quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

A crise da monarquia no Brasil e a Proclamação da República

A crise da monarquia no Brasil e a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889.


Crise da monarquia brasileira ao longo da segunda metade do 2º Reinado.

O que foi a monarquia brasileira?

A monarquia foi a forma de governo adotada no Brasil desde a Independência, que aconteceu em 7 de setembro de 1822. Até o dia 15 de novembro de 1889, o Brasil foi uma monarquia e, ao longo desse período, o nosso país possuiu dois imperadores, d. Pedro I (Primeiro Reinado) e d. Pedro II (Segundo Reinado).


Bandeira do Brasil 
monárquico (1822 - 1889).


A família imperial na escadaria do Palácio Isabel, em Petrópolis, em 1889, antes de partir para o exílio. Ao centro estão o imperador D. Pedro II e sua filha, a princesa Isabel.

Por que a monarquia acabou no Brasil? 

O enfraquecimento do regime monárquico se deu por diversos fatores. Enquanto o sistema não correspondia mais às necessidades da população, Dom Pedro II entrava em atrito com a Igreja Católica e com os militares. O Imperador também não tinha mais o apoio da elite agrária, que queria mais integrantes no poder político.


A monarquia 
não correspondia mais às necessidades da população (ricos e principalmente os pobres).

Uma república em construção


República e Monarquia

A república, como forma de governo, nasceu na Roma antiga. Com ela, surgiu a noção de um governo visto como res publica (“coisa pública”), que deveria servir aos interesses dos cidadãos. 


República Romana (509 a.C. - 27 a.C.)

A cidadania romana não era para todos, ela era atribuída somente aos homens livres (nem todos os homens livres eram considerados cidadãos). Os cidadãos tinham o Direito: a ser sujeito de Direito privado (jus civile); ao acesso aos cargos públicos e às magistraturas; à participação das assembleias políticas; e às vantagens fiscais.


Significados de República


Representantes da sociedade civil participam de audiência pública sobre o direito à água, no Senado Federal. Brasília (DF), 2018. Para além do voto consciente, o exercício da cidadania consiste em acompanhar as ações dos representantes eleitos, apresentar reivindicações e participar ativamente das assembleias e comissões que determinam as decisões políticas do país.

Muito tempo depois, com a Revolução Francesa, no final do século XVIII, o conceito de república se uniu ao de liberdade e democracia. A partir desse período, o ideal de república passou a ser associado aos direitos civis e políticos conquistados pelos revolucionários franceses.


Direitos civis
 incluem a garantia de integridade física e mental, a vida e a segurança dos povos; a proteção contra a discriminação por motivos tais como raça, sexo, origem nacional, cor, orientação sexual, etnia, religião ou deficiência; e os direitos individuais como a privacidade, as liberdades de pensamento e de expressão.

No caso brasileiro, a república surgiu como resultado de uma aliança entre setores do exército e das elites econômicas e políticas do país no final do século XIX. Conforme veremos, a nossa república foi estabelecida para atender aos interesses de uma pequena elite dominante.


Os Bestializados, livro do historiador José Murilo de Carvalho, relata como o processo de proclamação da República brasileira foi elitizado, excluindo os populares que assistiram ao processo de forma bestializada. 

O uso da “coisa pública”, ou seja, do Estado, em benefício de interesses privados e em prejuízo da coletividade tornou-se um dos problemas históricos da nossa república. Os escândalos de corrupção que são constantemente noticiados nos jornais impressos e televisivos representam apenas uma parte do caráter invertido da república brasileira, esvaziada de seu sentido público e democrático.


“Rachadinha” é o nome popular dado para “desvio de salário de assessor” (salário de um funcionário, geralmente indicado por um político, sem concurso público, que deveria estar prestando o serviço ao público e sendo remunerado por isso). Na prática, trata-se de uma transferência de parte ou de todo salário do servidor para o parlamentar ou secretários a partir de um acordo anteriormente estabelecido.

Reconhecer os vícios do regime republicano brasileiro, no entanto, não é suficiente para transformá-lo. Mais que isso, é necessário que os cidadãos conheçam e participem das atividades políticas. Construir um Estado efetivamente público no nosso país só é possível com a ampliação de práticas de cidadania por parte dos brasileiros, conscientes e exigentes dos seus direitos.


Conceito atual de cidadania

O movimento republicano

Antes da independência do Brasil, muitos grupos sociais e políticos já defendiam a implantação de uma república. De maneira difusa, a proposta republicana apareceu, por exemplo, nas conjurações Baiana e Mineira, na Revolução Pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador, em 1824. Mas apenas no século XIX, com a expansão da lavoura cafeeira e a formação de uma rica camada de fazendeiros no Sudeste, o projeto republicano ganhou força no país.


Os republicanos criticavam a estrutura centralizada que marcou o governo imperial brasileiro.

