancipação. Em agosto de 1947, a independência indiana foi finalmente reconhecida.


Gandhi e seus seguidores durante a Marcha do Sal, protesto contra leis restritivas impostas pelo domínio colonial britânico na Índia, em março de 1930.


A 2ª Grande Guerra Mundial enfraqueceu a Inglaterra e a mesma não conseguiu impedir mais o sentimento anticolonialista, a independência da Índia foi obtida. 

O conflito entre hindus e muçulmanos


Antes da independência, a religião hindu predominava na Índia britânica, seguida do islã. Os britânicos, porém, buscaram acentuar as diferenças entre hindus e muçulmanos para evitar que surgisse um movimento unificado contra a dominação colonial. A ideia era “dividir para governar”, ou seja, estimular as rivalidades entre os dois grupos para enfraquecer a luta pela independência.


Estratégia antiga, utilizada desde o antigo Império Romano (usada para enfraquecer os dominados e evirar o movimento de resistência).

A política britânica surtiu efeito. No início da década de 1940, quando as lideranças hindus e muçulmanas debatiam sobre o novo Estado que surgiria com a independência, o líder muçulmano Muhammad Iqbal defendeu pela primeira vez que os islâmicos deviam formar um Estado separado da Índia, organizado de acordo com as leis do islã.

Muhammad Iqbal (líder muçulmano) - Defendia a separação territorial após a emancipação política, um estado islâmico e outro hindu.

Muhammad Ali Jinnah (também muçulmano e da Liga Muçulmana) era contra a ideia de  Muhammad Iqbal de divisão.

No entanto, a Liga Muçulmana e seu principal líder, Jinnah, eram contrários à separação. Jinnah e o líder hindu Jawaharlal Nehru defendiam uma Índia unida, com as províncias de maioria muçulmana ou hindu organizadas em federações. A proposta permitiria que indianos das duas crenças continuassem vivendo nas mesmas terras após a independência.

A Liga Muçulmana nasceu como um movimento nacionalista laico e moderno. Seu principal dirigente no período colonial indiano foi Muhammad Ali Jinnah, que participava do movimento independentista Congresso Nacional Indiano - dirigido por Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru. Jinnah aderiu à Liga Muçulmana após perceber que os muçulmanos seriam relegados em um futuro Estado nacional no subcontinente indiano. Em 1934, Jinnah tornou-se presidente da Liga, que na década seguinte foi uma força fundamental em favor da partilha do império. Nas negociações finais com o Reino Unido para a independência da Índia, Jinnah obteve um estatuto independente e separado para o Paquistão.


Jinnah e Gandhi


Muhammad Ali Jinnah, Gandhi e o líder hindu Jawaharlal Nehru defendiam uma Índia unida, com as províncias de maioria muçulmana ou hindu organizadas em federações.

Contudo, os líderes da Liga e do Partido do Congresso não chegaram a um acordo sobre a divisão de poder entre as federações da futura Índia. Diante disso, os dois partidos desistiram da proposta de unidade e apresentaram, em 1946, o plano de divisão da Índia em dois Estados: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana.

Divisão da Índia em dois Estados: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana.

A violência que se seguiu ao anúncio da partilha foi terrível. Em quatro dias de confrontos, 5 mil pessoas de ambos os grupos foram mortas. Em 1947, quando se consumou a partilha, entre 10 e 15 milhões de muçulmanos emigraram da Índia para o Paquistão, protagonizando um dos maiores êxodos populacionais de que se tem notícia. Cerca de 500 mil pessoas morreram durante os deslocamentos. Gandhi, que defendia a conciliação entre muçulmanos e hindus em uma Índia unificada, acabou assassinado por um hindu separatista de seu próprio partido, em 1948.


Partilha da Índia (Índia - maioria hindu e Paquistão - maioria muçulmana - o Grande Exôdo).


Gandhi foi assassinado por um hindu separatista de seu próprio partido, em 1948.

Porém, mesmo separados, os conflitos entre os dois países continuaram. Em 1971, o governo indiano apoiou a independência do território oriental do Paquistão, que passou a se chamar Bangladesh . As tensões agravaram-se ao longo dos anos, sobretudo em razão da disputa pela Caxemira, região de maioria muçulmana que abriga as nascentes dos rios Ganges e Indo, principais fontes de recursos hídricos dos dois países. Atualmente, a região encontra-se dividida entre a Índia, o Paquistão e a China.


Mapa da região (Índia, Paquistão, Caxemira e Blangladesh).


Bangladesh (pertencia ao Paquistão). A Emancipação política de Bangladesh foi apoiada pela Índia, isso intensificou o ódio entre hindus e muçulmanos.


Caxemira, região de maioria muçulmana. Atualmente, a região encontra-se dividida entre a Índia, o Paquistão e a China.

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