O acontecimento que assinalou a arrancada desse movimento no Brasil foi a publicação do Manifesto Republicano, em 1870. O documento criticava o caráter centralizador e hereditário da monarquia, defendia o princípio federativo do regime republicano e declarava a república o caminho para aproximar o Brasil das demais nações americanas.

Manifesto Republicano (1870).

Havia grandes divergências entre os republicanos. O grupo dominante, liderado pelo jornalista Quintino Bocaiuva, pregava que a república deveria ser instalada sem agitações sociais que ameaçassem a ordem estabelecida. Outros, como o advogado Silva Jardim, defendiam uma ampla mobilização popular para derrubar a monarquia.


Pregava que a república deveria ser instalada sem agitações sociais que ameaçassem a ordem estabelecida.


Seu grupo defendia uma ampla mobilização popular para derrubar a monarquia.

O movimento republicano, mesmo sendo antigo no Brasil, só se transformou em força política decisiva com a modernização dos principais núcleos urbanos do Centro-Sul do país e o crescimento das camadas médias e da burguesia cafeeira. Essas mudanças levaram ao declínio da monarquia e ao enfraquecimento dos grupos que tradicionalmente a sustentavam: os antigos proprietários rurais do Nordeste e do Vale do Paraíba, a Igreja Católica e setores do exército.


A modernização dos principais núcleos urbanos do Centro-Sul do país e o crescimento das camadas médias e da burguesia cafeeira enfraquecia 
os antigos proprietários rurais do Nordeste e do Vale do Paraíba, a Igreja Católica e setores do exército.

Os antigos e os novos cafeicultores 

Na segunda metade do século XIX, o setor cafeeiro no Brasil se dividia em dois grupos principais. O mais antigo era constituído de cafeicultores do Vale do Paraíba fluminense e paulista. Eles tinham fortes vínculos com a corte imperial, que lhes facilitava a concessão de créditos por meio das praças financeiras do Rio de Janeiro. 


Expansão da economia cafeeira ao longo do segundo reinado (1840 - 1889).

O segundo setor, mais novo, era formado pelos cafeicultores do Oeste Paulista. Ao contrário dos cafeicultores tradicionais, os do Oeste Paulista desenvolveram uma autonomia financeira em relação às praças bancárias ligadas à corte imperial. Em busca de crédito mais barato, recorreram a empréstimos externos, principalmente ingleses, garantindo outra fonte de obtenção de recursos financeiros, o que lhes possibilitou afastar-se politicamente do governo imperial.


Características dos cafeicultores do Vale do Paraíba (RJ) e Oeste Paulista (SP).

Dessa forma, é possível entender a defesa do federalismo republicano por parte dos fazendeiros do Oeste Paulista. Para eles, a república era a forma de assegurar mais autonomia política e financeira para as províncias e, na prática, subordinar as instituições do Estado aos interesses da economia cafeeira.


Definição de federalismo

Os conflitos com a Igreja 


Questão religiosa


Detalhe da charge de Bordalo Pinheiro publicada na revista O Mosquito, em setembro de 1875, que mostra o imperador “dando a mão à palmatória” ao papa Pio IX.

Desde o período colonial, o poder civil e o religioso estavam unidos por meio do padroado, uma instituição que submetia a Igreja ao controle da Coroa portuguesa e, após a independência, da Coroa brasileira. 


Significado do termo padroado


Uso da religião na política, utilização como instrumento  empoderamento e ganhos políticos e financeiros.


De acordo com a lei atual, usar igrejas ou cultos religiosos com o objetivo de adquirir voto é considerado crime.

Ao longo do século XIX, inspirados nas ideias iluministas, setores letrados da sociedade passaram a criticar a interferência da Igreja nas instituições políticas do país e a defender um Estado laico. A Igreja, por sua vez, buscando recuperar sua influência, adotou medidas contrárias ao governo imperial, proibindo, por exemplo, a admissão de eclesiásticos maçons. A decisão gerou um dilema, uma vez que a elite brasileira era em grande parte maçônica e católica.


Definição de Estado Laico - Um Estado é considerado laico quando promove oficialmente a separação entre Estado e religião. A partir da ideia de laicidade, o Estado não permitiria a interferência de correntes religiosas em assuntos estatais, nem privilegiaria uma ou algumas religiões sobre as demais.


Em uma democracia, as pessoas possuem liberdade para escolherem os seus credos religiosos, porém um governo não pode ter uma religião.


Constantemente, conseguimos visualizar o uso da religião como instrumento político e de enriquecimento, perdendo assim o seu objetivo original (o verbo latino "religare" (religar), no sentido de ligar de novo a Deus o homem que Dele se afastou pelo pecado).

O ápice da crise entre o governo e a Igreja ocorreu quando o imperador D. Pedro II deu ordens para que a medida do papa não fosse cumprida e, na década de 1870, prendeu dois bispos que se recusaram a seguir as ordens imperiais. Situações como essa caracterizaram a Questão Religiosa, que marcou o afastamento entre setores do clero católico e a monarquia.


Beneplácito e a Bula Syllabus (proibição de religiosos
 maçons pelo Papa  - D. Pedro II era maçom e pretendia defender os irmãos da maçonaria)

A questão militar

Durante o governo de D. Pedro II, o exército ocupou uma posição marginal na política brasileira. Os baixos soldos, a rígida disciplina da corporação e a lentidão nas promoções desencorajavam os filhos das elites a seguir a carreira militar.


Militares no 2º Reinado (1840 - 1889) não possuíam prestígio e participação política.

Após a vitória brasileira na Guerra do Paraguai, o exército saiu fortalecido como corporação. Muitos oficiais, apoiados nesse prestígio, passaram a expressar seu desejo de desempenhar um papel central na política brasileira.

Após a Guerra do Paraguai (1864 - 1870), os militares queriam mais poderes

Na década de 1880, sucessivos atritos entre o governo e militares envolvidos em questões políticas desgastaram a relação entre o exército e a monarquia, essa série de atritos ficaram conhecidos como Questão Militar. A cada dia ficava mais evidente o projeto dos militares de assumir um novo papel na cena política brasileira.


Questão Militar

O golpe de 15 de novembro


Questão religiosa e a questão militar, somado a abolição da escravatura enfraqueceram o D. Pedro II.

O isolamento da monarquia se acentuou após a abolição da escravatura, em 1888. A lei foi sancionada pelo governo sem nenhum tipo de indenização aos proprietários, decisão que desagradou profundamente a elite escravista tradicional, representada pelos proprietários rurais do Nordeste e do Vale do Paraíba. Aproveitando a imagem desgastada da monarquia, setores do exército organizaram um golpe para derrubar D. Pedro II.


A elite tradicional não concordou com a abolição da escravatura. Após a Lei Aurea, a elite tirou o seu apoio ao governo de D. Pedro II e intensificou o complô para o golpe de Estado.


Charge de Angelo Agostini publicada na Revista Illustrada, em 1882, representando o imperador D. Pedro II sendo derrubado do trono pelos republicanos.

Na manhã do dia 15 de novembro de 1889, sob a liderança do marechal Deodoro da Fonseca, as tropas militares marcharam em direção ao Ministério da Guerra. Há diferentes versões sobre os planos de Deodoro. É possível que ele não quisesse derrubar a monarquia, mas apenas o chefe do gabinete ministerial, o visconde de Ouro Preto. Porém, uma vez iniciado o movimento, foi difícil revertê-lo. A república foi proclamada, e o imperador, diante dos fatos, preferiu não resistir. O dia 15 de novembro, então, resultou de uma ação conduzida pelo exército, apoiada por um pequeno grupo de republicanos civis.


Proclamação da república, pintura de Benedito Calixto, 1893. Note que o artista representou o acontecimento como uma parada militar.

O apoio de novos grupos sociais à república 

Os conflitos entre a monarquia, seus apoiadores e contestadores refletiam as transformações mundiais que de alguma forma impactavam também o Brasil: iluminismo, Revolução Francesa, Revolução Industrial, liberalismo político e econômico, entre outras. 


Mapa mental iluminismo

Mais do que a ação isolada de um grupo de militares, o golpe de 15 de novembro pode ser considerado o resultado de um contexto mais amplo que envolvia novos protagonistas sociais. 

“Interessados em monopolizar o aparelho do Estado, os grupos progressistas deram acolhida às ideias mais avançadas: a abolição, a reforma eleitoral, a federação e, finalmente, a república. Ao lado do núcleo progressista das classes rurais, colocaram-se as classes médias, desejosas de participação política, igualmente favoráveis a mudanças de regime. A república resultou, assim, da aliança entre grupos ativos da classe média e representantes do setor mais dinâmico da classe senhorial. O exército, identificado com os interesses da classe média, realizou a mudança do regime que deixara de atender às necessidades de parcelas importantes da sociedade. [...]” 

COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. São Paulo: Editora Unesp, 1999. p. 451-459.


Alegoria à proclamação da república e à partida da família imperial, pintura anônima do final do século XIX.

Museu da República

Disponível em https://museudarepublica.museus.gov.br/ . Acesso em 12 jan. 2023.

Construído no Rio de Janeiro no século XIX, o Palácio do Catete foi sede do poder republicano do Brasil entre 1896 e 1960. Tombado como patrimônio histórico e transformado no Museu da República, o palácio abriga o mobiliário do período republicano, assim como documentos, fotografias e livros.

No site é possível conhecer a história do museu, acessar publicações e acervos, além de realizar uma visita virtual pelo interior do edifício.


Museu da República


Exercício de fixação - Copie as perguntas no caderno e pesquise as respostas no texto acima.

Para Revisar

https://www.youtube.com/watch?v=ZaOXlYkNvOQ

Avaliação de aprendizado

https://forms.gle/v9iARNoYKbW5pkNa6

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